As Leituras do Pedro*
Tex #636/#1 Flechas mortais
Tex #637/#2 Vingança vermelha
Histórias originalmente publicadas em Tex #736 e #737 (SBE, Itália, 2021)
Pasquale Ruju (argumento)
Giuseppe Prisco (desenho)
Tex Bis #636/#1 Agente dos Navajos
História originalmente publicada em Tex #729 bis (SBE, Itália, 2021)
Mauro Boselli (argumento)
Maurizio Dotti (desenho)
Mythos Editora
Brasil, Outubro e Novembro de 2022
160 x 210 mm, 112 p., pb, capa cartão
R$ 29,90
História, histórias
Para (leitores) coleccionadores – para aqueles que em determinado momento das suas vidas, geralmente n(o final d)a infância e adolescência (e por aí fora), colecciona(ra)m revistas de banda desenhada – há momentos – editoriais – que fazem História e poder acompanhá-los – mesmo que a alguma distância temporal (na verdade isto aconteceu há meses…) – proporciona experiências que são inexplicáveis para quem nunca as vivenciou.
É o que acontece – duplamente – com estas edições de Tex que hoje aqui trago – primeiras de muitas, desejam os seguidores do ranger.
[Em termos pessoais, posso referir como mais marcante a mudança de formato do Mundo de Aventuras na transição do #53 para o #54 da chamada quinta série, e a aposta inerente na produção franco-belga, responsável em boa parte pelo leitor que hoje sou.]
História
O Tex #636 ficará para sempre na História da edição do ranger no Brasil pela mudança de formato, do velho (de mais de 40 anos) formatinho (135 x 180 mm) para o tamanho (dito) Bonelli (160 x 210 mm). Podendo parecer algo de somenos para alguns, representa na verdade um aumento da área de página de quase 40 %, o que permite uma maior legibilidade e desfrutar em pleno da arte (acima da média) que as edições Bonelli sempre propõem.
Há alguns meses que a Mythos possibilitava aos interessados a compra neste tamanho, através do sistema print on demand, mas o encerramento da maioria das bancas e a necessidade de uma maior aposta na venda online e em livraria forçou o fim do formatinho. O preço, obviamente, sofreu o necessário ajuste – de R$ 19,90 para R$ 29,90… – e, acreditando que haverá sempre descontentes, penso que a maioria estará satisfeita.
A par da mudança física, houve igualmente um reinício – mesmo que tímido – da numeração (embora mantendo a anterior, iniciada em 1970!), no duplo compromisso possível com leitores tradicionais e com aqueles que o novo formato venha conquistar – e que se deseja sejam bastantes – nesta edição que hoje trago. Como extra, a troca definitiva – espera-se – do papel (de jornal…) de menor qualidade, por outro de maior gramagem e brancura.
Histórias
A história seleccionada pela Mythos para a mudança, coloca Tex e Carson frente a um grupo de índios renegados e assassinos, tendo a seu lado um velho chefe. História dura e violenta de vingança impiedosa e incontornável, ao longo das suas mais de duas centenas de páginas (as das edições #636 e #637) vai apresentando algumas surpresas e uma ou outra variação na orientação do relato, merecendo destaque – pela auto-determinação e tomada de decisões inesperadas – a figura do jovem Kimy, pouco habitual nas histórias do ranger, devido ao modo como mantém e assume até ao fim a diferença e o direito a pensar pela sua cabeça.
História outra vez
Para além da mudança de formato, a par deste Tex #636 houve outro acontecimento histórico, o lançamento de uma edição especial ‘bis’. Edição especial no seio da linha cronológica tradicional, demarca-se daquela por apresentar uma história completa. Foi, por isso, História em Itália, aquando da sua publicação; seguiu-lhe o exemplo o Brasil.
Histórias novamente
Para o número especial, uma história especial: um mergulho na história do ranger, para ficar a conhecer como se tornou o agente indígena do território navajo, com Mauro Boselli e Maurizio Dotti a proporem uma narrativa com acção a rodos, dentro da linha tradicional da personagem, com a curiosidade do fundo histórico, da invulgar participação de um Kit Willer ainda adolescente, do desenterrar de mais um figurante do passado do ranger, tornado co-protagonista, e da denúncia das tácticas cruéis e desumanas utilizadas pelo exército, em vigor então, como hoje, como em tantas outras épocas.
Nota final
Depois de ler Tex no ‘seu’ tamanho real, a leitura em formatinho nunca mais saberá ao mesma. E eu ainda tenho alguns pendentes, pois dei um ‘salto cronológico’ para chegar mais depressa a estes…
* Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro
(capas e páginas brasileiras disponibilizadas pela Mythos Editora; clicar nas imagens para as apreciar em toda a sua extensão)