Tex Série Normal: O Trem da Salvação

O Trem da SalvaçãoArgumento de Claudio Nizzi, desenhos de José Ortiz e capas de Claudio Villa.
Com o título original Un treno per Redville, a história foi publicada em Itália nos nº 550 e 551 e no Brasil pela Mythos Editora nos nº 454 a 455.

Há dez anos atrás ele chamava-se Puma Vermelho e era um jovem comanche. Há dez anos atrás, ele resolveu visitar pela primeira vez uma cidade de brancos, mesmo contra os conselhos dos mais velhos da sua tribo. Juntamente com o amigo Coração de Urso, resolveu entrar num saloon e beber um pouco de água de fogo. Pouco habituados ao álcool, os dois jovens comanches acabaram por cair bêbedos e ser alvo do divertimento de alguns brancos sem escrúpulos. Os dois foram atados a cavalos e, indefesos, arrastados por estes. Coração de Urso não resistiu e acabou por morrer. Puma Vermelho sobreviveu, mas acabou por ficar coxo para sempre, jurando vingança.

Tex por José OrtizHoje, ele chama-se Puma Coxo e reuniu uma centena de homens para começar a sua vingança sobre todos os brancos. Os quatro pards com a ajuda do exército vão tentar opor-se à loucura de Puma Coxo que coloca todo o vale de Rio Tinto a ferro e fogo.

Onde termina a justiça e começa a vingança? Ao lermos esta aventura texiana deparamo-nos frequentes vezes com esta questão. Onde estava a justiça quando há dez anos atrás permitiu que um grupo de brancos pudesse divertir-se a seu bel-prazer com a curiosidade e a ingenuidade de dois jovens comanches? E qual será o lugar dessa mesma justiça quando actualmente um desses jovens comanches está sedento de vingança e deixa tudo a ferro e fogo por onde passa? Existe sempre uma linha muito ténue que demarca a acção de brancos da loucura índia, uma é consequente da outra, mas a ausência de justiça nunca poderá servir de justificação à vingança. Eventualmente é esta a ideia principal da aventura escrita por Nizzi, uma aventura sem grandes pontos mortos e que, em muitas passagens, lembra outra bem recente do autor, “Mescalero Station“.

Tex em acçãoA aventura funciona sempre como um drama, numa permanente luta entre brancos e a fúria índia, mas para sermos francos, mais uma vez falta paixão. Nizzi é previsível na narração, e as personagens limitam-se a papéis perfeitamente delineados. Aos comanches sedentos de vingança, contrapõe-se a fuga de brancos e o papel de Tex resume-se a isso mesmo, escoltar e colocar a salvo a população de Alamita, onde tudo aconteceu dez anos antes. Salva-se o papel de Carson, este sim, heróico e de real protagonismo ou mesmo de Jack Tigre a seguir os rastos comanches. E mesmo o destino dos brancos, que anos antes tinham dado origem a todos estes acontecimentos, sofre de uma previsibilidade muito própria de Nizzi. No fundo, o autor levanta questões sem querer responder às mesmas.

Vingança SelvagemNizzi é inteligente ao idealizar este tema, mas prefere ausentar-se sem tomar qualquer partido. Não que isso seja uma crítica, mas porventura a ausência já referida de paixão terá um pouco a ver com esta demissão em tomar partido nos acontecimentos.

Já o dissemos, Ortiz é hoje por hoje o desenhador mais rápido na equipa texiana em termos de ritmo de trabalho. Também já o dissemos, muitas vezes esse dinamismo ressente-se na qualidade final do seu trabalho, onde algumas passagens denotam falta de precisão, nervosismo no traço e alguma economia nos detalhes. Esta aventura é um perfeito exemplo desta nossa ideia, porquanto o traço do autor espanhol já não aparenta o mesmo rigor das primeiras aventuras texianas e sobressaem sempre mais as páginas feitas sem um apurado cuidado. Note-se em muitas composições do ranger, note-se também quase sempre em Kit Willer e note-se sobretudo no desenho de paisagens. Ortiz aparenta não só desenhar rápido, fá-lo mesmo demasiadamente e sobretudo, talvez até mais grave, aparenta algum cansaço no traço.

Texto de Mário João Marques

2 Comentários

  1. Se os desenhos são de Ortiz (o sinistro), a edição está fadada ao sucesso.
    Ortiz deveria desenhar somente histórias com grande carga dramática, em ambiente escuros e tenebrosos.
    Mas ele, como grande desenhista que é, também se sai muito bem com Tex.
    No Brasil tínhamos Flavio Colin (recém falecido), que punha em seus desenhos, as mesmas características gráfica do Ortiz.
    AMoreira.

  2. Eu acho todas historias otimas. Não gosto do traço do José Ortiz. Muito ruim. Às vezes nem leio a história por achar estranhos os desenhos. Não tem traços fortes, Tex Willer é mirrado, franzino.

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