Falecimento de Carlo Raffaele Marcello

Por Mário João Marques

Carlo Raffaele MarcelloCARLO RAFFAELE MARCELLO (1929-2007)

Ainda não refeitos dos recentes desaparecimentos de Guglielmo Letteri e de Manfred Sommer, os leitores texianos são novamente abalados com a notícia de mais uma perda, a do italiano Carlo Raffaele Marcello em 23 de Dezembro último e que, apesar de já retirado das páginas do ranger, continuava a ser considerado como um dos melhores desenhadores da série.

Nascido em 16 Novembro 1929 em Ventimiglia, é em França que desenvolve a maior parte da sua vida artística, criando séries como Loana e Nick Silver para Sagéditions ou colaborando com Opera Mundi e Mondial Press onde, a partir de 1950, desenvolve adaptações de grandes clássicos da literatura como Ben-Hur, Oliver Twist ou Jane Eyre e ainda frescos históricos como A Bíblia ou A História de Paris. Para a Larousse ilustra fascículos da História de França, À Descoberta do Mundo ou A História do Oeste. Teve uma longa carreira com a série Le Cavalier Inconnu (1955-1970), mas talvez o seu trabalho mais conhecido no mercado francês tenha sido Docteur Justice para a Pif em 1970, uma série que ainda recentemente teve honras de reedição.

Tex por Carlo Raffaele MarcelloNo final da década de 80 regressa a Itália onde começa a colaborar com o mundo bonelliano. Inicialmente, com Zagor, posteriormente também com Tex, tornando-se rapidamente num dos elementos do staff regular de desenhadores desta série.

O seu primeiro trabalho em Tex surge em 1991 com a aventura I Diavoli Neri (Tex italiano 371 a 373) escrita por Claudio Nizzi. Depois sucederam-se mais oito aventuras (ver lista abaixo), algumas mesmo memoráveis em parceria com Mauro Boselli, que guindaram Marcello ao galarim dos desenhadores mais apreciados dos leitores texianos, muito por força de um traço maduro e convicto que lhe permitiu desde logo construir um Tex segundo os cânones ticcianos, mas ao mesmo tempo mantendo o seu próprio estilo.
Já na sua crítica a Gli Invencibili, o blogue Tex Willer escrevia o que pode ser considerado como a apreciação global de todo o trabalho do desenhador na série: “Marcello denota uma certa característica épica bem presente no seu  traço, um senso do movimento onde transpira poeira, sangue, suor e porque não também lágrimas. Os seus planos nunca são estanques e o seu traço, sem o detalhe de artistas como Villa ou Civitelli, atinge uma dimensão própria, um envolvimento natural com o leitor, convidando-o a permanecer sempre presente e atento na leitura. Marcello desenhou eventualmente algumas das melhores histórias texianas, mas a verdade é que o seu traço também contribuiu para deixar no leitor um sentimento de velho oeste, de um oeste carregado de simbolismos, de um oeste, afinal invencível no nosso imaginário.

Aventuras de Tex desenhadas por Marcello

I Diavoli Neri (1991) com Claudio Nizzi: Tex italiano 371 a 373
Il passato di Carson
(1994) com Mauro Boselli: Tex italiano 407 a 409
Tulac!
(1995) com Mauro Boselli: Tex italiano 416 a 418
Il Mistero della Pergamena
(1996) com Claudio Nizzi: Tex italiano 425 a 428
Gli Invencibili
(1997) com Mauro Boselli: Tex italiano 438 a 440
La Tragedia del Treno 809
(1997) com Mauro Boselli: Tex italiano 445 e 446
I Sette Assassini
(1999) com Mauro Boselli: Tex italiano 463 a 465
Terra di Confine
(1999) com Mauro Boselli: Tex italiano 469 e 470
La Grande Invasione
(2002) com Mauro Boselli: Tex italiano 497 a 499

Tex e Kit Carson por Carlo Raffaele Marcello

13 Comentários

  1. Che te va bene caro Marcello per le praterie celesti di Manitu.
    Grazie per tutto!
    G.G.Carsan, un suo amico!

  2. É realmente uma pena! Eu era fã do cara, adorava seus desenhos! Que fique com Deus!
    Lucas Eduardo Pontes Piratelo

  3. Mais uma grande perda para todos os leitores e fãs de Tex! Marcello era um artista que eu acompanhei desde os anos 50, quando tomei contacto, pela primeira vez, com o seu traço em histórias como “Moby Dick” e “O Último dos Mohicanos”. Muitos anos mais tarde, descobri-o também em “A Descoberta do Mundo” e “A História do Far-West”, duas colecções da Larousse publicadas em Portugal pela Dom Quixote e fiquei encantado com a maturidade e a segurança do seu estilo, digno de rivalizar com o de muitos grandes nomes da BD europeia. Por isso, quando Marcello se tornou colaborador efectivo de séries como Zagor e Tex, a minha satisfação atingiu o auge e confesso que dei, muitas vezes, primazia às suas histórias, em detrimento de outras desenhadas por Ticci, Nicollò, Letteri, Repetto e outros, cuja leitura guardei para mais tarde.
    Marcello tinha um estilo clássico e naturalista mas de grande dinamismo, e a sua composição de página explorava todas as potencialidades da BD sob ângulos e perspectivas verdadeiramente cinematográficas.
    Continuarei a lê-lo e a recordá-lo com o mesmo entusiasmo e a mesma admiração dos meus tempos de juventude!

    Foi pena Marcello nunca ter desenhado um Texone – pois tinha mérito e fôlego para isso – e que o seu trabalho em Zagor, de parceria com Mauro Boselli, nos dois longos episódios “O Explorador Desaparecido” e “Irmãos de sangue” deu um grande impulso à série. Para mim, contam-se entre as melhores aventuras que já li do Espírito da Machadinha!

    Para não desperdiçar este espaço, que é precioso, quero recordar ainda que Marcello era um autor versátil, que dominava todos os temas, desde o Far West à Ficção Científica. E até criou – na mesma revista que deu guarida ao “Dr. Justice”, o Pif – um personagem exótico chamado “Tarao”, onde tem, como na série histórica “Taranis”, das mais inspiradas e espectaculares composições de página que já pude apreciar numa banda desenhada.
    Jorge Magalhães

  4. O Jorge Magalhães é uma verdadeira enciclopédia da banda desenhada. Bem haja por tantos e tão bons conhecimentos. Habituei-me a apreciar a sua cultura no saudoso e extinto Mundo de Aventuras.
    Um abraço
    Mário João Marques

  5. Que perda irreparável! Marcello somente ficava atrás do também saudoso Galep. Que há de se fazer?!
    Paulo Possebon de Freitas

  6. O Marcello é um dos melhores desenhistas de Tex para mim, junto com o F. Fusco e o Galep.
    Diogo Leal

  7. Para quem estiver interessado, envio a relação completa das histórias desenhadas por Marcello, na série normal brasileira de Tex:
    – Os Diabos Negros com Claudio Nizzi: Tex brasileiro 281 a 283
    – O Passado de Carson com Mauro Boselli: Tex brasileiro 317 a 320
    – Tulac! O Caçador de Homens com Mauro Boselli: Tex brasileiro 329 a 331
    – Assassinato no Porto com Claudio Nizzi: Tex brasileiro 337 a 340
    – Os Invencíveis com Mauro Boselli: Tex brasileiro 350 a 353
    – A Tragédia do Trem 809 com Mauro Boselli: Tex brasileiro 359 e 360
    – Os Sete Assassinos com Mauro Boselli: Tex brasileiro 378 a 381
    – Terras de Fronteira com Mauro Boselli: Tex brasileiro 386 e 387
    – A Grande Invasão com Mauro Boselli: Tex brasileiro 412 a 414

  8. Obrigado ao Mário João Marques por me considerar uma “enciclopédia de banda desenhada”. Estou muito longe de o ser, sem falsa modéstia… mas agradeço o cumprimento! De facto, o “Mundo de Aventuras” foi uma verdadeira escola para mim, onde aprendi muito sobre o “métier” e conheci grandes nomes da BD portuguesa, como o Roussado Pinto, o Vítor Péon, o Orlando Marques, o José Garcês, o Fernando Bento, o Artur Varatojo, o António Barata, o José Baptista, o Carlos Alberto… enfim, o espaço não chega para os nomear a todos. Infelizmente, alguns já não estão entre nós, mas a sua memória continua a acompanhar-me e recordo com muita saudade todos os bons momentos que passei na sua companhia.
    Folgo por saber que os antigos leitores do “Mundo de Aventuras”, como o Mário João Marques – cujos artigos no blog muito tenho apreciado -, deram algum valor ao meu trabalho, pois isso significa que o “Mundo de Aventuras” foi também para eles uma escola onde se forjaram laços de amizade e se cultivou uma verdadeira cultura da banda desenhada, no mais popular e abrangente sentido do termo.
    Amizade, juventude, conhecimentos e amor pela BD sem preconceitos elitistas, que hoje volto a encontrar no blog do Tex!…
    Jorge Magalhães

  9. Jorge Magalhães,
    Sim, eu considero-o uma verdadeira enciclopédia, um daqueles vultos a que a banda desenhada nacional muito deve, pela divulgação, pelo estudo, pela forma como sempre soube amar a 9ª Arte.
    Num tempo em que não tinhamos consolas de jogos, videos, dvd e outras distrações, eu ansiava todas as semanas pelo Mundo de Aventuras, pelo Tintim, pelo Cuto, por um pouco de distração dos afazeres da escola. A minha idade não me “permite” ter a colecção toda do Mundo de Aventuras, mas guardo religiosamente e com muito carinho os últimos, vamos lá, cerca de 600 números. Estes permitiram-me ler e apreciar tantos e tantos heróis de papel, tantos e tantos autores, inclusivé os nossos que o Jorge fala. Por exemplo, eu apreciava bem Vítor Peon e o seu Tomawank Tom, José Garcês, o Roussado Pinto (mais no Jornal do Cuto), o Fernando Bento, o Carlos Alberto (que pintava verdadeiros quadros) e o excelente Augusto Trigo, com quem manteve estreita colaboração, não foi?
    Muito obrigado pelas suas palavras para com o blogue, pois aqui pretende-se tão somente fomentar o gosto pela banda desenhada, pelo prazer da leitura, pela divulgação de uma arte. Sempre com amizade, humildade e sem elitismos.
    Um grande abraço a si Jorge
    Mário João Marques

  10. Ficará na minha lembrança como um dos CINCO MELHORES desenhistas de TEX!… Que MANITU o tenha nas pradarias celestiais.
    Dionísio H. de Araújo

  11. Para Zagor, Marcello desenhou 5 histórias, todas editadas no Brasil pela Mythos Editora:
    – A Conspiração dos Deuses, Zagor 6
    – O Explorador Desaparecido, Zagor Extra 11 a 14
    – Irmãos de Sangue, Zagor 35 a 38
    – Aventura no Canadá, Seleção Tex e Aventureiros 2
    – A Ilha das Sombras, Zagor 58 e 59

  12. Prezado Amigo Jorge Magalhães, a primeira história desenhada pelo Marcello estava destinada inicialmente para sair num Tex Gigante, só que para não atrasar a publicação de tão boa história (tanto no quesito argumento, como desenho) ela foi “desviada” para a série normal, para nosso grande azar…

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