Argumento de Mauro Boselli, desenhos de Manfred Sommer e capas de Claudio Villa.
Com o título original L’Ultima Diligenza, a história foi publicada em Itália nos nº 546 e 547 e no Brasil pela Mythos Editora nos nº 452 e 453.
Warlock é uma cidade quase abandonada, depois do fecho das minas de prata e o abandono de todos os que ali trabalhavam. Por isso, a diligência que habitualmente ligava a cidade a Tucson prepara-se também para a sua última viagem. Uma viagem que levará para outras paragens os últimos habitantes de Warlock: Kincaid, um jogador de saloon, o advogado Fred Milton, o mestiço Eddie Shadow, a cantora Annabel, o cowboy Dave Henson, a quem se vem juntar um jovem bandido que faz parte do bando de Scott Dunson, um assaltante de bancos que desde há nove anos foge aos homens da lei. Um dos passageiros da diligência é cúmplice de Dunson, alguém que acabou por trair este e que quase o fez cair nas mãos de Tex Willer. Dunson prepara um golpe com o objectivo de se vingar do seu cúmplice, mas Tex também apanha a diligência e, sob outra identidade, pretende saber quem é este cúmplice e chegar ao rasto de Dunson.
O título apela, desde logo, a um certo romantismo tão característico dos grandes clássicos da idade de ouro do western no cinema americano. A Última Diligência simboliza um oeste puro, o final de um tempo, patente aqui no fecho das minas de prata, deixando atrás de si um rasto de vazio e abandono. A última viagem marca também o simbolismo do crescimento do velho oeste americano, erguido através das grandes cidades em detrimento do abandono de outras que floresceram em redor das oportunidades que foram surgindo. Uma primeira parte de pura adrenalina verdadeiramente cinematográfica, com cerca de cinquenta páginas de pura acção que servem a Boselli para preparar os acontecimentos, servidas por um grafismo irrepreensível de Sommer.
Depois o ritmo acalma, as personagens entram na diligência como actores a chegarem ao palco dos acontecimentos e Boselli vai fazendo aquilo que melhor sabe: construir enredos onde as personagens são praticamente todas protagonistas. Através da última viagem entre Warlock e Tucson, os passageiros relacionam-se entre si, ora suspeitando ora confiando, ora agindo veladamente ora de modo racional, ora receando o passageiro do lado, ora temendo pelo perigo exterior representado na ameaça do rebelde e sanguinário apache “El Loco”, no fundo uma apetência que Boselli tem para criar ambientes e jogar com a tensão latente.
Nesta última viagem confluem várias partes em busca de um mesmo objectivo, porque se Tex age sob outra identidade para desse modo tentar chegar a Dunson, este também prepara um plano para poder chegar ao seu cúmplice traidor. É jogando com toda esta psicologia que Boselli consegue sempre transmitir no leitor uma sensação de dúvida, de indecisão em saber identificar realmente o que move cada personagem. Esta ausência de maniqueísmo em Boselli contribui para a riqueza de muitos dos seus argumentos, onde quase nada é linear no modo de agir das personagens e esta aventura serve para o autor sublinhar e acentuar esta ideia.
Uma aventura que opõe um Tex algo compenetrado, mas sempre actuante e que lidera os acontecimentos, a Scott Dunson, um fora da lei romântico e com um certo código de honra, como Boselli tanto gosta. Dunson traz atrás de si o facto de sempre ter conseguido fugir das autoridades, nunca ter morto ninguém, o que vem contribuir para esta aura romântica tão boselliana. Uma bela aventura que joga sempre mais com a tensão latente e que peca apenas num final demasiado repentino, mas que se explica pelo facto de ter sido inicialmente pensada para um “Maxi Tex”.
Confesso que o primeiro trabalho de Sommer para a série (Mercadores de Escravos) tinha-me deixado uma sensação de uma certa decepção. Isto porque, tendo conhecido e lido alguns trabalhos do autor espanhol, esperaria certamente mais. Desta vez, não poupo elogios a este trabalho, fundamentalmente porque o seu traço está muito mais preciso e seguro, fino e elegante, mas também pela construção do ranger. Tex surge sempre equilibrado e a sua fisionomia acaba por nos remeter, eventualmente, ao Tex de Marcello. Toda a aventura está muito bem desenhada, com um classicismo evidente e uma bela representação dos vários cenários.
Texto de Mário João Marques