As Leituras do Pedro: J. Kendall – Aventuras de uma criminóloga #118 – “Myrna voltou!” e “A vida é uma aposta”

As Leituras do Pedro*

J. Kendall – Aventuras de uma criminóloga #118

Myrna voltou!
Giancarlo Berardi e Maurizio Mantero
(argumento)
Laura Zuccheri
(desenho)

A vida é uma aposta
Giancarlo Berardi e Lorenzo Calza
(argumento)
Marco Foderà e Thomas Campi
(desenho)

Mythos Editora
Brasil, Setembro/Outubro de 2015
135 x 180 mm, 260 p., pb, capa mole, bimestral
R$ 20,50 / 10,00 €

O regresso de Myrna, a serial killer que, à distância, ama e odeia Julia, marca mais um volume duplo da criminóloga de Garden City, actualmente distribuído em Portugal, em mais uma lição de escrita de Giancarlo Berardi.

O argumentista, subverte a habitual estrutura das aventuras de Julia, ao colocar Myrna como narradora, no papel que habitualmente cabe à criminóloga. Desta forma, são os monólogos da assassina em fuga – e em rota de aproximação à sua paixão doentia, dando corpo à sua fixação nela – que os leitores ‘ouvem’, de algum modo entrando na sua cabeça e compreendendo-a (?) um pouco melhor…

O contraste em relação ao ritmo tradicional acentua-se porque a violência do discurso tem correspondência acrescida nas imagens que mostram as acções que semeiam de vítimas colaterais o seu percurso, completamente díspar da introspecção calma que associamos a Julia.

Mas Berardi não satisfeito com esta inversão de papéis – a assassina é, assim, sem qualquer dúvida, a verdadeira protagonista de Myrna voltou! (Myrna: io sono mia, no original italiano) – mantendo o discurso de fundo, não resiste a confundir-nos – de forma que não vou detalhar para não estragar o prazer da leitura – ao lançar outras pistas, indicar vias diversas e baralhar os dados, levando-nos a ver o que na realidade não nos é mostrado, como só descobriremos bastante mais tarde, numa bem urdida inversão da lógica e num desenvolvimento de todo inesperado.

Com isso, cria um thriller policial intenso, reforça o protagonismo e a preponderância de Myrna, aprofunda o seu retrato e motivações, conseguindo assim credibilizar uma personagem que, de alguma forma, poderia parecer algo deslocada – ou menos consistente – no universo realista de Julia.

(Pranchas provenientes do blogue pessoal de Laura Zuccheri)

*Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

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