Entrevista com o fã e coleccionador: Cido Ribeiro

Entrevista conduzida por José Carlos Francisco.

Para começar, fale um pouco de si. Onde e quando nasceu? O que faz profissionalmente?
Cido Ribeiro: Olá amigos, sou o Cido Ribeiro, brasileiro de Mauá, São Paulo, casado, pai, avô… adoro contar histórias, principalmente através de minhas imagens… eu sou fotógrafo de casamento há mais de 36 anos… mas vamos lá… contar a história de Tex em minha vida , antes como as Notas Especiais nos rodapés de Tex… alguns termos que uso, pode ser estranho em Portugal ou até mesmo para a nova geração: Mocinho: Personagem de filmes de Westerns; Gibi: Qualquer revista em quadradinhos; Matiné: Sessão de domingo no cinema; Feira : Barracas que ocupam toda uma Rua, com géneros variados de comércio, predominante legumes e frutas, numa extensão de vários quarteirões!
Voltando a mim, sou brasileiro, embora morando na região metropolitana de São Paulo, sou do Paraná, oriundo do Oeste , pois sou da roça como se diz por aqui, e na minha região natal predominam as grandes planícies, com plantações de soja, algodão e fazendas de gado… tenho 51 anos, sou de 1965, minha família deixou a região quando eu tinha 6 anos e desde então sou adoptado pela correria da metrópole paulistana… embora Mauá, onde vivo, somente de há uns 25 anos ganhou esta “cara“ de cidade grande… quando eu era moleque tinha jeito de cidade do interior, com crianças brincando na rua, correndo atrás de bola em campinhos e ou até mesmo brincando de “mocinho“ com seus coldres e cavalos imaginários em terrenos vazios que na nossa imaginação fértil reproduzia os cenários de Monnument Valey que tanto víamos nas películas de FarWest das matinés de domingo no único cinema da cidade.

Quando nasceu o seu interesse pela banda desenhada?
Cido Ribeiro: Desde pequeno sempre fui ávido por leitura, assim que aprendi a ler, tudo que me caía nas mãos eu lia (sou assim até hoje) , gostava muito das BDs Disney, que acredito que foi o início da paixão pelos quadradinhos, mas à medida que ia conhecendo outras fui tendo minhas preferidas, nos anos 70 aqui no Brasil existiam duas saudosas Editoras… a Ebal que tinha em seu cast toda a linha DC Comics, onde fui apresentado a Super Man e Batman, além de tantas publicações diversas, eles eram muito eclécticos, e publicavam de tudo , e sua concorrente directa era a Bloch Editora, esta tinha o catálogo Marvel… como o meu pai (eu era órfão de mãe e criado pelo pai, éramos só nos dois) não tinha muitos recursos, juntava dinheiro trabalhando como engraxate para ter os meus trocados para a matiné e comprar HQs (BDs)… e aos domingos existia uma feira de bairro destas de venda de legumes, frutas onde encontrava outros garotos para fazer trocas de revistas, então todas semana abastecia com novos gibis (como nos referíamos às BDs ), neste caso preocupando-se com que não tinha lido ainda sem se ater a títulos propriamente dito.

Quando descobriu Tex?
Cido Ribeiro: Num barbeiro, rsrs
Meu pai levava-me sempre para cortar o cabelo no mesmo barbeiro, e na sala de espera tinha uma mesinha cheia de revistas de desporto, notícias e alguns gibis que me chamaram a atenção pela capa por ser um “mocinho“ de bang-bang.
A princípio meio que desgostei por ser preto e branco, as que lia habitualmente eram de cores fortes… mas como ia demorar a minha vez e entre revistas sem interesse, comecei a ler, uma página, outra e mais outra, e o barbeiro me chamando, eu respondia desinteressado que poderia pular a vez , e lembro que num espaço de tempo não tão longo terminei a revista. Era na época editada pela Editora Vecchi, e estava bem surrada, com suas folhas soltando-se, alguns rabiscos, alguém tentara colorir com giz de cera , mas a mim não importava, já estava mergulhado no universo Texiano mesmo que na hora ainda não soubesse…
Era o número 10 da edição brasileira com o título A Flecha Negra
Quando adulto e coleccionando cheguei a ter todos os números com poucas faltas… quando por motivos pessoais tive que me desfazer, guardei esta e algumas outras por motivos afectivos.

Porquê esta paixão por Tex?
Cido Ribeiro: As razões são diversas… Argumentos muito bem trabalhados por todos os roteiristas Bonellianos… Traços verdadeiramente cinematográficos com perfeição de uso de luz e sombra (como sou fotógrafo, acreditem que uso muitas vezes inspiração desta técnica)… Claro que como todo fã de Tex tenho meus preferidos e alguns que não gosto, mas na maioria seguem uma escola, então sempre que termino uma leitura fico ansioso pela próxima… e depois de tanto tempo lendo… acredito que o mais importante… a mensagem por trás de Tex… Justiça sem olhar a quem, lealdade, aquele amigo que gostaríamos de ter por perto e assim o é … com tanto tempo, poderia dizer que cresci com os Pards por perto, me sinto assim, um quinto pard cavalgando junto.
Ideia com certeza compartilhada por quem lê frequentemente Tex, somos o quinto, mas se nos juntássemos as Pradarias seriam pequenas.

O que tem Tex de diferente de tantos outros heróis dos quadradinhos?
Cido Ribeiro: Acho até que já antecipei na anterior… Mas eu diria que para citar apenas um… Honra.
Que por trás disso traz toda a sua personalidade… palavra dada palavra cumprida, justiça não importando se for um pele vermelha, um negro, um fazendeiro ou até mesmo um foragido, como numa das mais brilhantes histórias que já li iniciada em A Grande Invasão (412, 413 e 414)!

Qual o total de revistas de Tex que você tem na sua colecção? E qual a mais importante para si?
Cido Ribeiro: Hoje não muitas como gostaria, quando fui obrigado a me desfazer das mensais, e tive oportunidade de retomar, foquei nas histórias completas, então fui atrás de números assim e mesmo ainda não consegui ter todos os números, que aos poucos e sem pressa vou repondo…
Minhas colecções na estante são: – Tex Ouro; – Almanaque de Tex; – Tex Anual; – Tex Edição Histórica; – Platinum Tex.
E tenho alguns variados, neste caso guardei mais por questões afectivas, seja por uma boa história que quero reler muitas vezes, por ser uma edição que conte um momento histórico, como o casamento de Tex em uma edição a cores. A mais importante para mim, nem é uma das melhoras aventuras, e já foi relançada muitas vezes, mas eu possuo a número 10 , a já citada A Flecha Negra, pois ela foi a primeira que li de Tex e como conheci seu universo.

Colecciona apenas Tex ou também algumas outras personagens bonellianas?
Cido Ribeiro: Colecciono só Tex, mas já li muitas BDs italianas algumas com muita preferência e muita saudade, nesta época elas não são tão comuns em bancas, e consequentemente não há novas histórias… poderia citar Diabolik, que considero show… li todos que tive oportunidade, cerca de umas 30 histórias… outro que gostava era Martin Mystère… principalmente nas aventuras que giravam em torno de descobertas arqueológicas ou seitas secretas (quase um antecessor de Langdron de Código da Vince) e Dylan Dog achava divertida. E na juventude li muita, mas muita foto-novela (acredito que até foi o motivo de ter me tornado fotógrafo profissional)… era apaixonado por Michela Roc na juventude rsrs… e conhecia todas e todos actores, como conhecemos hoje em dia do cinema ou da TV.

Qual o objecto Tex que mais gostaria de possuir?
Cido Ribeiro: Hipoteticamente falando? Nem é de Tex, rs… eu gosto da camisa de franjas de Carson… ah, sim, lembrei… a estrela de Ranger… eu tenho uma estrela de Xerife, mas não é a mesma coisa…

Qual a sua história favorita? E qual o desenhador de Tex que mais aprecia? E o argumentista?
Cido Ribeiro: Difícil citar só uma… são muitas… sou do tipo absolutamente bobo, apesar da idade, quando termino uma aventura que gostei, fecho a revista e começo a aplaudir, como se pudessem escutar rsrsrs… Uma destas que recebeu meu aplauso de pé foi a citada acima, onde entrincheirados com um grupo de prisioneiros num velho forte prestes a ser invadido por peles vermelhas, são obrigados a deixar posições de lado, não há homens da lei, nem prisioneiros… somente a sobrevivência e amizades forjadas pelo momento terrível… daria com certeza um belo filme… o argumento se notar nem vemos os índios… é mais um terror psicológico e quase claustrofóbico… Aplauso.
E quanto a desenhadores e argumentistas, não tenho um específico, sei o que não gosto, por exemplo as edições gigantes aqui no Brasil, saem com histórias com roteirista e desenhador fora da linha mensal, e uma característica destas publicações são desenhos quase rabiscados eu diria, não gosto, tanto que tenho uma de Civitelli e Boselli, A Cavalgada do Morto… eu acho que li quase toda a colecção, mas muitas delas acho o desenho sofrível.

O que lhe agrada mais em Tex? E o que lhe agrada menos?
Cido Ribeiro: Nas revistas, não no personagem? As revistas mensais continuadas… sou muito ansioso, e detesto esperar para ver a história completa, por isso de só comprar hoje os números com mais páginas, são mais caros, porém mais fáceis de guardar e ter já todo o enredo.
O que mais me agrada, indiscutivelmente é o universo sem ser refém de cronologia. Parei há muitos anos de ler Marvel e DC por esta história de ter cronologia e chegar um momento que bagunçam tanto, que tem que criar novos universos, zerar personagens , mudar enfoques… Tex é sempre aquilo… se vermos um Kit adulto, casado com filhos, aí envelheceria Tex e Carson que não teriam o mesmo enfoque. Uma edição especial tipo, “O que aconteceria se …“… ou as que remontam o passado dos personagens, é até interessante… mas não se tornar refém a ponto de chegar um momento, perder leitores por se tornar confuso, e ter que zerar tudo.

Em sua opinião o que faz de Tex o ícone que é?
Cido Ribeiro: A longevidade das publicações. Aqui no Brasil, uma revista com mais de 60 anos, sempre com o mesmo enfoque e ter o sucesso que tem, não é para muitos.

Costuma encontrar-se com outros coleccionadores?
Cido Ribeiro: Tenho um grande amigo, que vejo muito menos que gostaria, ele sim, possui TUDO de Tex… todas as edições lançadas. E trocamos gostosos bate papos nas raras vezes que nos vemos… é o único.

Para concluir, como vê o futuro do Ranger?
Cido Ribeiro: Aqui no Brasil eu tenho medo… pois como deve acompanhar atravessamos uma crise económica, que afecta os editores e Tex por conta dos fãs já teve  um fôlego que mais do que grandes inimigos enfrentados, ele já batalhou contra o fechamento da Editora Vecchi, da Editora Globo e agora na Mythos eles sentem também, tanto que sai algumas notícias de cancelamento de alguns títulos… e isso deixa sempre assustado… pois a morte editorial é mais implacável que cavalgar nas pradarias celestes nas BDs…

Bem, chegamos ao fim. Você gostaria de dizer algo mais? Algo que não lhe foi perguntado e que você gostaria que os nossos leitores soubessem?
Cido Ribeiro: É isso… pessoalmente sou muito falante… se nos reunimos diante de uma cerveja gelada e um bife de dois palmos de altura acompanhando de uma montanha de suculentas batatas fritas, ficaríamos horas, e no texto não foi diferente… mas é uma grande oportunidade de deixar um grande abraço a todos os amigos.
Eiaaaa… vamoooos… Iupiiiiiiiiiii!

Prezado pard Cido Ribeiro agradecemos muitíssimo pela entrevista que gentilmente nos concedeu.

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

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