Tex 565 – “La sentinella” de Novembro de 2007 e Tex 566 – “Un soldato ritorna” de Dezembro de 2007.
Argumento de Claudio Nizzi, desenhos de Miguel Angel Repetto e capas de Claudio Villa. História inédita no Brasil e Portugal.
Entre o Arizona e o Novo México, Tex e Carson são perseguidos por um bando de Apaches, conseguindo refugiar-se na Mesa Serrada, um conjunto rochoso pleno de grutas e labirintos. Surpreendentemente, é aqui que os dois rangers vão descobrir um oficial sulista que vive como um eremita e que ignora que a Guerra da Secessão já terminou.
Depois de ganharem a sua confiança, Tex e Carson conduzem-no até Forte Bayard com o objectivo de o ajudar a regressar à civilização e à sua família. Ainda no forte, Tex e Carson acabam por saber que a família do oficial foi dizimada durante o conflito e alguém se apropriou das suas propriedades, resolvendo viajar com ele até Atlanta e tirar tudo a limpo.
Esta aventura pode ser lida sob dois ângulos. O primeiro centra-se no seu desenvolvimento e aqui não deixa espaço para dúvidas, sendo mais uma prova da falta de dinamismo e de motivação que vem assolando Nizzi. Ao contrário do que vem sendo habitual, a aventura não promete no início desiludindo depois, pelo contrário, vai em crescendo de interesse à medida que a acção se vai desenvolvendo, apesar de um final fácil e previsível. Mas é sobretudo mais uma prova cabal das fraquezas do autor, ao revelar ingenuidades (um oficial sulista escondido desde há vinte anos) ou introduzir artifícios sem coerência (um comerciante surge em pleno forte para dar conta da história da família do oficial).
No entanto, sem querermos ser excessivamente críticos de Nizzi, agora que tudo e todos o vêm criticando, é num outro ângulo que o leitor pode concentrar a sua atenção, numa realidade que Nizzi expõe e que a seu modo vem tratar: as sequelas, as alterações, os desenvolvimentos que a Guerra da Secessão deixou nos Estados Unidos. Este acontecimento histórico não é um tema novo no autor, mas é a primeira vez que trata do pós-guerra.
É toda uma nova realidade que se depara a John Rickfield (o oficial sulista), a realidade de um país que se reconstruiu e se desenvolveu, a realidade de um país que caminhava em direcção à modernidade que os novos tempos impunham. A sua chegada a Atlanta, sua terra natal, é demonstrativa e no fundo o espelho fiel de um tempo novo e de um regresso à civilização. Mas é também o tempo de descobrir dramas do passado e lutar contra as injustiças cometidas, num tempo em que a guerra servia como justificação a tudo. É também o tempo de uma nova realidade social, a da libertação do negro que, apesar do final da escravatura, ainda não era reconhecido socialmente.
Tudo isto Nizzi apresenta, não objectivamente, mas através do regresso de Rickfield a Atlanta. No meio de tudo, Nizzi compõe ainda um Tex bem mais clássico e capaz de agradar ao mais conservador dos leitores. É um Tex muito actuante, quer ao nível físico (toda a primeira parte é quase gasta na luta contra o bando de Apaches), quer estrategicamente, de que é perfeito exemplo toda a cena em que conhece pela primeira vez Jean Russard.
Repetto assina aqui eventualmente o seu melhor trabalho na série, muito por força dos diferentes cenários onde a aventura decorre. Durante a primeira parte, na luta contra a perseguição movida pelos Apaches, onde o autor argentino compõe excelentes páginas de acção que se desenrolam em cenas nocturnas debaixo de uma chuva diluviana. Depois, na segunda parte, as cenas mais citadinas, mas também a descrição de um sul onde imperam paisagens de densa vegetação e que também merecem de Repetto a mesma atenção, o mesmo detalhe, a comprovarem uma maturidade digna de realce.
O seu Carson é muito fiel a Ticci, enquanto que Tex, apesar de sofrer a mesma influência não logra a mesma eficácia, mesmo assim, fica-nos uma composição do ranger sem grandes reparos.
Texto de Mário João Marques