Tex Série Normal (Itália): Morte nella nebbia

Morte nella nebbiaTex 556 – “Morte nella nebbia” de Fevereiro de 2007 e Tex 557 – “Uccidete Kit Willer” de Março de 2007.
Argumento de Mauro Boselli, desenhos de Alfonso Font e capas de Claudio Villa. História inédita no Brasil e Portugal.

O jovem navajo Nedhi enfrenta uma dura prova, ao subir corajosamente até ao ninho de uma águia apenas para demonstrar à sua tribo que se tornou num guerreiro. O perigo espreita de perto, porque um grupo de bandidos acaba por apanhar Nedhi torturando-o com o fito de o obrigar a revelar onde se encontra o ouro navajo. Até que Tex e Tigre, na companhia de Manchas, o pai de Nedhi, salvam este. Reconhecido, Manchas convida Tex e Tigre a pernoitarem na sua aldeia. Entretanto, Kit Willer encontra-se em Phoenix para comprar cavalos quando sabe que o seu amigo Bronco Lane encontra-se nas paragens e é perseguido por roubo de cavalos. Kit vai ao encontro de Bronco para o avisar e encontra-o em trabalho para um rancho das redondezas.

Arte de Alfonso FontDurante a noite, os dois são interrompidos por um grupo de homens denominados “a posse” que os perseguem, julgando tratarem-se dos assaltantes de um banco em Angel Rock no Utah, o que leva Kit e Bronco a fugir. Na aldeia navajo, Manchas tem um sonho que lhe revela que Kit Willer encontra-se em grave perigo, avisando desde logo Tex, que não perde tempo para ir ao encontro de Kit.

Vinheta de Alfonso FontBoselli inicia a aventura com o salvamento do jovem navajo Nedhi por parte do seu pai Manchas, ajudado por Tex e Jack Tigre. Com isso, Boselli revela o quanto um pai está disposto a fazer para salvar um filho, preparando assim o terreno para a acção de Tex em busca de Kit, torneando os diversos obstáculos que se vão deparando, até chegar ao filho. Estamos em presença da mesma atitude, do mesmo sentimento, da mesma conduta entre Manchas e Tex, no fundo nada que o ranger não tenha já vivido noutras aventuras, mas que aqui surge através de um sonho do índio que o alerta para os perigos que Pequeno Falcão corre. Este lado místico que vai servir para fundamentar a acção texiana vai ser colocado em causa pelo próprio Tex que, em diálogo com Jack Tigre, acaba por se convencer das capacidades que a interpretação de um sonho pode conter, demonstrando, afinal de contas, que salvar um filho está acima de qualquer dúvida ou preconceito.

A aventura é enérgica, viva, movimentada e atípica, porque marcada pela presença quase constante de Kit Willer, sobretudo na primeira parte, quando vai ao encontro de Bronco Lane e juntos fogem dos seus perseguidores.
Tex e Jack Tigre por Alfonso FontTex e Jack Tigre desenvolvem papel de relevo, mas sempre secundados pela acção de Pequeno Falcão, que se assume como o verdadeiro protagonista de uma aventura onde, uma vez mais, Boselli marca pontos na construção de personagens, patente numa galeria rica de contrates, mas onde sobressai a relação entre Kit e Bronco, algo que tinha ficado em suspenso quando se encontraram pela primeira vez em “Os Sete Assassinos”. Desta vez, os dois vão poder cimentar ainda mais a mútua atracção e admiração que sentem, torneando juntos o perigo até ao desenlace final. Kit e Bronco não são apenas dois jovens amigos, a bem ver, os dois comportam-se como irmãos solidários, honrados e dispostos a tudo para salvarem o outro. Ambos complementam-se, ambos batem-se pelos mesmos ideais, solidarizando-se por aquilo em que acreditam.

Tex em acçãoMas o estilo narrativo de Boselli, que privilegia as personagens, vai mais além, porque figuras como o caçador de prémios Wade Catlett ou o xerife Hugh Langdon  afirmam-se dotadas de personalidades bem definidas. Catlett é um puro caçador de prémios que persegue a sua presa sem que esta se dê conta, mas que consegue flexibilizar a sua conduta relevando o seu primeiro objectivo em proveito de outros interesses, enquanto que Langdon surge como uma personagem fria, desumana, fundamentalista e insensível até ao seu último disparo.

Kit Willer em acçãoOutro ponto que importa realçar é o suspense que perpassa pela aventura. A perseguição em si carrega desde logo um nervoso miudinho, cimentado pelos vários confrontos que Kit e Bronco vão ter com os homens de Langdon. Depois, os ambientes escolhidos por Boselli, primeiro na cabana perdida num amanhecer nebuloso, mas também o deserto que todos enfrentam, ou por fim a missão do velho padre ….. E é aqui, neste local perdido, que o desenlace vai ter lugar, com Boselli a construir páginas de intenso movimento feito não só de duelos, mas também de jogadas psicológicas e crescendo dramático, acentuando-se o carácter das personagens.

Uccidete Kit WillerNo aspecto gráfico, Font tem hoje maior desenvoltura a compor os protagonistas. Ainda assim, o modelo ticciano adoptado pelo autor espanhol sofre de alguma incaracterística, que parece ser devido mais à dificuldade do autor em largar o seu próprio estilo. Sem que isto seja uma crítica, porque o desenho de Font é rico e apetece contemplar, pelo seu traço fino ou pelas suas linhas rectas e cuidadas. Um desenho que exprime um detalhe rigoroso, aqui e ali feito de traços cruzados que ajudam a compor excelentes contrates e onde o negro assume importância, perfeitamente exemplificativo na cena que decorre na cabana em plena névoa.

Nota ainda para a dinâmica e o movimento palpáveis em cenas como a captura dos cavalos, mas sobretudo em palcos bem definidos como a velha missão ou no duelo final, onde o desenho de Font adquire maior desenvoltura e onde o autor consegue revelar melhor as suas reais capacidades.

Texto de Mário João Marques

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