Por José Rivaldo Ribeiro *
Aurelio Galleppini
Muito já foi dito sobre este espectacular Artista, em sites, blogues, livros, revistas, jornais, etc. Ele foi e sempre será indiscutivelmente o mais importante desenhador de Tex desde a sua criação em 1948! Sem sombra de dúvida, Aurelio Galleppini (Galep) que ao longo de sua carreira presenteou-nos com centenas de histórias memoráveis e capas inesquecíveis merece esse estatuto por direito próprio. Fãs e leitores de diversas gerações na Itália, Portugal, Brasil e várias outras partes do mundo consideram-no o verdadeiro “pai de Tex”.
Até hoje, as suas capas deixam-nos hipnotizados por alguns segundos com a revista em mãos, apenas saboreando a imagem; para quem conhece o seu traço, a sua consagrada assinatura é até desnecessária! Galep desenhou as capas, invicto até ao nº 400 e a imagem dessa “última edição” transmite uma emocionante mensagem de “adeus”, com o imortal Tex acenando o seu chapéu! Essa capa foi editada no Brasil em Tex Especial em Cores nº 5.
Mas Galep não desenhou apenas 400 capas italiana de “Tex”.
Foram 205 capas nas oito séries de “Albi d’Oro” entre Junho de 1952 e Novembro de 1960. Depois veio a “Prima Serie Gigante” com 29 capas e finalmente a “Seconda Serie Gigante/Tre strelle” que organizou definitivamente as séries anteriores numa só, republicando histórias do início, seguindo-se somente histórias inéditas e logo tornando-se a série regular italiana que dura até hoje!! Ufa!!! Isso sem mencionar (ainda) as “intermináveis” tiras (Gli Striscia – Collana del Tex) que circularam entre 1948 e 1967, a versão original do “Júnior” brasileiro!
Este espaço no blogue do Tex, será reservado para todas as capas de Galep publicadas no Brasil desde a clássica nº 1 até àquelas que ainda virão (como por exemplo a do próximo Almanaque Tex nº 34), pois muitas ainda se encontram inéditas para nós, leitores lusitanos e tupiniquins!!
Colocarei os amigos coleccionadores portugueses e brasileiros finalmente “a par” de todas as capas, de forma organizada e informativa; levará um tempo, mas todas inéditas e já editadas estarão aqui, assim como informações, muitas já citadas, algumas críticas minhas e curiosidades que ficaram escondidas nestes longos 36 anos.
Muito já foi dito sobre a Editora Vecchi, muitas críticas foram feitas e muitas culpas jogadas à editora ao longo destes anos, porém, jamais poderemos esquecer que se a revista Tex circula hoje nas nossas bancas é mérito do seu pioneirismo! (Júnior é outra história).
Vejamos o simples exemplo do Tex nº 1.
Em seu primeiro número a Vecchi não seguiu a cronologia original, nem capa nem história; para se ter uma ideia, a capa do nosso Tex nº 1 corresponde à capa do Tex nº 67 italiano e a história de estreia (O Sígno da Serpente) corresponde ao Tex nº 47/48.
Caros amigos, se a Vecchi tivesse seguido a ordem correcta italiana, acreditem se quiserem, teríamos duas opções de estreia! Qual você escolheria?
Mantendo a capa: Teríamos lido (A Mão Amarela). Publicada pela primeira vez no Brasil em Tex Coleção #103/104, Jul/Ago de1995 pela Editora Globo. Esta história que nunca foi editada na série regular, poderia ter sido a aventura de estreia de Tex no Brasil, pois com essa aventura foi às bancas italianas em Maio de 1966, o Tex nº67 – Mano Gialla/A Mão amarela!(vide capas)
Mantendo a história: Seria o nosso nº 1 a “esquecida” capa de Tex nº 260 editada pela Globo em Junho 1991! Mas porquê? É que com essa capa foi às bancas italianas em Setembro de 1964, o Tex nº 47 – Le Terre dell’Abisso/ Signo da Serpente! (vide capas).
Este artigo, caros amigos, fará uma varredura de todas as capas de Galep publicadas no Brasil, porém, começando pela série brasileira e não pela italiana; será explicado cada detalhe, cada curiosidade. Quantas vezes e em que série tal capa foi republicada, etc.
Seguir a ordem italiana seria impossível, uma vez que a Vecchi não mantinha uma quantidade regular de páginas porque as revistas inicialmente tinham sempre histórias completas, pois havia um receio de que histórias em capítulos não agradariam aos clientes!!
O leitor cria uma relação entre capas e história sim; quando um coleccionador comenta com outro sobre uma história de Tex o que vem à memória? A capa!! E quando alguém diz que falta tal número na sua colecção, o que vem à sua memória mesmo??
Tex nº 1 – O Signo da Serpente
Publicação desta capa no Brasil: (Três vezes)
Não há relação entre capa/história!
Capa original: Tex nº 67 – Maio 1966
Publicação original: Tex nº 47/48 – Le Terre del’Abisso – Setembro 1964
1ª – Tex nº 1 – Editora Vecchi – Fevereiro 1971
Esta revista tornou-se o sonho de consumo de todo o coleccionador de Tex que se preze, seja ele brasileiro ou português! Notam-se na capa alguns detalhes diferentes da original.
Eu não poderia iniciar um artigo de Tex sem mencionar a história “A Marca da Serpente/Il Segno del Serpente – Albo Speciale nº 3 Jun/1990”. Textos de Nizzi e desenhos e capa de Galep.
Lançada no Brasil em 1993/1998 pela Globo, muitos leitores confundiram, pensando que se tratava da mesma história, contudo, as histórias não têm nenhuma ligação entre si, a não ser pela semelhança na tradução. Uma fala de feitiços, maldições e monstros numa floresta subterrânea, a outra explora a cobiçada e lendária Pedra Filosofal. Uma tradução nem sempre é literal, muitas vezes sofre adaptações para se adequar ao idioma; apesar de que a Vecchi traduziu literalmente alguns títulos dos capítulos internos da revista; neste caso, a adaptação da Vecchi “O Signo da Serpente” tem muito a ver com a trama!
Em tempo: Em 1993 a Globo republica a história sem cortes ou censura em TXC#75/76/77, com o título “A feiticeira do Colorado”, mas as capas…
2ª – Tex nº 1 – Segunda Edição – Editora Vecchi – Abril 1977
Curiosamente com a imagem invertida, talvez como tentativa de diferenciar definitivamente as duas séries; o conteúdo é exactamente o mesmo; os tons de cores são bem opacos comparando com a primeira!
Em tempo: Os 37 primeiros exemplares da primeira série têm um formato maior! O denominado formato italiano: 14cm de llargura por 20,5 de altura.
3ª – Tex Coleção nº 92 – Editora Globo – Setembro 1994
Muitos coleccionadores ficaram surpresos na época com a “publicação inesperada” desta capa que é a reedição da capa do Tex nº 1, mas nada tem a ver com ela! A explicação é muito simples: a série Tex Coleção foi lançada para seguir cronologicamente a Saga original de Tex, contudo a diferença de páginas entre a série italiana e a brasileira “obrigou” a Editora Globo a “encaixar” eventualmente algumas capas para suprir essa diferença, mas após algum tempo a Editora começou a republicar capas desordenadamente.
Tex nº 2 – Vingança de Índia
Publicação desta capa no Brasil: (Duas vezes)
A primeira publicação da Vecchi respeitando capa e história!
Capa e história original: Tex nº 91 – Vendetta Indiana – Maio 1968
1ª – Tex nº 2 – Editora Vecchi – Abril 1971
Vingança de Índia; Vingança Indígena ou Vingança Selvagem: Curiosamente esta edição é idêntica ao original, segue perfeitamente a relação capa/história; não fosse a tradução um tanto “torpe” e os cortes da Vecchi, estaria perfeita. Na realidade durante muitos anos por exactos 27 anos, os leitores ficaram sem saber o motivo de tal título, pois bem, somente em Maio de 1998 tivemos essa revelação em TXC#135/136! Esta história teve um final espectacular; não vou contá-lo aqui em detalhes, mas afirmo que o Coronel Arlington teve “duas mortes” merecidas; primeiramente ele foi morto pela censura e tradução da época, depois por alguém que tinha de facto jurado vingança… conforme se pode ver de seguida (clicando nas duas imagens abaixo para se ver em todo o seu esplendor) onde mostramos do lado esquerdo, o final da Globo e do lado direito, o final da Vecchi.
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A arte desta história é de G. Ticci, mas naquela época era apenas creditado o nome de G.L. Bonelli.
2ª – Tex nº 2 – Segunda Edição – Editora Vecchi – Maio 1977
As cores foram nitidamente modificadas, até mesmo a roupa de Tex, o relvado ganhou um reforço! A história e a tradução são exactamente iguais à primeira edição!!!
Em tempo: Tex 2ª Edição foi criado a pedido de muitos coleccionadores mais novos, que suplicavam para ter os primeiros exemplares em suas colecções!
Tex nº 3 – A Batalha de Siver Bell
Publicação desta capa no Brasil: (Quatro vezes)
A segunda publicação da Vecchi respeitando capa e história!
Capa original: Tex nº 99 – Janeiro 1969
Publicação original: Tex nº 98/99 – (Silver Bell) La Sconfitta; Dez/1968 /Jan/1969
1ª – Tex nº 3 – Editora Vecchi – Maio 1971
Uma das raras vezes em que Tex aparece ferido à bala numa capa.
Um facto curioso; o mais intrigante é que não foi a “personagem” da capa quem atirou em Tex, além de que o palco do duelo também foi outro!
2ª – Tex nº 3 – Segunda Edição – Editora Vecchi – Junho 1977
Mais uma vez a imagem é invertida e as cores de fundo foram modificadas; o sangue do ferimento de Tex está mais “ameno”. Com a excepção da capa a publicação é uma cópia da primeira série.
Em Tempo: Caros amigos, a segunda série passa longe de ter a mesma qualidade da primeira, na qualidade gráfica, no papel que é inferior e escurece mais depressa; a tradução é um caso à parte, pois teve algumas pequenas modificações!!
3ª – Tex Coleção nº 102 – Editora Globo – Junho 1995
Não há relação entre capa/história; utilizada como simples encaixe, porém com as cores de fundo modificadas pela Editora Globo; notem que um dia lindo e azul foi trocado por um fim de tarde!
4ª – Tex Coleção nº 141 – Editora Globo – Outubro 1998
Não há relação entre capa/história; utilizada como simples encaixe, mas desta vez a Globo utiliza as cores originais, actualizadas!!!
Tex nº 4 – Forte Apache
Publicação desta capa no Brasil: (Três vezes)
Não há relação entre capa/história!
Capa original: Tex nº 53 – Março 1965
Publicação original: Tex nº 100 – Supertex: Forte Apache – Fev/1969
1ª – Tex nº 4 – Editora Vecchi – Junho 1971
Pela primeira vez (no Brasil) Tex aparece com uma “camisa vermelha” na capa; naquela época os coleccionadores brasileiros ainda não assimilavam a cor oficial da roupa do Ranger, uma vez que as histórias eram/são em preto e branco, porém, a troca de cores não era mérito da Vecchi como muitos pensavam, mas da própria Bonelli Comics, talvez por problemas gráficos da época! A aventura que abre esta edição é espectacular: Tex é designado para capturar Matias, um índio Apache inescrupuloso, chefe de um bando saqueador de ranchos. Esta aventura é marcante por várias curiosidades: nela aparecem pela primeira vez (no Brasil) os amigos de Tex: Pat Mac Ryan, Gros-Jean e Jim Brandon, mas claro, não é a “estreia” oficial destes pards, pois sabemos que isso aconteceu devido à publicação de histórias fora de ordem!
Em tempo: Esta história é um marco na vida editorial do nosso Ranger, pois foi a primeira história a cores do personagem na Itália na comemoração do centésimo número de Tex (Série Regular). Aqui no Brasil/Portugal só tivemos o privilégio de ler essa versão a cores actualizada com a capa original e tudo em “Tex Especial em Cores nº 3 – Dez/1992”.
A história “Forte Apache” de TXC#116 nada tem a ver com esta, já que por algum motivo “Forte Apache” foi excluída ou esquecida pela Mythos Editora, porém falarei disso mais adiante no artigo “Histórias e TEXtos“.
2ª – Tex nº 4 – Segunda Edição – Editora Vecchi – Junho 1977
Capa com cores totalmente modificadas pela Vecchi; desta vez de vermelha, a camisa passa a cor azul!
Em Tempo: Para um leitor de Tex, pouca diferença faz se os primeiros 149 exemplares da sua colecção são da 1ª ou da 2ª edição, pois o que importa mesmo é a história, se bem que a partir da edição nº 135 (inclusive) não seja bem assim já que a Globo saltou a história “A Mão Vermelha” (Tex 135 – 1ª edição), por causa do lançamento na época, de Tex Coleção nº1 que trazia essa mesma história!!
3ª – Tex Coleção nº 77 – Editora Globo – Junho 1993
Capa fora da ordem cronológica, utilizada como simples encaixe!
Tex nº 5 – Fuga dentro da Noite
Publicação desta capa no Brasil: (Quatro vezes)
Capa Original: Tex nº 90 – Abril 1968
Publicação original : Tex nº 89/90 – Fuga nella Notte – Mar/Abr 1968
1ª – Tex nº 5 – Editora Vecchi – Julho 1971
Com algumas modificações na capa; tirando os cortes, a história é idêntica ao original italiano, até mesmo a tradução foi literal! Já na versão TXC#134/135 a Globo mudou o título para “Os Cavaleiros da Morte”, aliás, traduziu literalmente o original iniciado em Tex nº 89!! Kit Willer e Jack Tigre foram os astros desta aventura de começo ao fim.
Esta história como tantas outras de Galep, além da acção, é marcante, pois mostra-nos majestosamente o valor da amizade e da união; mas também nos mostra que um “amigo” de verdade é leal, mesmo entre os fora-da-lei e que o bem mais precioso da terra é aquele mais abundante em nosso planeta!!
Em tempo: Este é a primeira revista de Tex sem os números que dividem as tiras; sabemos que isso ocorria porque as histórias mais antigas eram publicadas em formato talão, uma tira por página; cada tira era uma página numerada de 1 a 32; no Brasil publicadas em “Júnior” na década de 50. Notem que depois do número 32, na tira seguinte aparece um novo sub-título o que seria uma nova revistinha! Mas tarde isso foi corrigido com o formato gigante!
2ª – Tex nº 5 – Segunda Edição – Editora Vecchi – Agosto 1977
Capa com cores totalmente modificadas pela Vecchi!
Em tempo: Um coleccionador de Tex importa-se sim, de ter na sua colecção os 149 exemplares da primeira edição, que muitos chamam de “originais”, mas para alguns Tex maníacos aficionados, assim como eu, ter também os 150 exemplares da 2ª edição completa é uma questão de honra!
3ª – Tex Coleção nº 106 – Editora Globo – Novembro 1995
Capa utilizada como simples encaixe; não há relação entre capa e história! Observem as cores desta capa, absolutamente grotescas!!
4ª – Tex Coleção nº 133 – Editora Globo – Fevereiro 1998
Capa fora da ordem cronológica, utilizada como simples encaixe!
Se tivesse sido publicada uma edição depois, estaria na ordem exacta!
* José Rivaldo Ribeiro é um grande coleccionador brasileiro de banda desenhada, tendo participado activamente de pesquisas para edições, blogues e sites referentes a BD de diversos géneros!
Considera-se um crítico de banda desenhada e é também leitor e coleccionador de Tex.
Belíssimo trabalho caro José Rivaldo, interessante os textos explicativos e levantamentos de época… muito bom.
Amigo Rivaldo, por favor caso você tenha o TEX Nº 02 (1ª edição), veja que trocaram o nome de Tex Willer por Tex Taylor… Este é um detalhe interessante.
Um grande abraço e mais uma vez parabéns pelo trabalho .
Jesus Ferreira
Uau!!!
Eu sempre quis ver todas as capas de Tex desenhadas pelo co-genitor do nosso herói!
Estava dando uma olhada no blogue, e é de encher os olhos!
Vou imprimir tudo que sair!… Não quero perder nada!
Tomara que publiquem tambem as 205 capas da série “Albi d’Oro”, as 29 capas da “Prima Serie Gigante” e a “Seconda Serie Gigante/Tre estrelle”.
Dionísio H. de Araújo
Pard Jesus, o Rivaldo está a par dessa troca de nomes de Tex Willer (por Tex Taylor) e irá abordar essa curiosidade noutra rubrica que irá realizar para o blogue, intitulada “TEXtos”, onde aí sim, enfocará mais as curiosidades das histórias, ao contrário desta onde abordará mais as curiosidades das capas, embora também aborde algumas curiosidades das histórias, como foi o caso do duplo final da história “Vingança de Índia”.
De todo o modo, obrigado pela sua dica, que talvez tenha apanhado algum Texiano desprevenido…