Tex 573 – “Terre maledette” de Julho de 2008 e Tex 574 – “Tornado!” de Agosto de 2008.
Argumento de Mauro Boselli, desenhos de Alfonso Font e capas de Claudio Villa. História inédita no Brasil e Portugal.
Quando em determinada passagem desta aventura Tex diz que é mais fácil do que se pensa um homem da lei tornar-se num criminoso, muitas vezes pelas próprias circunstâncias da vida, está a dar o mote para uma das melhores aventuras escritas por Boselli.
No Oklahoma, nas desoladoras “Indian Plains”, o vento é forte e a tempestade iminente.
Tex está a caminho de Amarillo para se encontrar com Carson, mas vai ser testemunha de uma perseguição a Steve Lyman, um jovem advogado que é possuidor de documentos comprometedores para Ben Lowe, um homem de peso em Amarillo. Lowe colocou a cabeça de Lyman a prémio e são muitos os que perseguem o advogado com o intuito de o liquidar e receberem o dinheiro.
Tex consegue salvar Lyman dos homens do sinistro Jim Bennet acabando ambos por encontrarem os Simms, uma família de rancheiros que, juntamente com o seu amigo Hank, estão também a caminho de Amarillo. Em breve, gera-se uma tenaz perseguição, mas a aparição da mãe natureza misturará os dados do jogo.
Não nos cansamos de referir que uma das qualidades de Boselli, para além da sua notável apetência para construir e desenvolver personagens espessas, reside na força da sua narração, muitas vezes fugindo aos cânones clássicos para se refugiar num modo mais hábil, sem deixar de ser eficaz, de ir apresentando a sua história. Desta vez, tudo começa com alguns dados já lançados, a perseguição ao jovem advogado já começara, a família Simms e Hank preparavam-se para deixar a sua casa a caminho de Amarillo, enquanto Tex se questionava do melhor caminho a seguir. No meio de tudo, o vento insistente, a chuva incessante e a tempestade iminente.
O leitor entra como que a meio da história, mas percebendo tudo de uma penada, interiorizando a psicologia das personagens, o que as move e onde tudo se prepara para acontecer. Tudo se desenrolará num meio hostil, onde a força da mãe natureza assumirá um protagonismo quase sempre presente e fundamental na descoberta e na separação do verdadeiro carácter de algumas personagens.
Porque se Tex começa por dizer logo no início da aventura que o caminho mais curto é sempre o melhor, as circunstâncias da vida acabam por provar precisamente o contrário. Jim Bennet foi um homem da lei que se colocou do outro lado da barricada. Por outro lado, Hank fez o percurso inverso e é a força do tornado numa terra maldita que vai levantar o véu sobre o que motivou ambos numa conduta cujo percurso mais curto, saltar para o outro lado da barricada, não foi necessariamente o melhor.
Alfonso Font tem aqui o seu melhor trabalho de sempre na série. Esta afirmação vale o que vale, mas a verdade é que muita da qualidade da aventura também passa pelo desenho deste extraordinário autor espanhol, cada vez mais à vontade no universo texiano. O seu traço consegue compor personagens de uma espessura notável, os seus enquadramentos nunca são estanques, assumindo sempre um dinamismo de grande qualidade.
As suas cenas de acção tornam-se autênticas realidades, enquanto que aquelas onde a mãe natureza assume o seu protagonismo são de espanto. Através de pequenos traços que se vão cruzando, no que é uma imagem de marca do autor, Font compõe páginas intensas de realismo e de força, retratando a contento a atmosfera da aventura. No meio de tudo, um Tex pujante e ticciano, moldado ao traço de Font e de grande qualidade.
Em suma, eis uma notável aventura, daquelas que nos fazem sentir a paixão pela personagem.
Texto de Mário João Marques
Uma das melhores que já li. O Font chega à genialidade nesta história.