Por G. G. Carsan*.
Quando Tex passa os surdos ouvem, os cegos vêem. As pessoas que estão perto param para ver e informam a estes deficientes que têm ao alcance dos olhos ou em mãos, algo valioso. Tex não é um Jesus, mas é muito importante para a sua gente e para os contemporâneos. Por isso causa reboliço, curiosidade e emoção.
“Por que será que ele gosta tanto desse Tex? Às vezes penso que gosta mais da revista do que de mim. Ah, mas ele diverte-se, fica feliz e isso é que vale”. Será esse o pensamento de quem tem um texiano por perto? Será que já passou esse quadro nas vidas de Armindo, texiano de longa data e sua filha adolescente Tailine, que somente há poucos meses iniciou na leitura do Ranger mais temido pelos bandidos do Velho Oeste?
O leitor viciado em Tex é especial, diferente. Segundo relatos, alguns só lêem as aventuras quando estão completas (no caso do Tex mensal, em duas, três, quatro revistas) e, por conseguinte, denomino-lhes de ‘controlados’. Outros como Eu leio tão logo chego em casa, e só não leio no trajecto porque não tenho condições e, ler em veicúlo de transporte, quando foi o caso, causou-me tontura e dor de cabeça. Sou um ansioso por Tex. Há os que lêem e relêem várias vezes, principalmente quem tem mais tempo livre. Ouvi relatos de texianos que separam uma pilha de revistas Tex contendo 10 revistas e deitam num sofá ou rede e seguem lendo, com poucas paradas para atender alguém que chama ou ir ao banheiro ou geladeira. Esse é insaciável.
Segundo alguns texianos que conversei sobre colocar os filhos no caminho da leitura de Tex, é difícil fazer os filhos gostarem do seu ‘hobby’. Muitos filhos torcem o beiço para a colecção do Pai ou da Mãe. É normal, natural. Dois irmãos geralmente agem e pensam diferentemente porque cada um quer ocupar um lugar só seu. O mesmo ocorre em relação ao Pai, sendo que nesse caso, surge o empecilho da idade, geração, de modo que se meu pai gosta disso, eu sendo jovem, preciso gostar de algo mais novo, o que ele gosta é lixo pra mim. O que os meus amigos vão dizer?
Na relação entre amigos é comum haver grupos com ideias análogas e grupos com ideias divergentes, sendo que sempre um membro desses se vê no lugar errado e acaba por ir de encontro a essas ideias, caindo fora ou confrontando-as. Por isso o Mundo é tão multiverso. Então há os texianos, os que nunca serão texianos, os que gostam de revista que não seja do Tex.
De sorte que a maioria que lê Tex logo se identifica e apaixona pela personagem, pelo modelo da revista, ‘com enredos maravilhosos, personagens apaixonantes, desenhos inesquecíveis’ (Tex no Brasil 2). A curiosidade criada em torno do Mundo de Tex é um factor agregador, que praticamente impõe ao novo leitor que continue, pois tem muito a descortinar, a investigar, a descobrir.
Ler Tex não é um divertimento solitário e finito. É muito diferente. Em pouco tempo vemo-nos cercados por tribos inteiras de índios que nem sonhávamos; por homens de carácter que nunca imaginamos que pudessem existir em forma e conteúdo; com lugares que serão nossos sonhos de roteiros, só que turísticos. E aprendemos lenta e constantemente os conceitos mais contundentes de amizade, de solidariedade, de justiça, de conduta, de luta, de amor à causa. Tex trata todos os conceitos de forma absoluta, sem margens para a dúvida e engodo.
Por serem gaúchos, celeiro texiano, próximos de Getúlio Vargas e Erechim, certamente onde tem muitos outros coleccionadores, estarão, tomara, por força das circunstâncias, encontrando-se com pessoas que apreciam o mesmo tipo de paixão pelos quadradinhos, sempre tendo em mente que, até prova em contrário, “Todo Texiano é uma boa pessoa”.
Por isso que ao conhecer Armindo e Tailine, surgiu a ideia de uma entrevista com os dois, simultânea, onde fosse possível entender a sinergia entre eles, que contemporaneamente estão afinados na mesma sintonia das BDs em torno de Tex. Foi preciso acontecer uma história capaz de chamar a atenção e prender a jovem, o pai dela precisou esperar a ocasião propícia e graças a Manitu um dia apareceu. Esse estopim denominado Na Trilha das Recordações levou a jovem Tailine a partir em busca de outras aventuras que vão do Tigre Negro a Kid Rodelo. E aí pergunto se alguém tem dúvidas que Tailine vai passar a limpo todas as colecções que tem ao seu alcance.
Para nós, texianos antigos e expostos, cada vez que descobrimos novos texianos, comparamos à façanha de Colombo ao chegar na América, um novo Mundo… e com todo o respeito à comparação, realmente, mas realmente, representa muito para nós e confirma, contundentemente, que Tex é mesmo sem fronteiras e sempre nos proporciona novas e grandes emoções.
ENTREVISTA
1 – Caros Armindo e Tailine, falem um pouco de vocês. Onde e quando nasceram, o que fazem, como é composta a vossa família?
Tailine – Meu Pai nasceu em Erechim-Rio Grande do Sul, no ano de 1972 e eu nasci em Sertão no de 2000. Moramos em Erebango – Rio Grande do Sul. Meu pai é funcionário público. Estudo na oitava série e trabalho em casa montando peças de luminárias para uma empresa de uma cidade vizinha. Minha família é composta por três membros: eu, meu Pai e minha Mãe. A minha mãe não lê Tex, mas não reclama de nós gastarmos dinheiro com isso.
2 – Quando nasceu o interesse de cada um pelos quadradinhos?
Armindo – Comecei a ler quando menino, lendo Tex de Amigos.
Tailine – Comecei por incentivo do meu Pai, há alguns meses.
3 – Quando descobriu Tex?
Armindo – Quando vi alguns amigos lendo.
4 – Quando a Tailine começou a ler Tex, qual a primeira lida? O que motivou?
Tailine – Na Trilha das Recordações, foi a vontade de saber mais da Personagem.
5 – O Senhor incentivou a sua filha a ler Tex durante quantos anos sem sucesso?
Armindo – Por cerca de 4 anos ou mais.
6 – Sr. Armindo, seus amigos sabem que colecciona Tex? Tinha ou tem vergonha de dizer aos amigos que lê Tex? Como funciona essa parte?
Armindo – Alguns amigos sabem que leio Tex. Não me envergonho disso.
7 – Porquê esta paixão por Tex? O que tem Tex de diferente de tantos outros heróis dos quadradinhos?
Armindo – Porque gostar de Tex vem desde a minha infância, é a originalidade das histórias.
8 – Qual o tipo de aventura que vocês gostam mais?
Armindo – São as aventuras na Reserva ,quando Tex veste-se como seus irmãos Navajos .
Tailine – Das aventuras do Tigre Negro.
9 – Qual o pard, amigo e inimigo que você mais gosta de ver numa aventura?
Armindo – Meu pard favorito é Jack Tigre, e o inimigo favorito é quando ele encontra um outro representante da Lei e surge algum desentendimento entra eles … Aí é chumbo pra todo lado.
Tailine – Meu pard favorito é Kit Carson. Os inimigos favoritos são Kid Rodello e Durango.
10 – Você interage com internautas texianos? Conhece os sites sobre Tex? Participa de algum grupo. O que tem a dizer sobre isso?
Armindo – Não. Não, mas já ouvi alguma coisa sobre o Portal Tex BR. Não participo. Eu gosto mesmo é de ler Tex.
Tailine – Sim com alguns. Sim conheço vários. Sim, acho interessante porque aproxima leitores de vários lugares diferentes.
11 – Qual o total de revistas de Tex que você tem na sua colecção? E qual a mais importante para si? Vocês costumam reler aventuras antigas?
Armindo – Não sabemos ao certo mas aproxima-se de mil exemplares. Para mim a história que mais me marcou foi o confronto de Tex e Cão Amarelo com seus Utes em que Tex corta a longa cabeleira de Cão Amarelo desonrando-o diante de seus guerreiros.
Tailine – Na Trilha das Recordações porque foi a primeira que li. Sim, lemos histórias antigas para relembrar algumas coisas boas.
12 – Quais as colecções de Tex que vocês estão acompanhando?
Armindo – São Tex em Cores,Tex Coleção, Tex Mensal , Grandes Clássicos do Tex, Tex Gigante, Tex Almanaque e as edições especiais coloridas.
13 – Coleccionam algum outro herói? Quais? Quanto tempo? Quantas revistas têm? Se sim, falem um pouco sobre isso.
Armindo – Não coleccionamos outros, somente Tex.
14 – Além das revistas, que outros itens relacionados a Tex vocês têm? Actualmente existem livros, chaveiros, pósters, estatuetas, álbuns de cromos, clube. Estão adquirindo?
Armindo – Além das revistas temos o Filme de Tex e alguns Pósters.
15 – Existe algum sonho relacionado a Tex? Ex: escrever, desenhar, conhecer um artista, completar a colecção, conhecer um coleccionador tal, visitar a editora.
Armindo – Meu sonho é conseguir completar a minha Tex Coleção.
Tailine – Conhecer um artista e visitar a Editora.
16 – Vocês sabem como adquirir revistas antigas de Tex quando necessário? Conhecem os alfarrabistas da web? Já tiveram alguma experiência boa ou ruim comprando revistas online?
Armindo – Sim, procuramos em ‘Sebos’. Nunca tive problemas.
17 – Tem uma história favorita? Qual o escritor e qual o desenhador de Tex que mais aprecia?
Armindo – A história de Cão Amarelo e meu artista favorito é Giovanni Ticci, apesar da qualidade de seus desenhos terem caído muito nos últimos tempos, e meu escritor favorito é Nizzi.
Tailine – Na Trilha das Recordações, meu artista favorito é o Claudio Villa e meu escritor favorito é Nizzi.
18 – Como você adquire as suas revistas? Como lê? O que significa para você parar para ler um Tex?
Armindo – Compramos em bancas e em ‘sebos’ e lemos nas horas de folga. Não temos bancas na nossa cidade, mas compramos as revistas em uma livraria de uma cidade chamada Getúlio Vargas- Rio Grande do Sul. Porém, já perdemos alguns exemplares devido a isso. Ler Tex é tudo de bom, melhor até do que ver um filme.
19 – O que lhe agrada mais em Tex? Qual a sensação de ter uma revista Tex para ler? O que costuma aplicar no seu dia a dia que acha que foi aprendizado via Tex?
Armindo – Seu senso de justiça e acho que ler Tex ajudou-me a fazer as coisas sempre com senso de Justiça.
20 – Gostariam de encontrar-se com outros coleccionadores nos encontros que vem acontecendo pelo Brasil ?
Armindo – Não.
Tailine – Eu Gostaria.
21 – Para concluir, como vê o futuro do Ranger?
Armindo – Vemos o futuro de Tex com receio, pois os poucos leitores que conhecemos são pessoas de idade avançada e tememos que no futuro não haja uma nova geração que leia Tex e que o Ranger deixe de ser publicado.
Caros Armindo e Tailine, muito obrigado pela Entrevista. Foram muito amáveis e merecem todo o nosso respeito pelo facto de manterem esse hábito saudável em torno de Tex. Armindo, parabéns por conseguir que a Tailine leia Tex, e que ela continue firme, independente dos estudos, do rumo que a vida vai lhe impor. Espero que possam fazer novas e boas amizades texianas e que respondam aos comentários que acontecerão. Desejos muitas aventuras e deixo-lhes minhas cordiais Saudações Texianas.
* G.G.Carsan, 50 anos, paraibano, fã, coleccionador e divulgador, começou aos 7 anos a ler Tex e nunca mais parou. Realizou 8 exposições em João Pessoa, escreveu várias aventuras para Tex (algumas publicadas na Internet), palestras em vários Estados e plateias e dois livros sobre a personagem no Brasil.
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Parabéns amigos…
Pai e Filha dividindo a mesma paixão… não tema pelo futuro de Tex amigo… o sucesso da inovação “Tex de Autor” evidencia que ele ainda cavalga muito tempo… e aqui no Brasil a coisa tá rumando pra isso também. TGEC “sensação editorial”… e quando decidirem conhecer o Fã-Clube Tex Brasil… vamos estar por aqui pra lhes receber com aquele famoso “Quebra Costelas” bem Gaúcho!
Agora que vi a matéria publicada aqui no blog é que cai a ficha da importância da incumbência que me foi designada pelo Grande Espírito. Como é importante ver o pai e a filha lendo, ambos em sintonia. Não é isso que as pessoas mais procuram hoje em dia, recuperar os bons hábitos de antigamente? A família em sintonia! Melhor ainda que é uma leitura que nos é bastante aprazível.
E que beleza de coleção que Armindo e Tailine tem para se divertir.
Ótimas leituras e grandes aventuras pra vocês!
Parabéns aos dois, bom gosto em família. Tenho uma filha de cinco anos que já estou começando a mostrar histórias de TEX e ZAGOR a ela, na esperança que a mesma, no futuro, seja minha companheira de leitura. Abraços.