Tex Série Normal (Itália): Moctezuma

MoctezumaTex 560 – “Moctezuma” de Junho de 2007.
Argumento de Claudio Nizzi, desenhos de Fernando Fusco e capa de Claudio Villa. História inédita no Brasil e Portugal.
 
Se existem coincidências que devam ser realçadas, parece-nos estar em presença de uma. Moctezuma vem no seguimento de uma aventura que marcou, para nós leitores, a estreia de Tito Faracci a escrever para Tex. Na altura, apontámos as qualidades demonstradas pelo autor, apesar de uma trama linear, o que até acabou por jogar em seu favor.
 
Ora bem, Moctezuma é também uma trama fácil, é também uma aventura onde actua um ranger a solo e onde Tex vai tentar resgatar alguém, tal como o fez com Carson na aventura anterior. Mas passemos à história: numa qualquer noite, perto da fronteira entre o Arizona e o México, Tex avista uma pequena estalagem onde pretende descansar e refugiar-se da tempestade que se abate, quando é confrontado com a atitude pouco amistosa do dono. Este, ultimamente pouco habituado a que ninguém passe por aquelas paragens, apenas pretende jogar pelo seguro pois receia pelas intenções de Tex. Mas o ranger está pouco habituado a que lhe apontem uma arma e rapidamente consegue desarmar Manuel Aribas, de seu nome. Este acaba por relatar a Tex os dias difíceis que ele e a sua mulher têm passado, desde que Dom Diego Villalta levou a sua filha Maria para a sua mansão, onde a tem mantido até hoje, sem que alguém possa fazer qualquer coisa.
 
Arte de Fernando FuscoDiego Villalta é o proprietário daquelas terras, tratando mal quem trabalha para ele, mata os que se revoltam e mantém sempre uma atmosfera de medo. Apenas o jovem Aurélio Torres, que tinha sido prometido a Maria, vai lutando contra o tirano, mas anda fugido em virtude da perseguição movida pelos homens de Dom Diego. Depois de ouvido o relato, Tex resolve agir para salvar Maria e acabar com o poder de Dom Diego.
 
Já referido acima, a aventura não serve grandes objectivos que não algum divertimento e muita acção, através de um enredo onde domina um Tex Justiceiro, eventualmente com Nizzi a não querer alimentar muito mais as polémicas que os seus acérrimos críticos têm levantado sobre um ranger enfraquecido e pouco bonelliano. Mas esta história simples poderia ter tido outro desenvolvimento, outra riqueza nas suas personagens e diálogos mais interessantes. Ao invés, Nizzi apresenta uma aventura feita de alguma superficialidade e de várias incongruências, mas sobretudo de uma total ausência em renovar.
 
Arte de FuscoSe Faraci trouxe um Tex duro e implacável, trouxe também espessura e densidade nas personagens, trouxe um enredo que prendeu a atenção do leitor, veio insuflar o mito. Em Moctezuma há uma total falta de capacidade em inserir o leitor na narração, uma certa indiferença em contar a história. Cansaço, idade, desmotivação, ou mesmo um pouco de tudo, eis o que Nizzi nos demonstra com esta aventura onde até o papel algo humilhante de Tex foi posto em causa.
 
A capa no fundo é reveladora da actualidade nizziana em escrever para Tex, porque não se trata apenas de devolver o Tex bonelliano (o que Nizzi até vai fazendo), mas também em escrever argumentos densos, apelativos e onde se passe algo. O vilão Dom Diego é um perfeito senhor escudado num conjunto de homens dispostos a defender o amo e que na primeira contrariedade revela toda a sua faceta de fraco e covarde. O próprio Aurélio Torres tem um papel de poucas páginas, forçosamente menos que aquelas que o autor dedica a mostrar Tex… simplesmente a cavalgar, sem texto e sem que nada aconteça.
 
Tex em acçãoPara não falarmos de ingenuidades como o facto de, após ter tentado salvar dois mexicanos mortos pela tortura, o ranger não encontrar nada melhor do que oferecer uma rodada geral no bar mais próximo. Ou mesmo nas páginas finais, quando Aurélio Torres, alarmado pelos disparos na mansão de Dom Diego e vendo gente a sair a cavalo, decidir esticar uma corda na estrada para apanhar o fugitivo que, afinal é Dom Diego, mas poderia ser… o próprio Tex. E já agora, qual o papel reservado ao delator Augustin?
 
Boa prova de Fusco, a quem saudamos o regresso depois de alguma ausência. Já com uma certa idade, o autor dá mesmo assim provas de alguma vitalidade e segurança no traço. Já o dissemos, Fusco é o desenhador que menos acusa o peso e o cansaço da idade, e Moctezuma vem provar esta nossa afirmação. Uma aventura onde o autor pôde expandir melhor as suas qualidades de paisagista, pois são muitos e consecutivos os quadrados e as páginas onde Tex se limita a cavalgar, como já acima apontado. Mesmo o seu Tex está quase sempre em bom plano, muito ao jeito do ranger duro que Fusco sempre soube construir. Saúde-se este regresso.
 
Texto de Mário João Marques

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