Texto da secção Cultura de 28 de Maio de 2007
Banda Desenhada
F. Cleto e Pina
“Apaixonei-me por Tex”, diz o desenhador Fabio Civitelli
* Artista italiano é a figura central do festival BD de Moura
* Em declarações ao JN, o desenhador de Tex fala do carácter decidido do cowboy dos “fumetti
Chama-se Fabio Civitelli, nasceu a 9 de Abril de 1955, e aos “sete, oito anos apaixonei-me pela BD. Quem mais me prendia era Tex, que continuo a ler até hoje“. O desenhador italiano é a figura central do festival de BD de Moura, que se prolonga no Alentejo até ao próximo domingo, dedicando uma extensa retrospectiva ao cowboy.
Sem formação artística, Civitelli cultivou “diariamente a paixão pelo desenho. Sempre sonhei tornar-me um desenhador profissional“. Nasceria assim o seu traço luminoso, de linhas seguras, limpo de pormenores desnecessários, quase sempre sem tons intermédios entre o preto e o branco, que contrasta equilibradamente.
Mais tarde, “nos anos 70, li com avidez revistas de BD de autor, para tentar assimilar as novas tendências. Graças a Graziano Origa, o meu primeiro mestre, que dirigia um conhecido estúdio de Milão, aos 19 anos comecei a trabalhar em quadradinhos de bolso, eróticos e de terror. Cinco anos depois, em 1979, entrei para a Sergio Bonelli Editore, começando uma belíssima colaboração que prossegue até hoje“. O que não deixa de ser curioso já que acompanhou “muito a BD de autor“, mas o facto de “sempre me ter considerado um autor “popular” condicionou a minha escolha“.
Fabio Civitelli lembra que o seu ingresso na equipa de Tex foi decidido por Sergio Bonelli em pessoa. “Senti-me receoso, porque nunca tinha desenhado um western. Mas Tex é uma personagem que eu sempre amei como leitor e, ao ganhar aos poucos segurança e conhecimento do Velho Oeste, apaixonei-me tanto que não tenho vontade de fazer outro trabalho“.
Em Itália, os “fumetti” Bonelli vendem-se em quiosques, a preço baixo, graças ao pequeno formato, ao preto e branco e papel simples, o que, a par “das maiores exigências de produtividade e pontualidade nas entregas” faz com que muitos ainda os considerem uma forma menor de BD.
Civitelli, que sempre tentou “experimentar e inovar“, considera que essa distinção “decaiu com os anos“, sublinhando que “é por opção editorial que a Bonelli se preocupa em oferecer o seu produto a um público o mais vasto possível, o que só é possível nos quiosques“.
Trabalhar sempre no limite
“A BD de autor vive nas lojas especializadas, com poucos milhares de leitores. As edições Bonelli contam nos seus quadros com muitos talentos criativos que produzem BD de elevada qualidade, de géneros variados, capazes de contentar todos os leitores, com um custo muito competitivo“.
Relativamente a Tex destaca “o carácter forte, decidido e pouco disposto a acordos, embora menos hoje que em tempos idos“, e tem como objectivo “trabalhar sempre no limite para contentar primeiro o editor e depois as centenas de milhares de leitores exigentes“.
E confessa-se honrado “por ter sido escolhido para desenhar a história comemorativa dos 60 anos de Tex, como reconhecimento pelos 23 anos que já lhe dediquei, por isso estou a empenhar-me ao máximo“.
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Tex Willer: Investigador e justiceiro
Tex nasceu em 1948 criado por Giovanni Luigi Bonelli (texto) e Aurelio Galleppini “Galep” (desenho). De seu nome completo Tex Willer, assume, simultaneamente o papel de investigador, justiceiro e até chefe índio, sob o nome de Águia da Noite. Ao seu lado tem sempre o velho amigo Kit Carson, o índio Jack Tigre e Kit Willer, seu filho. Pondo a justiça e a legalidade – a par da amizade – antes e acima de tudo, não hesita em assumir o papel de juiz e carrasco, quando tal é necessário. Tem uma legião de fãs indefectíveis e é recordista de vendas em Itália, com 230 mil exemplares mensais (só da série regular), e no Brasil (40 mil). Em Portugal vende uns invejáveis quatro mil exemplares por mês.
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Gatos invadem Moura até ao próximo domingo
Tex Willer, o famoso ranger dos quadradinhos italianos, chegou no passado fim de semana a Moura, no Alentejo. Não em busca de um qualquer malfeitor, como é habitual no herói, mas como convidado especial de um festival já na 16ª edição. Em sua companhia, em lugar de Kit Carson, Kit ou Jack Tigre, estarão Fabio Civitelli, um dos seus mais destacados desenhadores da actualidade (ver texto acima) e os seus originais, além de José Carlos Pereira Francisco, um dos responsáveis pelo blog português de Tex (https://texwillerblog.com), representante em Portugal da Mythos Editora e um dos seus maiores coleccionadores mundiais, que mostrará em Moura dois milhares de itens da sua colecção. Esta será também a oportunidade para conhecer a vaga de novos desenhadores responsáveis pelo célebre cowboy, entre os quais Corrado Mastantuono, Pasquale Del Vecchio ou Frisenda.
Mas a verdade é que o tema do MouraBD 2007, que decorre no castelo local, é “O Gato“. O certame oferece, uma panorâmica geral dos mais célebres felinos na BD e no Cartoon.
O resto da programação principal compreende ainda retrospectivas dedicadas à obra de José Abrantes, Catherine Labey e Susa Monteiro.
Os três estarão presentes no certame, juntamente com o italiano Fabio Civitelli, no dia 2 de Junho, véspera de encerramento do evento de cujo programa constam ainda um ciclo de “Cinema e BD” e uma feira do Livro.
Copyright: © 2007 Jornal de Notícias; F. Cleto e Pina
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