Onze anos após a sua partida, a recordação e a saudade deixada por Sergio Bonelli

Por José Carlos Francisco

Faz hoje precisamente onze anos que Sergio Bonelli deixava-nos. Falar de Sergio Bonelli é lembrar de uma pessoa especial a qual tive o grande prazer, mas sobretudo o grande privilégio, de conhecer pessoalmente. O dia 26 de Setembro de 2011 é uma data que faz reemergir na memória tantas recordações ligadas a esse dia triste, marcado pelo falecimento de Sergio Bonelli.

15 de Setembro de 2002, dia inesquecível em que conheci pessoalmente Sergio Bonelli

Um ser humano extremamente inteligente, educado, companheiro e acima de tudo, uma pessoa sempre preocupada com os outros, como várias vezes o provou comigo mesmo, escrevendo-me ou telefonando-me (ou até mesmo convidando-me a viajar até à sua bela Itália) “apenas” para conversarmos sobre as nossas amadas personagens de papel, mas também para saber se estava tudo bem comigo e com a minha família.

Um escritor e um editor que amava o que fazia e que tinha prazer em comparecer aos eventos relacionados com a banda desenhada para falar da editora e das suas personagens e onde passava para todos a importância da leitura quadrinhística. Sergio Bonelli era um ser iluminado que seguramente deixou saudades a todos que o cercavam e sempre será lembrado pelo ser humano que era e pelas suas obras.

José Carlos Francisco e Sergio Bonelli, Milão 2002

Do seu acervo, posso falar com certeza, que são histórias incríveis que nos fazem viajar pelos lugares que ele tão bem descreve, sobretudo as contadas em Mister No. Ele tinha uma maneira diferente, única mesmo, de contar histórias com muita criatividade, cheias de magia e diversão, de mostrar o mundo, de expressar os seus sentimentos.

Pessoalmente recordo com eterna saudade aquele longínquo domingo, dia 15 de Setembro de 2002, em que na companhia do editor Dorival Vitor Lopes e do tradutor Júlio Schneider, no hotel Berna em Milão fui apresentado a Sergio Bonelli e logo aí nasceu uma empatia difícil de explicar por palavras. Foi um momento inolvidável em que o tempo passou muito depressa (pois tantos foram os motivos de conversa, muitas as curiosidades a saber por mim) e que ficou registado para todo o sempre na minha memória, estar ali frente a frente com o grande editor italiano fazendo perguntas e ele dispondo-se a responder de forma muito simpática e prolongada, perguntas relacionadas com a sua história de argumentista e editor, com a razão de ser da sua editora, ou até com pormenores que poderiam ser insignificantes para muitos, mas que muito me honraram.

Davide Bonelli, José Carlos Francisco, Dorival Vitor Lopes, Sergio Bonelli e Júlio Schneider na Sergio Bonelli Editore em-Setembro de 2002

O primeiro autógrafo de Sergio Bonelli ao seu amigo português

E ele próprio fazendo-me perguntas… falando das edições Bonelli na Itália, no Brasil e em Portugal, dos seus roteiros, dos seus colaboradores na editora, onde se incluíam principalmente os argumentistas e os desenhadores, da obra de seu pai, enfim foi um domingo de sonho já que a conversa prosseguiu num épico jantar e em que após o mesmo fomos passear a pé pelas ruas do centro de Milão, num passeio nocturno muito agradável no qual Sergio Bonelli revelou inclusive a história daquela parte da cidade, onde estão concentradas as principais lojas e escritórios de moda. Conhecemos as ruas Sant’Andrea, Spiga, Borgospesso e Monte Napoleone que formam o Quadrilátero de Ouro, onde estão localizadas as mais famosas e caras lojas de griffes italianas, como Armani, Valentino, Versace, Fiorucci e outras.

Sergio Bonelli e José Carlos Francisco, Milão 2006

Sergio Bonelli, José Carlos Francisco e Dorival Vitor Lopes jantando em Milão, 2006

José Carlos Francisco e Sergio Bonelli num passeio nocturno por Milão, 2009

À mesa com Sergio Bonelli, Milão 2009

Sergio Bonelli e José Carlos Francisco, em Rapallo, 2009

Fabio Civitelli, José Carlos Francisco e Sergio Bonelli na Cartoomics de Milão, 2010

Aquela viagem de sonho era mais que um sonho, era real e, ainda por cima, eu estava a viver um momento ímpar e exclusivo: ter o mítico Sergio Bonelli como guia num passeio nocturno em Milão. E mal sabia eu que o melhor ainda estava por vir! É que no dia seguinte aquando da visita à editora, após Sergio Bonelli saber que sendo eu português, tinha toda a colecção brasileira de Tex, ofereceu-me integralmente uma colecção italiana do Ranger prometendo inclusive que a partir desse dia eu receberia tudo do Tex que fosse publicado, promessa essa que foi sempre cumprida nos anos que se seguiram, tal como foi crescendo a nossa amizade, uma amizade tão magnificente entre dois homens de gerações e origens diferentes, unidos pela mesma devoção a coisas simples e sem mácula como podem ser, afinal, os quadradinhos e os heróis que os povoam.

José Carlos Francisco e a homenagem póstuma a Sergio Bonelli – 2017

Sergio Bonelli nunca será esquecido e as suas histórias de banda desenhada jamais deixarão de ser lidas… ele sempre estará presente em nossas vidas, quer sejamos crianças, adolescentes ou adultos. Sergio Bonelli teve o poder de escrever aventuras que nos envolvem da primeira até a última página, tornando-se um autor único e imortal, uma verdadeira LENDA, como se pode comprovar no vídeo abaixo onde os seus colegas e amigos da Sergio Bonelli Editore lhe dedicaram um vídeo-galeria que percorre sinteticamente as muitas emoções com as quais o mítico editor soube brindar os leitores durante a sua carreira.

Uma dedicatória especial de Sergio Bonelli para José Carlos Francisco

Um agradecimento especial de Sergio Bonelli

Uma particular colecção de cartas escritas por Sergio Bonelli para José Carlos Francisco

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

Um comentário

  1. Um supergênio dos quadrinhos no mundo em todos os tempos, Sergio Bonelli, personagem fundamental na Bonelli, insubstituível, sorte a sua ter conhecido uma pessoa formidável, mas, uma sorte merecida.

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