Por Carlo Scaringi*
Em finais de Setembro de 1948 aparece nos quiosques italianos uma revista em formato “striscia” (sensivelmente no mesmo formato dos talões de cheques) com um personagem que iria entrar na história da banda desenhada. Apenas 32 páginas e cerca de uma centena de quadradinhos com situações e personagens que cativavam imediatamente os jovens leitores. Tinha nascido Tex Willer, o ranger mais famoso do Oeste e um herói mítico que já entrou na história e no imaginário colectivo.
Contudo no início o seu caminho não foi fácil, fosse porque a concorrência era notável, fosse porque sobre Tex (e sobre a maior parte dos heróis da banda desenhada) caíam as críticas dos pais, professores e da própria Igreja, que tinha incluído o célebre ranger entre os personagens negativos. Agora, sessenta anos depois, o L’Osservatore Romano dedicou duas páginas inteiras precisamente a Tex, sublinhando os aspectos positivos como o senso de justiça, a honestidade, o anti-racismo e todos os outros que os leitores bem conhecem e apreciam há dezenas de anos.
Tex nasceu do feliz encontro entre um romancista da fantasia como Giovanni Luigi Bonelli e um desenhador como Aurelio Galleppini que há pelos menos uma dúzia de anos tentavam, encontrar o personagem da vida deles. Juntos realizaram dezenas de histórias entre as mais belas da banda desenhada italiana, com personagens gravados na memória de milhões de leitores como o rabugento Kit Carson, o jovem e voluntarioso Kit, filho de Tex, o silencioso pele-vermelha Jack Tigre: um grupo de inseparáveis amigos que há décadas galopam ao longo de todo o Oeste.
Não faltam obviamente os vilões, fatalmente derrotados por Tex e seus companheiros, inimigos implacáveis dos fora-da-lei, traficantes de todo o género, especuladores, políticos corruptos e por vezes até os índios, sobretudo aqueles que se metem contra os Navajos, a tribo que Tex sente também como própria porque casou com Lilyth, a filha de um chefe, prematuramente morta, vítima de uma epidemia desencadeada por duvidosos traficantes.
Muitos inimigos não têm uma identidade bem precisa, e pagam com a vida a sua existência perversa. Outros pelo contrário parecem invencíveis como Mefisto, e por vezes retornam, quase para dar uma continuidade a uma saga infinita como é esta de Tex. Mas todos são sempre a personificação do Mal e com a sua presença ampliam o valor do ranger e seus companheiros, infatigáveis paladinos da justiça e liberdade.
Os sessenta anos de Tex são recordados nestes dias pela Sergio Bonelli Editore com um número especial da colecção mensal, totalmente a cores, o qual traz junto um romance escrito por papá Bonelli no começo dos anos Cinquenta, Il massacro di Goldena, publicado num, impossível de encontrar hoje em dia, álbum com meia dezena de páginas ilustradas por Galleppini.
Em 1969 Giovanni Luigi Bonelli fez uma versão em banda desenhada, publicada nos números 108 e 109 da série mensal (Itália) com o título “Territorio Apache” e desenhada por Giovanni Ticci então com as suas primeiras experiências com Tex, ou quase. A sua reproposta, a cerca de meio século de distância, deseja ser uma dupla homenagem seja pelos sessenta anos de Tex, quer pelo centenário do papá Bonelli, nascido em finais de 1908. Um modo para recordar dois mitos da banda desenhada italiana que já entraram na pequena história das nuvens falantes.
*O texto é de Carlo Scaringi.
Tradução e adaptação a cargo de José Carlos Francisco
Artigo de afnews – Sábado, 13/9/2008
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