Entrevista exclusiva: MASSIMO ROTUNDO (autor convidado para a 3ª Mostra do Clube Tex Portugal, em Anadia, nos dias 23 e 24 de Abril)

Entrevista conduzida por José Carlos Francisco, com a colaboração de Júlio Schneider (tradutor de Tex para o Brasil) e de Gianni Petino na tradução e revisão.

Massimo Rotundo

O Clube Tex Portugal realiza, em Anadia, nos dias 23 e 24 de Abril próximo a 3ª Mostra do Clube Tex Portugal e traz pela primeira vez MASSIMO ROTUNDO ao nosso país, motivo mais que suficiente para esta nova entrevista do blogue português do Tex com o autor italiano que estará então presente na capital da Bairrada no fim de semana de 23 e 24 de Abril no mui nobre MUSEU DO VINHO BAIRRADA.

Caro Massimo, mais uma vez bem-vindo ao blogue português de Tex! Você estará presente em Portugal, numa exposição do Clube Tex Portugal, na cidade de Anadia. O que representa para si esse acontecimento que contará com a sua presença em um País estrangeiro?
Massimo Rotundo: Esse convite representa a chance de conhecer pessoas e lugares, além de viver situações para mim inesperadas, visto que, desde que comecei a desenhar Tex, conheci um mundo de aficionados, uma coisa incrível que jamais aconteceu na minha carreira, pelo fascínio de uma personagem que contagiou milhares de pessoas e que parece imortal. Nos últimos anos eu não frequentei muitos eventos deste tipo, um pouco por preguiça e um pouco pelos muitos compromissos de trabalho, por isso essa viagem é uma oportunidade para respirar e sentir ao vivo o entusiasmo de quem ama a BD e a sustenta.

O que convenceu Masimo Rotundo, autor de fama mundial, a aceitar um convite tão incomum?
Massimo Rotundo: A curiosidade de ver Portugal, onde nunca estive. Apesar de ter viajado muito, nunca tive a oportunidade de visitá-lo. E chamou-me a atenção o facto da mostra acontecer no museu do vinho, que é uma das minhas paixões, e inspirou-me a desenhar o cartaz com Tex entre as parreiras. E também a convicção de que, junto com Pasquale Ruju, eu fiz um óptimo trabalho, um dos meus melhores no que diz respeito ao género aventuroso.

Tex na região vitivinícola de Anadia, numa belíssima arte de Massimo Rotundo

Quais são as suas expectativas em relação à 3ª Mostra do Clube Tex Portugal?
Massimo Rotundo: Eu espero conversar de desenho, de roteiros, de BD e de Tex, espero desenhar ao vivo, provar produtos locais e admirar paisagens jamais vistas. Aficionados por quadradinhos são óptimos condutores de encontros, sejam culturais ou não, e isso porque a BD tem muitos pontos em comum com o mundo da imagem, o que inclui o cinema e a literatura.

Você tem algum contacto com a BD feita em Portugal? Conhece algum autor como, por exemplo, E. T. Coelho, que inclusive morou e trabalhou por muito tempo na Itália, considerado por muitos como o melhor desenhador de quadradinhos português de todos os tempos?
Massimo Rotundo:
Nos anos 1990 eu tive um livro publicado em Portugal, Pasolini, escrito por Jean Dufaux, que saiu pela Bertrand, mas não conheci ninguém da Editora, porque tudo foi feito pelo meu agente Aurelio Staletti e pela Glénat Editions. Eu recordo-me de E. T. Coelho quando ele trabalhava para o mercado francês em séries como Vaillant, mas não tenho mais as minhas colecções daquela época. Se não me engano, ele recebeu vários prémios como desenhador e ilustrador.

Pasolini, escrito por Jean Dufaux e desenhado por Massimo Rotundo, Bertrand Editora, 1995

Alargando um pouco o horizonte da entrevista, o que o convenceu a entrar para a indústria da banda desenhada?
Massimo Rotundo: Depois de tantos anos, agora tenho bem claro o motivo: na BD concentram-se todas as disciplinas artísticas e isso satisfaz a minha exigência constante de trabalhar em 360 graus. Além disso, a BD permite poder construir um projecto com poucos recursos e sem filtros. E, detalhe não secundário, há a possibilidade de ter um trabalho continuado que permite manter a família. Jamais devemos esquecer que nós, profissionais da BD, fazemos um trabalho digno desse nome e que merece grande respeito.

Como você analisa a evolução da sua carreira?
Massimo Rotundo: Eu comecei com sátira política, depois passei à chamada BD de autor e agora trabalho com BD seriada. Geralmente diferenciar essas duas últimas categorias não faz muito sentido, é só para dar uma ideia da passagem do tempo. De todo o modo, eu sempre mantive um bom nível, e daria a mim mesmo uma nota oito ou oito e meio (numa escala até dez), mas espero chegar a nove com os próximos trabalhos.

Massimo Rotundo a desenhar Tex Willer

No que você está a trabalhar actualmente?
Massimo Rotundo: Estou a fazer um especial que será publicado a cores e dedicado a Brendon, uma personagem de Claudio Chiaverotti e que foi a primeira que desenhei para a Sergio Bonelli Editore. Nesse material eu busco trabalhar muito nos enquadramentos para torná-lo mais dinâmico.

O que você sentiu quando recebeu o convite para desenhar o Tex Gigante?
Massimo Rotundo: Francamente, primeiro eu senti-me lisonjeado e depois aterrorizado. Eu disse a mim mesmo: isto é difícil, se você conhece o ofício, chegou a hora de lançar mão desse conhecimento.

Pistolas fumegantes, desenho inédito e exclusivo de Massimo Rotundo para esta entrevista

Para si o que representa e qual a importância de Tex na sua vida?
Massimo Rotundo: No fundo, Tex representa a minha juventude, as longas tardes de Verão a ler as suas histórias. E creio que, assim como para muitos outros, é um ícone que tem uma filosofia de vida própria e que dela partilho com frequência. Por exemplo, Tex é uma das primeiras personagens de faroeste que tratou com dignidade os índios, e isso antes que virasse moda.

Para encerrar, gostaria de deixar uma mensagem aos seus admiradores que estarão presentes em Anadia?
Massimo Rotundo: Será um prazer encontrá-los e trocar as nossas experiências. Até breve em Anadia.

Massimo, agradecemos muitíssimo pelo tempo que nos dedicou uma vez mais.
Massimo Rotundo: Eu é que agradeço a vocês.

Massimo Rotundo e Tex

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

2 Comentários

  1. Imensa generosidade de um gigante da indústria. Temos de o receber da melhor maneira e fazer tudo para que estas sementes germinem, dando lugar à frondosa árvore da paixão pela leitura de BD.

  2. Muito boa a entrevista.

    Fico também feliz por termos a visita de mais um Mestre!

    Longa vida a Tex!

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