Caros amigos,
Continuando o elenco dos novos futuros ilustradores do nosso Tex, temos uma certa relutância em definir como “novo” um autor que já faz parte da história da banda desenhada italiana nos últimos quarenta anos.
Por um estranho acaso, na mais completa revista italiana não profissional que se ocupa da banda desenhada, Ink, o director editorial Paolo Telloli dedica-lhe uma longa e documentada entrevista que começa precisamente assim: “Presente na banda desenhada desde 1970, Franco Devescovi é um dos mais válidos desenhadores italianos. Procurado por diversas editoras italianas, passou por diversos géneros produzindo sempre pranchas de elevada qualidade. Depois de um parêntese de alguns anos dedicados à pintura retornou à banda desenhada e nestes últimos tempos está dedicando-se a Tex…”. Em suma, como agora viram, uma vez mais, para encontrar um ulterior “lápis” para juntar à já aguerrida esteira de prossecutores de Aurelio Galleppini, Sergio Bonelli não precisou atravessar os Alpes ou o Oceano, mas sim estar atento a um gabinete situado ao lado do seu.
Desde há dezassete anos, com efeito, na secretária “habitada” por Alfredo Castelli pousam as páginas de Martin Mystère realizadas por Devescovi. O seu clássico preto & branco tinha despertado a atenção de Sergio Bonelli, desde os tempos em que havia visto os seus primeiros trabalhos realizados para o “Intrepido”, um semanário publicado pela editora Universo, que, por decénios, constituiu o chefe de fila do mercado editorial italiano no quesito da banda desenhada. Atento e paciente como era no início da sua vida profissional, Sergio Bonelli, seguiu com curiosidade a passagem de Devescovi a um outro baluarte histórico do mercado editorial italiano, como era o Corriere dei Ragazzi que naquela época, podia gabar-se de apresentar nas suas páginas os maiores desenhadores italianos, de Dino Battaglia a Mario Uggeri, de Sergio Toppi a Ferdinando Tacconi, de Aldo Di Gennaro a Hugo Pratt.
E seguiu também em 1976, quando Devescovi (de quem vêm no início deste texto um auto-retrato) retornou à editora Universo, desenhando por anos personagens como Billy Bis, Cristal, Comissário Norton e Black Rider. Dado que as vias dos quadradinhos não são infinitas – e antes ou depois todos os profissionais desta área acabam por se encontrar um dia – em 1990 apresentou-se a ocasião de Sergio Bonelli convidá-lo para fazer parte do grupo de autores da Via Buonarroti.
Uma trintena de álbuns de Martin Mystère, três de Zagor e um de Mister No representam uma espécie de “exame” antes que decidissem, de comum acordo, de enfrentar a empenhada prova constituída pelo mundo do Tex (a este propósito, mostramos aqui ao lado uma pequena prova do seu trabalho). Por ser um veterano profissional, Franco Devescovi levou muito a sério o novo desafio. Tanto é verdade, que sempre roubando aos colegas da Ink algumas declarações da entrevista já citada, disse: “Por agora devo pensar somente em Tex. Devo empenhar-me completamente e tornar o meu traço mais rápido. As histórias western sempre me deram muito prazer, mas depois de tantos anos desenhando ambientações modernas, acabei tornando-me lento, estou um pouco enferrujado. Devo encontrar a mão e a rapidez dos tempos de Black Rider”.
Estas palavras demonstram o grande profissionalismo do desenhador triestino, que esperamos, se afeiçoe a Tex Willer, como já sucedeu no passado com o herói de Castelli, no confronto dos quais deixou também à revista Ink um verdadeiro e próprio tributo de amor: “Amei sinceramente o Bom e Velho tio Marty e o amo ainda. Creio, ou melhor, foi a única personagem, entre tantas em que eu meti as mãos, que suscitou em mim um tal sentimento”.
Texto de José Carlos Francisco, baseado na rubrica “Caro Tex…”, de Sergio Bonelli, inserida em Tex Nuova Ristampa nº 183 de 15 de Maio de 2007.