Texto da secção INICIATIVAS de 21/04/2018
Banda desenhada
João Miguel Lameiras
O regresso de Dylan Dog
* Colecção Bonelli — Vol 3
*Dylan Dog – A Saga de Johnny Freak
* Argumento – Mauro Marcheselli e Tiziano Sclavi
* Desenhos – Andrea Venturi e Giampiero Casertano
* Quinta-feira, 26 de Abril
*Por + 10,90€
Depois de ser uma das personagens presentes na série de 2017 da colecção Novela Gráfica, com Mater Morbi, uma história recente assinada por Roberto Rechionni e Massimo Carnevale, Dylan Dog, o detective do pesadelo criado por TizianoSclavi, não podia faltar na colecção dedicada à editora italiana de que é um dos principais símbolos. Para a estreia de Dylan Dog nesta colecção que também vai encerrar, a opção recaiu em Johnny Freak, uma história clássica, onde não falta o dedo do seu criador, Tiziano Sclavi.
Invariavelmente presente na lista das melhores histórias de Dylan Dog de todos os tempos, Johnny Freak foi publicado originalmente em 1993, no número 81 da revista mensal do detective do pesadelo. Contrariamente ao que era habitual nesta época, em que Tiziano Sclavi costumava lançar a ideia-base para a história, que depois era desenvolvida por outros escritores, no caso de Johnny Freak, o processo foi o inverso. A ideia partiu do editor Mauro Marcheselli e coube a Sclavi desenvolver o argumento e os diálogos.
Mas essa não é a única particularidade desta história, onde, por uma vez, os elementos fantásticos estão praticamente ausentes e os horrores sobrenaturais dão lugar a um horror bem real. O drama de uma criança muda e desprezada, a quem são removidas cirurgicamente as pernas, um rim e um pulmão. Inspirada por um artigo sobre tráfico de órgãos humanos no Brasil que Marcheselli tinha lido numa revista, esta história de ficção teria confirmação na realidade mais de uma década depois, em 2005, com o célebre caso de James Whitaker, que foi gerado e nasceu expressamente com o objectivo de ser dador de medula para o seu irmão Charlie, afectado por uma doença degenerativa mortal.
Numa das raras entrevistas que deu, Sclavi, quando lhe perguntaram se se identificava com DylanDog, respondeu: “Nem com Dylan, nem com Groucho. Eu sou os monstros.” E essa identificação é bem evidente nesta história, em que o verdadeiro mal se esconde nas pessoas de boa aparência e o corpo deformado de Johnny alberga uma alma de artista e um coração de ouro. Tal como os leitores, que não conseguiram resistir à fragilidade e à ternura de Johnny, o próprio Sclavi também não resistiu a alterar o final mais duro imaginado por Marcheselli, criando um novo final que, segundo o próprio, “foi escrito enquanto as lágrimas caíam sobre o teclado do computador”.
Graficamente, Andrea Venturi, que pouco tempo depois trocaria Dylan Dog por Tex, como veremos no volume 6 desta colecção, faz um trabalho magnífico, de uma clareza narrativa ímpar, tão perfeito nas cenas de acção como na expressão das personagens, ou nos desenhos feitos por Johnny.
Mesmo que o fim da história original não deixasse grande espaço a continuações, os autores não resistiram ao desafio e em 1997, no número 127 da revista mensal, surge O Coração de Johnny, a tão esperada continuação de Johnny Freak, com Giampiero Casertano a substituir Andrea Venturi no desenho. O desafio de Casertano, que tinha de se aproximar graficamente do desenho de Venturi nas várias cenas de flash-back que enchem a história, sem abdicar do seu estilo próprio, não era fácil, mas ele cumpre-o com distinção, contribuindo também para a mitologia da série com o seu desenho do Cemitério dos Freaks, um espaço muito peculiar que irá ser cenário de futuras aventuras de Dylan Dog.
AGENDA
Quinta-feira, 26
Colecção Bonelli
3º volume Dylan Dog – A Saga de Johnny Freak
Primeira colecção editada em Portugal dedicada à BD italiana, reunindo oito das mais famosas personagens da Bonelli em dez volumes com histórias inéditas em português. Em exclusivo nos quiosques.
Copyright: © 2018 Público; João Miguel Lameiras
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Fabulosa estória. Perfeita em todos os sentidos.