Texto sobre SERGIO BONELLI para o MAB INVICTA 2012

Por José Carlos Francisco

SERGIO BONELLI

Sergio Bonelli (Milão, 2 de Dezembro de 1932 – Monza, 26 de Setembro de 2011) também conhecido como Guido Nolitta (seu pseudónimo como escritor de banda desenhada), foi um autor e editor italiano.

BIOGRAFIA

Filho de Gian Luigi Bonelli (criador de Tex e fundador da editora Audace), e de Tea Bonelli, que desde 1946 tomou as rédeas da editora do ex-marido, entra muito jovem no mundo da banda desenhada, fazendo de tudo na empresa da família: de moço de recados a fiel de armazém, até responder às cartas dos leitores.

Em 1957 assume a editora Cepim, a futura Sergio Bonelli Editore, uma das mais importantes editoras de banda desenhada no panorama italiano, sucedendo na direcção à sua mãe Tea.

Empreende também a faceta de argumentista sob o pseudónimo de Guido Nolitta, escolhido para evitar ser confundido com o seu pai. Nessa nova veste o seu primeiro trabalho é a série Un Ragazzo nel Far West publicada em 1958 e realizada graficamente por Franco Bignotti. Dois anos mais tarde escreve Il Giudice Bean desenhado por Sergio Tarquinio e que será publicado apenas em 1963 na série Gli Albi Del Cow Boy.

Em 1961 cria um dos maiores sucessos da editora: Zagor, personagem “híbrido” entre Tarzan e o western, com fortes incursões no fantástico, graças ao qual Sergio Bonelli pode dar vazão à sua paixão pelo género aventureiro em todos os seus aspectos.

Catorze anos mais tarde, em 1975, dará vida àquele que sempre considerará o seu filho predilecto: Mister No, um descontraído ex-soldado americano que vive na Manaus (Brasil) dos anos cinquenta.

É também o primeiro argumentista a substituir o seu pai nas páginas de Tex, onde se estreia com a história “Caccia all’uomo ” (Caçada humana) desenhada por Fernando Fusco e publicada no número 183 da série, em Janeiro de 1976. Para desenhos de Aurelio Galleppini realiza no ano seguinte “L’uomo del Texas” (O Homem do Texas), volume da colecção Un uomo un’avventura (Um homem uma aventura).

Os crescentes empenhos nas vestes de editor constringem-no a reduzir drasticamente a sua actividade de autor, interrompendo a escrita das histórias de Zagor em 1982, embora continuando a escrever as aventuras de Mister No até 1995 (ainda que apoiado por um staff de outros autores). Após vários anos de inactividade como escritor, por ocasião da última aventura de Mister No retorna à máquina de escrever: foi ele quem deu o adeus ao personagem que mais amou. A longa história começou no álbum publicado em Setembro de 2005 e terminou no final de 2006. As aventuras de Mister No ainda continuaram por mais algum tempo em edições especiais com periodicidade semestral, encerrando-se definitivamente o ciclo de Mister No em 2009.

Em Janeiro de 2007, tomou o lugar de Décio Canzio na direcção geral da Sergio Bonelli Editore e em 2008 o município de Milão galardoou-o com o prestigioso prémio Ambrogino d’oro.

Em Agosto de 2011, quando estava de férias em Provence (França), é acometido por problemas de saúde. Morre em 26 de Setembro de 2011 com a idade de 78 anos na clínica San Gerardo em Monza, poucos dias após ter sido hospitalizado devido a doença.

SERGIO BONELLI ARGUMENTISTA

Como argumentista Sergio Bonelli teve um papel de primeiro plano dentro da editora, trazendo elementos de grande originalidade e fazendo os primeiros elementos importantes de descontinuidade no que diz respeito ao estilo de seu pai, que até então havia sido, juntamente com Roy D ‘Amy, o principal autor de quase todas as personagens publicadas. Com Zagor Nolitta acentua ainda mais a fusão entre o realismo e o fantástico que o pai já havia introduzido nas páginas de Tex; também Chico, tal como Dusty em Un ragazzo nel Far West, insere-se no sulco das tiradas cómicas que muito sucesso tiveram em Capitan Miki e em Il grande Blek (e que nas edições Bonelli continuaram a ter com Mister Bluff e Gufo Triste em Comandante Mark e com Groucho em Dylan Dog), que nunca tinham encontrado espaço nas histórias de Bonelli pai.

Mas o verdadeiro ponto de ruptura com a tradição da editora acontece com Mister No, que é de facto considerado o decano dos personagens bonellianos modernos. Jerry Drake é efectivamente um anti-herói: muito humano nas suas virtudes assim como nos seus defeitos, está bem longe da figura do herói infalível como por exemplo Tex. Mister No é um personagem em conflito com o mundo ao seu redor e com dúvidas existenciais (refugia-se na selva Amazónica para fugir aos horrores da guerra), e frequentemente está às voltas com os pequenos problemas quotidianos (as dívidas que o perseguem). Nolitta antecipa assim toda uma série de temáticas que mais tarde se tornarão centrais em personagens como Ken Parker, Dylan Dog ou Nathan Never.

Este fascínio pelo herói falível e por vezes vulnerável ​​terá os seus ecos inclusive na sua interpretação de Tex: na história “Il segno di Cruzado” (O sinal de Cruzado) vemos o Ranger a braços com a difícil decisão de ter de dar o golpe de misericórdia a um índio moribundo que após ter sido torturado implora piedade, uma situação ambígua em que Gian Luigi Bonelli jamais tinha deixado cair o seu herói.

E como o mesmo Sergio Bonelli disse, uma sequência inteira daquela mesma história (em que Tex foi forçado a acalmar um excitado Kit Carson com um soco) foi cortada devido a uma firme oposição do seu pai. Inclusive nas relações com o seu filho Kit, o seu Tex mostra atitudes apreensivas, que nunca haviam sido vistas nas histórias de Bonelli pai.

SERGIO BONELLI EDITOR

Sob a sua liderança a pequena editora Cepim transformou-se no colosso editorial que é hoje a Sergio Bonelli Editore, sinal da grande habilidade e intuição de Bonelli empresário.

Um de seus maiores méritos foi o de não sufocar a personalidade dos autores (especialmente os desenhadores), que se incorporavam ao longo dos tempos aos criadores de uma série a fim de render homogéneo o estilo (como era a prática até então), mas de deixar livre desafogo às interpretações dos vários autores, para exaltar as qualidades. Bonelli foi também um dos primeiros editores a publicar os nomes dos autores das histórias (outra prática não comum no passado).

O seu amor pelos grandes autores levou-o a tomar decisões corajosas, fosse publicando séries de grande prestígio que nem sempre tiveram o sucesso esperado, como por exemplo a colecção Un uomo un’avventura, fosse apostando em personagens inovativos e anti-convencionais, como Ken Parker ou Dylan Dog. Este último, tornou-se um dos maiores acontecimentos na história da banda desenhada italiana, conseguindo no ápice do seu sucesso arrebatar o primado de vendas a Tex.

Um comentário

  1. Grande Sergio Bonelli!!
    Sabemos que o LC “ninguém é insubstituível“, se justifica na maioria das vezes, porém, ninguém conseguirá preencher o vácuo deixado pelas particularidades inventivas dos grandes autores. E nesse sentido ninguém substituirá Sergio, este gigante das HQ que, para efêmera felicidade de nós leitores em geral e texmaníacos em particular, soube como ninguém dar continuidade ao gigantesco empreendimento entretenimentista do inimitável Bonelli pai.

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