Fanzine “A Conquista do Oeste” – Maio/Novembro 2001 – Páginas 60 a 62 – O Pequeno Xerife

O PEQUENO XERIFE

A primeira série de O Pequeno XerifeEsta é uma das poucas personagens de Banda Desenhada que nos são mais queridas, talvez porque apareceu numa altura da nossa adolescência e também, pelo modo como surgiram as suas aventuras no nosso país, embora em edição brasileira, em formato de tira e com bonitas capas a cores, apesar das suas dimensões. Enquadram-se nestas recordações, igualmente as aventuras de “Xuxá”, de que oportunamente falaremos.

Fanzine “A Conquista do Oeste” – Página 60Seria a 30 de Junho de 1948 que esta personagem apareceria em Itália, seu país de origem, destinado a um notável sucesso, quase durante 20 anos. Chamava-se “Kit Hodghins, Il Piccolo Sceriffo”. Os textos eram de Tristano Torelli (também editor da revista) e os desenhos de Zuffi. Ao fim deste meio Século e analisando o passado, teremos que nos interrogar sobre o que teria levado a que esta série se tornasse num grande êxito junto dos jovens leitores, se até verificamos hoje que os desenhos nem sequer eram muito perfeitos, os balões eram cheios de texto e os cenários fracos. Seriam as histórias? Também não eram assim tão boas… Mas vamos recapitular alguns pontos e algumas interrogações, que nos parecem importantes sobre esta série, o que nos ajudará, talvez, a perceber a razão da aceitação dos leitores que, se verificaria, não só em Itália, mas também em outros países, onde a mesma personagem seria publicada, tais como em Espanha, França, Brasil (Portugal através da respectiva edição brasileira), etc..

A primeira tira de O Pequeno Xerife

As capas é o primeiro ponto importante, já que além de apresentarem sempre, no canto superior esquerdo a bandeira norte americana (na primeira série mais pequena e na segunda, maior), surgiam a cores, sempre com um desenho sugestivo e cheio de acção. Não nos poderemos esquecer que tinha acabado a Segunda Guerra Mundial e os norte-americanos tinham estado em Itália… A cena de cada capa enchia o olho da criança e preenchia a fantasia do futuro leitor de cada fascículo. Esta foi uma escolha acertada do editor para chamar a atenção para cada edição, ao mesmo tempo que cada capa se identificava com a própria série. Depois temos o próprio formato, 16,5X8 cms.. Podia ser guardada em qualquer lado, inclusive nos livros de estudo, sem ninguém ver.

A segunda série de O Pequeno XerifeTemos depois a identificação da personagem com cada leitor. A “fórmula” não era desconhecida, embora em Itália, só a partir daqui passaria a ser usada mais vezes. Jesus Blasco quando criou “Cuto”, identificou-o com os leitores mais jovens, apresentando-o com uma idade aproximada de 10/12 anos. Isto permitiu um maior sucesso para a sua personagem, já que todos os leitores adolescentes, se identificavam com o “herói” e viviam as aventuras dele, como se fossem suas, independentemente dos perigos, das dificuldades e das vicissitudes que elas acarretavam.

Fanzine “A Conquista do Oeste” – Página 61Com “O Pequeno Xerife” aconteceria o mesmo, já que a parceira do pequeno “herói”, que se chamava “Flossy”, apresentava-se com uma idade aproximada de 18 anos, enquanto “Kit” só aparentava ter unicamente 11/13 anos. É claro que todos os jovens adoraram ler as aventuras deste destemido e valente “Pequeno Xerife”, ainda que a inverosimilhança desta situação jamais pudesse acontecer. Um xerife imberbe a impor a lei, a empedernidos fora-da-lei está fora de causa e jamais poderia ter consistência na Conquista do Oeste. No entanto, será uma tónica a usar futuramente na 9ª arte, porque mais tarde, não faltarão pequenos vagabundos valentes, pequenos capitães, pequenos e imberbes detectives, etc.. O pequeno leitor guardava a revista, coleccionava-a e o sucesso estava garantido.

Nova alteração na capa da segunda série de O Pequeno XerifeQuanto ao enredo, o texto que Torelli preparou na série de aventuras de “Il Piccolo Sceriffo”, continha um só elemento que fascinava os garotos: o senso do maravilhoso e do não previsto. Sem se preocupar com a realidade histórica, o autor abordava os temas mais candentes, desde encontros com uma tribo de canibais, uma luta contra uma população de indígenas a viver nos tempos pré-históricos, o aparecimento de uma tribo de velhos índios que habitavam em cavernas e muitas mais incongruências.

Um convite de casamento para O Pequeno XerifeTodos estes temas despertavam grandes paixões nos mais jovens de então, de tal modo que, quando os textos passaram a ter maior credibilidade, a série passou a perder popularidade.
Os diálogos também não eram famosos. Na maior parte das vezes o nosso “herói”, quando se encontrava em apuros, passava a vida a evocar os nomes da mãe (que tinha morrido pouco depois de dar à luz, a sua irmã “Lizzie”) ou o da sua própria irmã, que o aguardava em casa, ao mesmo tempo que tenta salvar-se. Eles também não primavam pelo interesse. Mas era salientado sempre o amor de mãe e as emoções que eram exteriorizadas pela personagem, conquistavam uma certa atenção, por parte dos leitores.
Nota. Chegou a ser rodado um filme sobre a personagem, que não teria êxito.

Um livro seria escrito por Giana Anguissola, uma escritora de Literatura infantil, baseado nas personagens e nos relatos dos fascículos, embora a autora tenha alterado um pouco as situações descritas, tornando-as mais realistas. A edição seria igualmente um fracasso, não pela qualidade literária do trabalho, mas sim, porque a escritora não tinha uma verdadeira prática do tema do “western”.

A HISTÓRIA DE “KIT”

Fanzine “A Conquista do Oeste” – Página 62“Kit” é um rapaz que se torna xerife de “Paire Town”, depois do seu pai ter sido morto por um bandido, chamado “Jamaica Jim”. O seu pai era xerife naquela cidade. “Kit” jamais atraiçoará o seu principio de justiça e o seu respeito pela lei e a sua vontade nunca vacilará, mesmo quando assediado por lindas jovens. Naquele tempo o sexo estava posto de parte, por causa da censura. As figuras secundárias irão ser um tipo estranho, entre o delinquente e o defensor da lei, chamado “Garret”, mas bastante simpático, que o ajudará nas suas aventuras. Com o passar do tempo, ele será substituído por “Piggie”, um agente federal forte e mais interessado na boa mesa do que na lei.

O Pequeno Xerife em luta conra os índiosDepois é a vez de “Flossy”, filha de “Garret”, que só será beijada no Natal e no dia do seu aniversário e que faz o papel de namorada do nosso “herói” e que, tal como ele, encontra-se às vezes metida em perigos. Temos igualmente “Lizzie” a irmã de “Kit”. O mundo animal não escapa e vamos encontrar “Roky”, um “coyote” domesticado, que ao longo dos episódios, será tanta vez ferido, que acabamos por perder a conta e “Blake”, um cavalo que acompanhará “Kit” nas suas aventuras desde a primeira história.

AS SÉRIES ITALIANAS

A quarta série de O Pequeno Xerife1ª Série – 173 números em tira (32 páginas + capa e contra-capa), da autoria de Zuffi.
2ª Série – 126 fascículos em tira (32 páginas + capa e contra-capa), da autoria de Zuffi.
3ª Série – formato quadrado (12X11,5 cms.), com 54 fascículos – As capas são de Palú.
Nas 32 páginas, 16 são de “Kit”, as restantes apresentam outras personagens: “Tati” de Mandipó (nºs l ao 11), a história de um rapaz fugido de um reformatório, “Marilina” de Cubbino (nºs 12 ao 42), uma aventura de ficção científica, “La Pattuglia Del Cielo” de Taccone e Coppola (nºs.l3 ao 27), uma história espacial com piratas do ano 2000, “Cuore Crociato” de Toldo (nºs 28 ao 42), uma história de capa e espada e “Bebi Grande” também de Mondipó (nºs 43 ao 54).
4ª Série – Muda de formato e terá 60 fascículos. As capas são de Cubbino, Zuffi, Taccone, etc.. Nesta série só 11 números serão de “Kit”. Os outros são de “Sciusciá” na pele de jornalista, “Nat del Santa Cruz”, “Il Capitano Mac” de Taccone (desde o nº 29), aventuras de um aviador, “Lili” (desde o nº 45) de Coppola, aventuras de várias órfãs e “Battista il Turista” de Giaiotto” (série cómica).
5ª Série – 48 números a cores. As capas são de vários autores. Tem ainda as aventuras de “Mike Mount Nel 2000″ de Cubbino, com histórias futuristas, além da história de “Kit”, “La Storia di Bert e Bart” de M. Sawer, peripécias de um vagabundo, “Jerry Jess” de Palú, “Ciak” de Gamba, “L’Amico Degli Animali’ e “La Piuma d’Argento”, estas duas ultimas histórias da autoria de Cubbino.
6ª Série – 152 fascículos. As capas são de Bernini e de Tacconi, etc.. As personagens secundárias são várias, em todas as séries.
7ª Série – 54 fascículos e novas personagens secundárias.
8ª Série – São 104 fascículos, mas a personagem principal é “Radar”.
As 9ª e 10ª Séries são de 18 álbuns e 30 números, respectivamente, mas quase sem interesse e finalizam o número de séries e também as aventuras de “Kit”.

AS SÉRIES NO BRASIL

Uma capa sugestiva da quarta série de O Pequeno Xerife1ª Série – 173 números idênticos aos publicados em Itália, seguindo rigorosamente essa edição.
2ª Série – 195 números publicados, quase todos com 32 páginas, excepto os últimos que têm uma página a mais. Também têm mais 69 números que em Itália. Deduzimos que foram sempre usadas tiras no Brasil, apesar de originalmente a revista ter maior formato.
As 3ª e 4ª Séries brasileiras são de maior formato e já misturam personagens. A 3ª Série tem a numeração do 1 ao 52 e a 4ª Série do 53 ao 84. As séries secundárias são “Mike Mount Nel 2000″ de Cubbino, “Nat dos Sete Mares”, etc..
Nota: Não conhecemos muito bem as duas últimas séries.
Datas das edições:
1ª Série – 12/1/50 a 30/4/53
2ª Série – 7/5/53 a 24/1/57
3ª e 4ª Séries – 31/1/57 a 11/9/58
Nota: Publicações semanais.

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, e/ou imprimí-las, clique nas mesmas)

2 Comentários

  1. Tenho todas as séries: os 173 da primeira série, a segunda série tenho os 195 números, já a 3ª série é de tamanho maior das duas primeiras séries do 1 ao número 53, já a 4ª série é maior ainda que a terceira.

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