TEX (e José Carlos Francisco) no semanário Região Bairradina: 4 de Outubro de 2006

Texto do jornal semanário Região Bairradina, de 4 de Outubro de 2006
Por Constantino Ferreira

“Tex é para mim um irmão mais velho e um amigo”

TEX no semanário Região BairradinaSe é daqueles que nunca ouviu falar no Tex, esta é a verdadeira oportunidade de conhecer a personagem. Basta perguntar a José Francisco, 38 anos, residente na Malaposta, Anadia, um dos maiores coleccionadores mundiais de tudo o que tenha a ver com este cow-boy de Banda Desenhada. Desde a colecção completa de livros a um maço de cigarros “pirata”, não há nada que este coleccionador não possua. Conheça agora a história de uma paixão inusitada que começou há 26 anos…

* À conversa com… José Francisco, coleccionador de livros e objectos de Tex

Região Bairradina: Quando é que teve início esta paixão pela Banda Desenhada, em especial pelo Tex?
José Francisco: Desde que me conheço por gente, sempre tive um enorme fascínio pela Banda Desenhada. Nasci praticamente no meio dela, em virtude da minha mãe ter uma livraria em Lourenço Marques (actual Maputo – Moçambique). No entanto, a paixão por Tex nasceu de um modo inesperado e foi o típico caso de amor à primeira vista. Descobri o cowboy já em Portugal, em 1980, quando os meus avós foram morar para uma quinta em Vila Nogueira de Azeitão. Durante as limpezas descobri uma caixa com muitas revistas de BD, entre elas um exemplar de Tex, mas uma edição especial: Tex 94 – “Pacto de Sangue”, que retrata a aventura do casamento do Tex. No mesmo dia, fui a um quiosque e comprei o número que estava nas bancas (114). A partir daí, fui comprando as edições que iam saindo e correndo alfarrabistas e feiras de livros ou antiguidades em busca das edições perdidas.

Colecção de José carlos Francisco - Foto 1RB: Porquê o Tex e não outra personagem?
JF: Porque quem lê Tex não consegue ficar indiferente ao ranger.  Fascina por ser uma personagem com carácter humanitário que luta sempre para fazer triunfar a justiça. Diferente dos heróis da época, Tex é um homem duro. É uma personagem destinada a um público mais maduro.  Tex é um justiceiro decidido, capaz de agir fora da lei, se a situação o exigir. Outro factor que contribuiu para a eleição é que Tex alia diversão e cultura. Foi com Tex que fiquei mais inteirado da cultura dos índios, da vida dos pioneiros, de episódios marcantes e reais na história dos Estados Unidos da América.

RB: O que representa para si esta personagem?
JF: Tex representa para mim o irmão mais velho, o grande companheiro e amigo, já que com ele fui consolidando valores como a honra, a honestidade e a integridade, já que Tex coloca a justiça acima da lei. Vivemos num mundo onde a violência predomina, repleto de injustiças e isso faz-nos ansiar por uma divindade capaz de acertar o passo da humanidade. E Tex Willer é a personificação procurada e que continua actual.

Colecção de José carlos Francisco - Foto 2RB: Como conseguiu obter a colecção completa?
JF: A vida dos coleccionadores portugueses de Tex sempre foi muito difícil porque os livros vêm do outro lado do Oceano, mais precisamente do Brasil. Isto porque Tex apesar de estar presente no nosso país há 35 anos com o selo de editoras brasileiras, só em Agosto de 2005 teve uma edição especial totalmente produzida em Portugal. As revistas chegavam a Portugal sempre com 6 a 9 meses de atraso e algumas em mau estado de conservação. O pior é que às vezes “esqueciam-se” de enviar alguns números para cá. Apesar de todos os obstáculos, consegui completar a colecção brasileira há cerca de cinco anos, adquirindo o exemplar que me faltava, o número 1. A partir daí, foi só adquirir os exemplares que vão saindo mês a mês, totalizando no momento 443 números.

RB: Quantos exemplares tem neste momento?
JF: Vinte e seis anos depois do primeiro Tex, a colecção já cresceu para perto de 2.000 exemplares, destacando-se cerca de 850 edições brasileiras e 800 italianas. Este número deve-se a um festival de edições especiais extras e novas séries de Tex que têm surgido nos últimos anos. A tudo isto acrescente-se mais de uma centena de livros oriundos de outros 18 países.

Colecção de José carlos Francisco - Foto 3RB: Colecciona apenas livros ou tudo o que diga respeita à personagem?
JF: O que começou por ser apenas uma colecção de BD, passou a ser uma colecção de todo e qualquer objecto que tenha a ver com a personagem. Para além dos livros, possuo pranchas e desenhos originais, posters, camisolas, puzzles, o filme “Tex e O Senhor dos Abismos”, postais, selos, marcadores de páginas, pins, bottons, porta-chaves, tapetes de rato, catálogos, cromos, pinturas, bonecos, estatuetas e mais alguns outros objectos inusitados como por exemplo um cardápio de Tex.

RB: Tem algum objecto raro?
JF: Entre os objectos mais raros e únicos, destaco uma página original autografada do mais conceituado, na actualidade, desenhador de Tex, o Claudio Villa, um desenho inédito do desenhador Raffaele Carlo Marcello e uma caneta de nanquim autografada, com a qual Marcos Maldonado legendou, durante décadas, muitas edições brasileiras de Tex!
Colecção de José carlos Francisco - Foto 4Não posso também deixar de citar um maço de cigarros “pirata”, que se tornou um item raríssimo, já que os maços que estavam à venda foram recolhidos e destruídos por ordem judicial, assim como selos emitidos há mais de dez anos, pelos correios italianos e de San Marino dedicados à personagem. Entre os livros mais raros, o exemplar brasileiro Júnior 61 (com a participação de Tex) de 1951, e o Tex finlandês nº 2, de 1964. Quanto a livros com grande valor sentimental, há um especial carinho pelo primeiro e para já único livro do Tex editado em Portugal, que contou com a minha colaboração a nível de tradução e textos.

RB: Há muitos apaixonados/coleccionadores do Tex em Portugal?
JF: Há um bom número de leitores/coleccionadores de Tex, como se comprova visitando websites, fóruns, grupos de discussão e blogues portugueses na Internet. Pessoalmente conheço cerca de uma centena.

Colecção de José carlos Francisco - Foto 5RB: Costuma encontrar-se com outros coleccionadores?
JF: É comum receber a visita de outros coleccionadores, inclusive do estrangeiro e vice-versa. E é maravilhoso descobrir como Tex cria fortes laços de amizade. Também costumo organizar encontros de Texianos, sempre acompanhados pela sua ementa predilecta: um bife de três dedos de altura, com uma montanha de batatas fritas!

RB: Sendo o maior coleccionador do Tex, alguma vez expôs a colecção em Portugal?
JF: Sim, por ocasião do 14º Salão Internacional de Banda Desenhada de Viseu, realizado de 1 a 15 de Outubro de 2005. Um dos destaques daquele Salão, foi a mostra “Tex – Cowboy e pistoleiro – Coleccionar a BD”, onde o público pôde apreciar um panorama impressionante de livros e peças da minha colecção, considerada uma das mais ricas no mundo, no que respeita à Banda Desenhada em Portugal.

TEX no semanário Região Bairradina - CapaRB: Gostaria de um dia expor os seus livros em Anadia?
JF: Seria com muito maior prazer que exporia na nossa cidade, desde que estivessem reunidas as condições de segurança apropriadas para o efeito.
No meu entender o mundo texiano é um mundo maravilhoso, que não olha a fronteiras e que decerto seriam apreciado pelas gentes do nosso concelho de Anadia.

Copyright: © 2006 Região Bairradina; Constantino Ferreira

(Para aproveitar a extensão completa das fotos acima, clique nas mesmas)

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