Tex Gigante: Mercadores de Escravos

Tex Gigante - Mercadores de EscravosArgumento de Claudio Nizzi, desenhos e capa de Manfred Sommer. Com o título original Mercanti di Schiavi, a história foi publicada em Itália no Tex Albo Speciale nº 17 em 2003 e no Brasil pela Mythos Editora também em 2003.

Não é novidade Nizzi apresentar um tema ou uma sua visão de uma certa actualidade enquadrando-a no cenário do velho oeste e nas aventuras de Tex Willer. Já o havia feito, por exemplo, em Sangue no Colorado, quando criticou um certo materialismo e uma certa dualidade de visões, decorrente do confronto geracional entre pai e filho. Nessa aventura, Nizzi construiu um argumento onde personagens e sentimentos se interpunham e digladiavam.

Em Mercadores de Escravos, apesar de Nizzi continuar a criticar a condição humana, a verdade é que o argumento rapidamente entra pelos caminhos da grande aventura, da pura aventura de western, onde uma extensa galeria de personagens chega e parte sem que lhe seja conferida uma verdadeira espessura dramática, uma construção psicológica capaz de enriquecer o argumento.

O Tex de Sommer em acçãoPersonagens importantes como Dom Manuel Obregon ou Pablo Mendez são actores importantes no argumento, mas sem que tenham presença física constante no mesmo. Repare-se, por exemplo, que Pablo Mendez é variadíssimas vezes aludido, mas acaba por surgir fisicamente apenas em duas cenas.
Nizzi nunca consegue construir uma galeria de personagens capazes de levar o leitor a aderir ao argumento, uma vez que, ao seguir pelo caminho da mera aventura, perde-se aqui uma boa oportunidade de exploração do tema implícito no título.

Obviamente, as características de Nizzi aparecem bem patentes ao longo da obra: uma organização precisa do argumento, alguns bons diálogos, paisagens dignas e muita acção, mesmo um certo suspense à mistura, mas no final, fica-nos uma certa sensação de um falso caminho trilhado.

Arte de Sommer

Sommer esteve longos anos sem trabalhar em Banda Desenhada e isso é bem patente nesta aventura do ranger. É certo que o autor confessou ter sentido novamente o prazer de desenhar e preparava mesmo uma nova aventura de Tex com argumento de Boselli. Quem desenha um dia, desenha todos os dias, é certo, mas existem pormenores, um estilo ou uma técnica que se perde facilmente com a falta de prática e que só esta pode voltar a dar.

O Carson de SommerO autor espanhol tem um estilo que, pessoalmente, cativa, mas toda a aventura está caracterizada por um desenho falho de um certo rigor: alguma falta de proporção nas personagens e um Tex que nunca se assume. A figura do ranger lembra vagamente um cow-boy dos primeiros filmes de Hollywood (existem semelhanças em algumas fases com o actor Randolph Scott), por vezes alude ao Tex de De La Fuente, ou chega a assemelhar-se com Paul Foran (um herói do espanhol Montero).

O Tex de SommerO Tex de Sommer nunca se assume verdadeiramente sommeriano, nunca está à vontade e repare-se, por exemplo, que numa só página (139) o Tex do primeiro quadrado é completamente diferente do Tex do quarto quadrado.

Em Mercadores de Escravos, Sommer está bem mais à vontade no desenho das cenas de acção ou nos grandes espaços.

Texto de Mário João Marques

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