As Leituras do Pedro: Hollywoodland

As Leituras do Pedro*

Hollywoodland
Michele Masiero (argumento)
Roberto Baldazzini (desenho)
Paquet
França, Maio de 2021
197 x 268 mm, 288 p., pb, capa dura

25,00 €

Aparências

Convencido pela forma como Michele Masiero recontou as origens de Mister No em Revolution, decidi avançar para este Hollywoodland, a história de dois irmãos separados pela forma de ser, pelas mulheres que amaram e pelas escolhas que fizeram, nos Estados Unidos dos anos 1920, com a meca do cinema em plena ascensão sob a sombra ameaçadora/protectora da Mafia, numa terra que ainda era de todos os sonhos.

Monty é o modelo ideal: bem parecido, atlético, herói de guerra, polícia condecorado, casado com uma bela mulher, com um filho…

Hollywoodland – Página 5

Quanto a Danny, é rude, tem peso a mais, acabou transformado no homem-de-mão de diversa gente importante, mas muitas vezes pouco recomendável, para executar as tarefas mais esconsas e desagradáveis.

Entre eles há um segredo – que vem desde a infância e Masiero só revela no final – que moldou e direccionou as suas existências e os transformou no que são hoje.

Hollywoodland – Página 6

Durante este verdadeiro romance policial de tom negro e contornos dramáticos, mais uma bela narrativa oriunda da tão recomendável colecção Le Storie, Masiero traça-nos um retrato realista, cru e decepcionante de uma indústria – a cinematográfica – que geralmente surge aureolada em tons brilhantes e glamorosos, mas que se fez e cresceu assente em inúmeras intrigas, nas influências mafiosas, em jogos escusos, na destruição de carreiras de actores impolutos e na ascensão daqueles que se deixavam comprar ou dirigir.

Hollywoodland – Página 8

Neste meio conspícuo e violento, onde as paixões têm tanto de inevitável quanto de insustentável, com o dinheiro – e a droga, e o crime… – a imporem a sua lei, Monty e Danny vão acabar por se encontrar em lados diferentes da barricada – tendo mesmo que se defrontar… – quando os cadáveres se começarem a acumular, os segredos vierem ao de cima e muito do que nós fomos lendo e, por isso, intuindo, se revelar enganador.

Hollywoodland – Página 108

Porque, se em Hollywwodland – assim se chamava a meca do cinema nas suas origens – o mais importante são as aparências, raramente o que vemos realmente é e Masiero mostra-se um mestre em enganar o seus leitores, acompanhado pelo desenho a preto e branco de Baldazzini, feito de fortes contrastes de branco e negro e onde apetece adivinhar influências de Chester Gould – nos retratos mais caricaturais – e de Charles Burns – quando vem ao de cima um certo realismo mais chocante.

Hollywoodland – Página 239

*Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

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