Integral da entrevista de Fabio Civitelli ao Jornal de Notícias de 28-05-2007

Entrevista conduzida por Pedro Cleto, com a colaboração de Gianni Petino e Júlio Schneider na tradução e revisão.

Fabio CivitelliQue lugar teve a BD, especialmente a BD “Bonelli” na sua infância?
Fabio Civitelli: No início dos anos Sessenta eu era um menino de sete, oito anos, e apaixonei-me pela BD, cuja leitura representava, na época, um dos meus passatempos preferidos. Por incrível que pareça o que mais me prendia era precisamente Tex, ao lado de quem eu lia Capitão Miki e Blek Macigno, ambos da EsseGesse. Ao crescer, abandonei esses dois, por achá-los muito infantis, enquanto a leitura de Tex continua até hoje!

Tem formação artística? Qual?
Fabio Civitelli: Eu não tive qualquer tipo de formação escolar específica: frequentei o Liceu Científico de Arezzo, mas cultivava diariamente a minha paixão pelo desenho. O meu sonho sempre foi tornar-me um desenhador profissional.

Como chegou a desenhador de BD? Por vocação ou por acaso?
Fabio Civitelli: Nos anos Setenta começaram a sair muitas revistas de BD de autor que eu lia com avidez, sempre a tentar assimilar as novas tendências da BD: graças a uma dessas eu entrei em contacto com Graziano Origa, o qual dirigia um conhecido estúdio de Milão. Origa foi o meu primeiro verdadeiro mestre e, graças a ele, já aos dezanove anos de idade pude começar a trabalhar, principalmente no sector de quadradinhos de bolso, eróticos e de terror. Estávamos em 1974 e somente depois de cinco anos consegui entrar para a editora Bonelli, com a qual começou uma belíssima colaboração que prossegue feliz até hoje.

Tex Willer por Fabio CivitelliDentro da BD, os fumetti da SBE foram sempre o seu objectivo ou teria preferido fazer “BD de autor” como Pratt, Battaglia, Toppi ou Manara?
Fabio Civitelli: Como eu disse, acompanhei muito a “BD de autor”, mas eu sempre me considerei um autor “popular”. Por sorte,  com os anos essa distinção decaiu, e fico muito feliz com isso, porque sempre que possível procurei levar a vontade de fazer experiências e de inovar na BD popular, que tem exigências maiores nos quesitos produtividade e pontualidade das entregas.

Os fumetti da SBE são uma forma menor de BD?
Fabio Civitelli: Hoje a Editora conta nos seus quadros com tantos talentos criativos que produz BD de qualidade extraordinária, e de géneros tão variados, em condições de contentar todos os gostos dos leitores actuais.

Há muita gente que os encare assim?
Fabio Civitelli: Como precisa opção editorial, a Bonelli sempre se preocupou em oferecer um produto de qualidade a um público o mais vasto possível, que só pode ser alcançado com a distribuição em quiosques, enquanto que a BD digamos “experimental” vive no mercado das lojas especializadas e conta com poucos milhares de leitores. De todo modo, são cada vez menos os que consideram a nossa como uma produção “menor”: por sorte hoje olha-se muito à substância das histórias que lemos, e o nível das edições Bonelli é sempre muito alto e, sobretudo, têm um custo absolutamente competitivo.

Tex por Fabio CivitelliTex foi uma escolha pessoal ou uma imposição?
Fabio Civitelli: O meu ingresso na equipa de Tex foi decidido por Sergio Bonelli em pessoa e, no início, eu senti-me um pouco receoso com o compromisso que isso comportava,  porque eu jamais havia desenhado quadradinhos de faroeste. Mas Tex é uma personagem que eu sempre amei como leitor e, ao adquirir aos poucos segurança e conhecimento do Oeste, apaixonei-me tanto que agora não tenho vontade de fazer outro trabalho.

Que ambições tinha/tem dentro da SBE e em especial em relação a Tex?
Fabio Civitelli: Mais que ambições eu falaria de objectivos: o de trabalhar sempre no melhor das minhas possibilidades para contentar primeiro o meu editor e depois as centenas de milhares dos nossos leitores, sempre muito atentos e exigentes.

O que lhe agrada mais em Tex?
Fabio Civitelli: O carácter forte, decidido, pouco disposto a acordos.

E o que menos lhe agrada?
Fabio Civitelli: O facto que hoje Tex é um pouco menos forte, menos decidido e mais disposto a acordos do que em outros tempos.

4 pards por Fabio CivitelliComo sentiu ter sido escolhido para desenhar a história comemorativa dos 60 anos de Tex?
Fabio Civitelli: Para mim foi uma grande honra: Sergio Bonelli disse-me considerá-lo um reconhecimento pelos vinte e três anos que até agora dediquei a Tex, e por isso estou a empenhar-me para realizar o melhor trabalho possível, sempre a aferir o desenho em função das cores que depois serão aplicadas.

Que estatuto têm em Itália os desenhadores da SBE em comparação, por exemplo com autores como os já citados Pratt, Battaglia, Toppi ou Manara?
Fabio Civitelli: Como eu disse, já não há mais preconceitos com desenhadores das séries populares: cada autor é julgado pelo que produz, e nós temos uma enorme plateia que pode julgar o nosso trabalho, e que é sempre muito benévola connosco.

Os seus originais pertencem-lhe ou pertencem à SBE?
Fabio Civitelli: Os originais são propriedade do autor, e lhe são restituídos depois da publicação. Recentemente algumas das minhas páginas foram colocadas à venda por Sergio Pignatone, titular da Editora e Casa de Leilões “Little Nemo” de Turim, a quem pode-se dirigir quem desejar adquirir um desenho original de minha autoria (www.littlenemo.it). O mesmo Pignatone publicou uma monografia a meu respeito intitulada “Il West Secondo Civitelli” (”O Oeste Segundo Civitelli“) que reporta toda a minha carreira e também apresenta obras inéditas.

Tex e Dinamite por Fabio CivitelliTem liberdade para os expor quando deseja?
Fabio Civitelli: A Sergio Bonelli Editore não somente permite a exposição das páginas dos vários autores como frequentemente colabora com os organizadores dos vários Festivais, certa de que essas iniciativas só podem fazer bem ao mundo da BD.

Em Itália há muitos Festivais dedicados aos fumetti da SBE?
Fabio Civitelli: A Editora participa na primeira pessoa nas mais importantes “mostras” italianas, com exposição de páginas e apresentações de autores. E praticamente em todos os anos acontecem exposições temáticas sobre várias personagens.

Que expectativas tem quanto ao Salão de BD de Moura?
Fabio Civitelli: Em Moura certamente encontrarei muitos leitores aficionados e atentos, capitaneados pelo mítico José Carlos Pereira Francisco, aos quais mostrarei com prazer os meus últimos trabalhos ainda inéditos, incluídas as primeiras 35 páginas da história especial dos 60 anos de Tex, e dos quais espero críticas, conselhos e sugestões.

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