“Patagónia” (da Polvo Editora) analisada por Rui Cunha

Por Rui Cunha

Rui Cunha e a edição portuguesa de Patagónia

Pouco passava das 17 horas do dia 9 de Maio de 2015, quando se fez história no Museu do Vinho, na Anadia: pela primeira vez na sua história, o Ranger Tex Willer, via ser apresentada e publicada uma das suas aventuras, numa edição totalmente traduzida em português e impressa em Portugal por uma editora portuguesa. Mas já lá vamos.

Em “Patagónia”, o Ranger Tex Willer viaja na companhia do seu filho, Kit, até à Patagónia, na Argentina, a pedido de Ricardo Mendoza, um seu amigo de há muito tempo, para participar numa missão de resgate de prisioneiros. A missão, que cedo assume também um carácter punitivo contra os ataques dos índios selvagens da Patagónia,  revelar-se-á perigosa para todos os envolvidos.

O argumento, muito bem escrito por Mauro Boselli, agarra-nos logo desde as primeiras páginas e conforme o leitor se vai ambientando mais na história, melhor esta vai ficando, muito também graças à arte de Pasquale Frisenda, cujo fantástico desenho ilustra, cada palavra, cada cena do argumento, de um modo tão intenso, tão real, que é como se o leitor fosse parte integrante da acção.

Patagónia” não é apenas mais uma aventura de Tex, é talvez a sua melhor aventura em muitos anos. O facto de mudar o cenário, das imensas pradarias do Oeste que o Ranger percorreu em mais de 60 anos de aventuras, para as planícies da Argentina, misteriosas e perigosas, confere à história uma originalidade que há algum tempo não se via nas aventuras de Tex. Todo um trabalho intenso de pesquisa histórica, está presente ao longo de toda a obra, surge-nos perante cada imagem, cada linha do argumento e existe também um grande sentido épico nas diversas cenas de batalha, superiormente estudadas e excepcionalmente desenhadas (cito, como exemplo, a primeira batalha nas páginas 11-16, cujos desenhos parecem  imagens de um filme, editados como tal!) como se de um western épico se tratasse. O único senão, a nível do argumento é, tal como tem acontecido nas últimas aventuras, Jack Tigre e Kit Carson, outrora presenças habituais e companheiros de aventura de Tex, sejam ignorados em prol de um protagonismo maior de Kit Willer. Acho que a sua presença nesta aventura seria muitíssimo bem vinda e saudada pelos inúmeros fãs que o Ranger tem espalhados por esse mundo fora.

Rui Cunha e a aprazível leitura de Patagónia

Mas, como tudo na vida, não existe bela sem senão.
Patagónia” foi apresentado e lançado, no dia 9 de Maio de 2015, durante a 2ª Mostra do Clube Tex Portugal, na presença do desenhador Pasquale Frisenda,  sob a chancela da Editora Polvo e com a presença de Rui Brito, o seu mais alto responsável.

Sobre a edição em si, nada tenho a dizer, a não ser que se tratou de um grande momento na BD portuguesa, uma editora arriscar uma edição luxuosa como esta, num mercado difícil como o mercado português; uma personagem pouco conhecida em Portugal (apesar de as edições brasileiras das aventuras de Tex, tenham, num primeiro momento, chegado a Portugal há alguns anos, depois, inexplicavelmente, tenham sido interrompidas e por fim, com alguma, pouca, irregularidade, tenham recomeçado a chegar, se calhar com alguma insistência por parte do Clube Tex Portugal e da sua direcção, o que, pessoalmente, muito me agrada); também pelo número de páginas (felizmente reunidas num só volume!), o próprio formato e qualidade da edição, considero que “Patagónia” é, à partida, uma aposta ganha por todos os envolvidos, a começar na editora Polvo, em Rui Brito, no Clube Tex Portugal  e, finalmente,  nos admiradores da personagem (nos quais me incluo, com muita honra!). Espero que “Patagónia” não se torne num filho único.

Patagónia da Polvo Editora

O senão a que me referi no início deste  período, prende-se com o facto de, ao longo da obra, surgirem termos vindos directamente do léxico brasileiro, o que, na minha opinião, deveria ter sido evitado, já que “Patagónia” me foi apresentada como sendo uma edição totalmente em português.  Sendo eu já  um leitor e coleccionador antigo das aventuras do Ranger, encontrei muitas palavras em “Patagónia” que já vi em muitas outras edições brasileiras, o que é uma pena.

Seja como for, dou os meus parabéns ao José Carlos Francisco, não só pelo incansável trabalho de organizar e promover iniciativas como estas, como também pela tradução de toda a obra e ainda ter tido tempo para escrever o excelente prefácio de “Patagónia”.

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

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