Todos os números de Fabio Civitelli nos seus 40 anos de carreira bonelliana

Por Saverio Ceri

Tex Willer na arte de Fabio Civitelli

Em Outubro festejou-se os 40 anos de carreira bonelliana do grande Fabio Civitelli, um dos pilares de Tex; e nós vamos homenageá-lo através dos números; como sempre então… daremos os números; todos os números da sua extraordinária colaboração com a Sergio Bonelli Editore. A mesma editora da via Buonarroti que no início do ano passado, de alguma forma antecipou o aniversário ao dedicar-lhe um merecido Art book. O desenhador aretino apareceu pela primeira vez nos quiosques italianos com uma edição Bonelli mais ou menos a meio do número 65 de Mister No, I mercenari, no início de Outubro de 1980.

Outubro de 1980 – O primeiro volume bonelliano desenhado por Civitelli – Capa de Gallieno Ferri

Capa da primeira edição de Lady Dust desenhada por Fabio Civitelli

Civitelli, então com 25 anos, já tinha feito a sua estreia no mundo da banda desenhada em 1974 com a série para adultos Lady Lust; fizera-o ao serviço do Estúdio Origa, por pelo menos meia dúzia de anos entre livretos eróticos e super-heróis Marvel, feitos na Itália para a série SuperGulp!, na onda do sucesso do homónimo programa televisivo. No seu período pré-bonelliano não faltaram colaborações com praticamente todas as revistas semanais da época, de Bliz Corrier Boy, passando por l’Intrepido e il Monello. Foi nessa conjuntura que começou a assinar os seus trabalhos, preferencialmente, com o pseudónimo Pablo de Almaviva. Foi precisamente com esse nome que Sergio Bonelli em 1977 o apreciava nas edições da concorrência e tentou contratá-lo, sem sorte. O mesmo Civitelli conta, na longa  entrevista publicada no art book bonelliano de 2019, que foi graças à ajuda do desenhador Fernando Fusco que teve a oportunidade de conhecer o editor de Tex, um par de anos depois, na redacção. Sergio Bonelli não demorou a reconhecer o traço do misterioso e inalcançável Pablo naquele de Fabio e no mesmo dia do encontro o recrutou confiando-lhe uma história de Mister No. 

O primeiro dos trinta e três (até hoje), trabalhos bonellianos de Civitelli foi uma história de espionagem de 262 páginas escrita por Alfredo Castelli, uma verdadeira Intriga Internacional, como recita o título do segundo volume de Mister No que a contém. E visto que começamos a recitar alguns números, o destaque desta aperiódica rubrica, vamos dar uma vista de olhos aos números totais dos 40 anos de carreira bonelliana de Civitelli.

O bom Fabio, tem no seu currículo 5856 páginas bonellianas oficiais, dedicadas principalmente a Tex ima parte a Tex, significativamente a Mister No, e minimamente a Dylan Dog e quase imperceptivelmente à mítica revista Orient Express, para a qual ilustrou, no número 15, uma breve aventura escrita por Beppe Ferrandino intitulada Pomeriggio Cubano. A maior parte das páginas civitellianas foram publicadas nas séries regulares dos vários personagens;  “apenas” 614 foram as páginas especiais realizadas pelo consagrado ilustrador, mestre do preto e branco, que também não se dá mal com as cores. A propósito de cores: são 444 as pranchas bonellianas a cores de Civitelli; às 224 publicadas nos Color de Tex e Dylan Dog, somam-se as 220 contidas nos dois volumes comemorativos assinados pelo Fabio: o álbum dos 60 anos e o número 700 de Tex.

Uma das ilustrações de Civitelli para o volume Tex Willer, il romanzo della mia vita (Mondadori, 2011)

Deve-se ainda acrescentar à contagem geral 25 páginas realizadas para três aventuras de Tex extra bonellianas, assim como as ilustrações do livro Tex Willer, il romanzo della mia vita, escrito por Boselli e publicado pela Mondadori em 2011, mais uma infinidade de ilustrações e quadros quase todos dedicados ao Ranger criado por G.L. Bonelli.

Quatro são as capas inéditas e oficiais bonellianas assinadas por Fabio Civitelli: a do Texone de 2012, de um par de volumes (2015 e 2017) para livrarias contendo aventuras desenhadas por ele, e aquela já citada do ArtBook de 2019.

Capa do Art Book dedicado a Civitelli (Sergio Bonelli Editore, 2019)

Mas voltemos à carreira bonelliana de Civitelli: logo após a estreia com Castelli, chega para o Fabio um roteiro do seu mais fiel companheiro de aventuras nestes quarenta anos, ou seja Claudio Nizzi. O escritor de Fiumalbo reserva imediatamente para ele uma história longuíssima – até agora a segunda mais longa da sua colaboração de quarenta anos com a editora da Via Buonarroti -, que Civitelli consegue completar num tempo muito rápido dado que encontra espaço em Mister No apenas um ano depois do término da primeira história, nos números 80 a 84 da colecção dedicada a Jerry Drake. As outras três histórias sucessivas, asssinadas por Tiziano Sclavi, Ennio Missaglia e novamente Alfredo Castelli, para um total de pouco mais de 500 páginas são publicadas em Mister No no decurso de dez álbuns entre os números 90 e 99: uma verdadeira festança de Civitelli para os leitores do despreocupado aviador de Manaus. A sua primeira, intensa, colaboração com a colecção dedicada a Jerry Drake, conclui-se com um segundo episódio escrito para ele por Sclavi: Ufo!, recentemente re-proposto no volume intitulado Alien

Alien, o volume que republica o episódio narrado em Mister No 107 e 108 – Capa de Civitelli realizada originalmente para a série portuguesa Colecção Bonelli da Levoir-Jornal Público

Após seis histórias de Mister No, Civitelli é convocado para a “nazionale” (selecção italiana de futebol) ou seja, para a “scuderia” (equipa) de Tex.  A sua estreia acontece no número 293, de Março de 1985, com a aventura I due Killers, segundo roteiro de Nizzi que Civitelli desenhou. A primeira colaboração de Fabio com o criador do personagem ocorre com a sua terceira participação em Tex , Pista di morte . a união com Gianluigi Bonelli prossegue concluindo-se poucos meses depois com a sua quarta história de Águia da Noite, La città corrotta. Nos vinte anos sucessivos os Tex desenhados por Civitelli foram todos assinados pela caneta de Nizzi. Entretanto porém, entre um Tex e outro, ocorrem na carreira bonelliana de Civitelli,  mais duas brevíssimas incursões no mundo de Mister No, a primeira  em 1993, com textos de Mauro Boselli para o primeiro Almanacco dell’Avventura, e a segunda em 2006, para a longuíssima aventura conclusiva de Jerry Drake escrita por Guido Nolitta. A contribuição de Fabio para essa história foi um punhado de páginas, mas representam a única colaboração artística entre o ilustrador aretino e o alter ego escritor de Sergio Bonelli. Na última década Civitelli desenhou aventuras de Tex escritas por Gianfranco Manfredi,  Chuck Dixon, mas sobretudo por Mauro Boselli; a única “distração” foi um crossover entre Dylan Dog e Mister No com textos de Michele Masiero, publicado no décimo segundo Color Fest do Investigador do Pesadelo. Visto que até agora falamos de escritores, vejamos na tabela que se segue, com quem, para quê e por quantas páginas, colaborou Civitelli, em âmbito bonelliano.

Como tinhamos antecipado Nizzi foi de longe o seu mais fiel pard nestes primeiros quarenta anos de carreira bonelliana. Atrás dele encontramos apenas mais dez nomes, de Boselli a Ferrandino; poucos, mas bons: Civitelli de facto é o único desenhador da editora Bonelli a ter colaborado com os 5 argumentistas mais prolíficos da história da editora milanesa: Boselli, Bonelli, Nizzi, Nolitta e Castelli. Se quisermos ser mesquinhos, também Villa podia gabar-se de tal record, se bem que a sua única, brevíssima, colaboração com Nolitta ocorreu numa edição não bonelliana.

Das trinta e três histórias bonellianas oficiais a mais longa desenhada por Civitelli é Gli spiriti della notte: 369 páginas escritas para ele por Nizzi e publicada em Tex 346-349; por sua vez a mais curta é Pomeriggio Cubano, publicada em Orient Express de apenas 12 páginas. Para falar a verdade, fora do campo bonelliano, existe também uma história de Tex de apenas uma página desenhada por Civitelli; trata-se de Segnali di fumo, uma divertidíssima página escrita por Nizzi em 2004 e que foi publicada no livro Il riposo del guerriero das edições Hazard.  

Segnali di fumo

O multifacetado Fabio Civitelli, não sabe apenas usar o lápis e tinta da china, mas, como recordamos na abertura deste post, também as cores. De facto, o ilustrador de Lucignano coloriu sozinho o episódio L’apache bianco publicado no décimo quarto Color, e ainda antes, fora dos confins bonellianos, tinha realizado a cores as páginas das histórias curtas Il duello, publicada no semanário Lo Specchio, suplemento de La Stampa, e La Preda publicada em La Lettura, inserida no Corriere della Sera. A propósito de Il duello e de versatilidade, Civitelli, para esta história também escreveu o argumento, assim como assinou o roteiro, a quatro mãos com Nizzi, para a aventura Il Presagio publicada nas edições de Tex 475 a 477.

Uma das 16 páginas de Il duello, uma aventura concebida e pintada por Civitelli

Encerramos este episódio de Tex em Números,  enquadrando as cifras civitelliane na história da editora. Com as suas 5856 páginas Fabio é, à data de hoje, o 20°desenhador mais prolífero de todos os tempos da Sergio Bonelli Editore; graças às 4478 páginas desenhadas para Tex é por sua vez o 7° ilustrador mais publicado nas edições do herói bonelliano, enquanto para Mister No posiciona-se no 8° posto entre os desenhadores mais produtivos do personagem. Entre os ilustradores de Tex ainda em actividade, é o segundo, perdendo apenas para Ticci no quesito antiguidade no serviço; em absoluto, entre todos os desenhadores de toda a saga editorial de Tex, com 35 anos e cerca de 7 meses, é por sua vez o quarto em termos de carreira texiana: trabalharam mais do que Civitelli para Águia da Noite, por ordem, apenas Ticci, Galep e Letteri. Alargando o discurso à editora na sua totalidade, Civitelli é o 8° por antiguidade de serviço entre os desenhadores ainda activos da Sergio Bonelli Editore, e o 15° por longevidade de carreira nos cerca de oitenta anos de história editorial da editora milanesa.

Como nascem as páginas de Tex – Fabio Civitelli na sua mesa de trabalho

Conclui-se aqui a nossa visão geral da viagem de quarenta anos do Mestre Civitelli na Bonelli, contada  como sempre através dos números. Cumprimentando Fabio Civitelli por este marco esperamos por vós no próximo episódio de Tex em Números.
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Saverio Ceri 
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Material apresentado no blogue Dime Web em 01/10/2020; Tradução e adaptação (com a devida autorização): José Carlos Francisco.
Copyright: © 2020, Saverio Ceri

Um comentário

  1. Tornei-me fã de Tex na minha infância graças aos desenhos de Civitelli. O meu primeiro livro de Tex foi “O Dia do Medo” e fiquei fascinado com a arte de Civitelli. Para mim é o melhor desenhador de Tex juntamente com Claudio Villa e Letteri.

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