As Leituras do Pedro: Tex Platinum #2 – O Ouro dos Confederados

As Leituras do Pedro*

Tex Platinum #2 – O Ouro dos Confederados
Antonio Segura (argumento)
José Ortiz (desenho)
Mythos Editora
Brasil, Junho de 2016
135 x 180 mm, 264 p., pb, capa mole, bimestral
R$ 23,40 / 8,50 €

O Ouro dos Confederados – O Tex ‘de’

Apesar de todas as iniciativas editoriais para homogeneizar e unificar a saga texiana ao longo de quase sete décadas, a verdade é que há casos em que se distingue o Tex deste(s) ou daquele(s) autor(es).
Um dos exemplos mais evidentes, é o Tex ‘de’ Antonio Segura e José Ortiz.

Na verdade, quer em termos narrativos, quer em termos gráficos, o ranger interpretado por aquela dupla espanhola assume características que, embora na continuidade, o distinguem das restantes abordagens.
Com Segura, os argumentos são mais duros e violentos mas também mais realistas, porque o modo de agir habitual de Tex – com os punhos ou as pistolas – assume contornos e consequências mais palpáveis, mais próximas do que conseguimos interpretar como realidade. O Tex de Segura é (ainda mais) implacável e inflexível, nunca desistindo ou abandonando a pista daqueles que persegue.

Por outro lado, ainda em termos de argumento, Segura aborda temáticas menos habituais na saga do ranger. Os fósseis de dinossauros, no número inicial de Tex Platinum ou, agora, os desafios do pós-guerra civil, são dois exemplos concretos.


No caso de O Ouro dos Confederados consubstanciado num comando de ex-soldados confederados, que fogem da prisão em que estão para recuperar uma enorme quantia em lingotes de ouro, escondidos algures num pântano, para financiar um novo exército e nova guerra. Com o ’bónus’, neste caso, do aparecimento da Ku Klux Klan e das adjacentes questões da escravidão e do racismo através das quais – de novo – Segura acentua o realismo do relato e demonstra como questões tão importantes ficaram mal resolvidas – por resolver mesmo? – após a guerra – como ainda é visível de forma recorrente nos nossos dias. Situações mostradas, sem pudores, com brancos ainda esclavagistas e (pretensamente) raça superior e negros (subconscientemente) escravos e inferiores. E na dualidade patenteada pelos ‘maus da fita’, divididos entre bandidos gananciosos e patriotas convictos (mas do lado errado da barricada).

Quanto a Ortiz, encontrou nas pradarias ressequidas tanto quanto nos pântanos húmidos, cenários ideais para explanar o seu traço anguloso e duro, rico em contrastes de negro e branco, com pinceladas expressivas de grande impacto visual, para transportar o leitor para o âmago desta longa narrativa, cujos cenários se vão alterando ao longo da perseguição.

O resultado – se é verdade que não agrada a todos os fãs de Tex – tem algo mais que o habitual para cativar os admiradores de western, pela originalidade e pelo ganho de humanidade que, afinal(?), encontramos ‘neste’ Tex, ancorado no exercício da justiça num contexto conturbado e nem sempre preto-no-branco.


[Com a colecção Os Túnicas Azuis a terminar, uma vez que ela tem por base e tema a guerra civil norte-americana, que opôs o Norte e o Sul, um exercício curioso – com lugar a algumas surpresas – será encontrar neste volume alguns dos aspectos históricos que Cauvin e Lambil – num contexto narrativo diferente – abordaram na sua saga humorística.]

*Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro

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