UT da dupla Corrado Roi e Paola Barbato chega ao Brasil pela Graphite Editora

A chave para ler UT (por Paulo Guanaes, tradutor de UT)

Após o desaparecimento do homem, o que resta do planeta é povoado por novas espécies antropomórficas, governadas apenas por suas necessidades básicas. UT é uma criatura elementar, feroz e infantil, cujas tarefas são procurar insectos para o entomologista Decio e supervisionar uma antiga mastaba, um tipo de túmulo, em que eram sepultados faraós ou nobres importantes do Egipto antigo. Um dia, um indivíduo diferente de todos os outros emerge acidentalmente: Iranon, enorme, atordoado e sem memória. Decio orienta UT a nunca perdê-lo de vista, porque “ele é o único exemplar de sua espécie”. O aparecimento de Iranon, no entanto, não passou despercebido, e os equilíbrios duramente conquistados começarão a se desestruturar…

A esse fio narrativo criado por Corrado Roi, que também é o desenhador da mini-série, a argumentista Paola Barbato acrescenta o que considera ser a chave de leitura de UT: ter a percepção de que foi eliminado o conceito de homem, mantendo-se algumas características (deterioradas) da nossa espécie.

Corrado Roi nasceu em 11 de Fevereiro de 1958, em Laveno Mombello (Varese), onde ainda vive e trabalha. Aos dezasseis anos, ingressou no estúdio dirigido por Graziano Origa com outros recém-chegados. Nos anos 1980, ele colabora com Ediperiodici, Il Monello e o Staff of If, de Gianni Bono. Em 1986, entrou em contacto com a Bonelli, desenhou algumas histórias de Mister No e Martin Mystère, passando logo depois permanentemente para a patrulha dos “Dylandoghianos”. Roi colaborou com as editoras Comic Art, Glamour e Mondadori. Entre uma história e outra de Dylan Dog, também trabalhou em uma edição especial para Nick Raider, Brendon (do qual ele foi o artista da capa do no 1 ao 44), Julia, Magico Vento e Dampyr. As capas de Dylan Dog Granderistampa (Grande reimpressão) são desenhadas por Roi.

Paola Barbato nasceu em 18 de Junho de 1971 em Milão, mas vive em Verona com o seu marido e filhas Virginia, Genebra e Melania. Depois de mil trabalhos diferentes, desperta a curiosidade do curador editorial de Dylan Dog, Mauro Marcheselli, que lhe faz um convite. A estreia no mundo de horror de Dylan Dog acontece em 1998, no especial nº. 12, “A presa humana”, com a história intitulada “O cavaleiro da perdição”. Nas séries regulares de Dylan Dog, a sua estreia é no ano seguinte com “O sono da razão”, seguida por inúmeras outras aventuras. Paola também colabora para a Sergio Bonelli Editore nas séries “Comic Novels” e “The Stories”. A sua estreia com livros, no entanto, ocorre em 2006 com o thriller Bilico, seguido em 2008 por Mani nude (Mãos nuas) e em 2010 por Il filo rosso (O fio vermelho). Em 2008, ela escreveu o argumento e colaborou no roteiro de uma ficção para a Sky, Nel nome del male (Em nome do mal). Paola também escreveu para cinema e teatro.

A seguir, confira os principais trechos do vídeo “UT: entrevista com Corrado Roi e Paola Barbato”, produzido pelo site Smemoranda.it, traduzidos e adaptados por Paulo Guanaes, tradutor da série no Brasil. Os dois autores de UT comentam sobre a insólita construção desse personagem intrigante, uma espécie de primus inter pares do universo de personagens bonellianos. Para Corrado Roi, o leitor é responsável pela compreensão. Roi diz que apenas conta histórias e que UT faz o seu próprio género. E ressalva que não é horror, não é fantástico, não é pós-atómico, mas um trabalho de xenoficção.

Entrevistadora – Quem é UT?

Paola Barbato – Primeiro, é preciso dizer quem ele não é. Não é um herói, não é um personagem estereotipado. É um personagem muito novo, muito primitivo, muito infantil, nós amamos defini-lo como uma espécie de Pinóquio moderno, muito feroz. Enfim, um Pinóquio armado…

Corrado Roi – O motor de toda a história, no final das contas, é o afecto. É das poucas coisas que UT consegue entender.

Paola Barbato – Corrado começou a escrever a história quando tinha 16 anos, e foi trabalhando na saga até os 40. É uma soma de muitas coisas que são o resultado de experiências da sua vida. Por isso, não havia como descrever um indivíduo tentando fazê-lo parecer outro. Esta história não é assim. É uma história individual.

Corrado Roi – Se quisermos fazer uma autópsia dos mecanismos utilizados na realização da história, eu diria que fomos realistas de maneira absoluta.

Entrevistadora – UT vive em um local onde o homem desapareceu. A terra está devastada. A fauna está extinta. O meio ambiente, intoxicado. Não é uma visão futurística?

Paola Barbato – Se olharmos o que acontece à nossa volta, não é exactamente um futuro pessimístico. É uma coisa que depende muito de nós.

Corrado Roi – Precisávamos zerar tudo, começar do zero. E a partir daí nos divertirmos. Demos um reset, limpamos a prancha e partimos. Recriamos formas de interacção entre os personagens. UT talvez seja o único personagem retórico no qual não há uma visão, mas apenas uma necessidade. E só. É visto como um corpo estranho, mas ao mesmo tempo é uma parte vital de toda a narrativa.

Paola – O ser mais empático não é nem um ser humano, nem um humanóide, nem antropomorfo, mas um gato [Leopoldo], que é um protagonista, porque pareceria que UT ama o gato como um animalzinho acessório, mas ele não é acessório mesmo! Diversos personagens interagem com ele.

Entrevistadora – Já a personagem feminina é uma menina que não existe. O que simboliza?

Corrado Roi – Simboliza todos nós que queremos ter contacto com as histórias que nos são contadas pela televisão, pelo cinema, pelo livro, pelas bandas desenhadas, pelas nossas avós. De qualquer forma, temos sempre a necessidade, não consciente, de lidar com as histórias. Esta menina representa isso.

Entrevistadora – Ela se alimenta de fábulas…

Corrado Roi – Exactamente como nós.

Entrevistadora – E a citação a Humberto Eco? Foi uma homenagem…

Paola – Uma homenagem afectuosa, absolutamente anterior ao falecimento dele, por isso nos pegou de surpresa. Como Eco era um amante de histórias aos quadradinhos, pensamos que ele ficaria feliz de ser citado como acontecera antes em outras histórias de banda desenhada, inclusive em Dylan Dog. Além disso, é um personagem extremamente simbólico porque está muito presente enquanto ausente. O personagem a quem Umberto Eco emprestou o rosto aparece apenas em flashback, não existe fisicamente na história. Por isso gostamos, pois era uma bela forma metafórica, também era um personagem quase intocável. É uma pena que não esteja mais entre nós.

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