Por Hugo Pinto [*]
Tex – “O Homem das Pistolas de Ouro“, de Pasquale Ruju e r.m. Guéra
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Depois da editora A Seita se ter iniciado na publicação de histórias do icónico cowboy Tex, com A Chicotada, que nos ofereceu uma história interessante, e que acabou por ser uma agradável surpresa para muitos, a editora portuguesa volta a lançar mais uma aventura de Tex nesta coleção de cariz muito específico já que, conforme já referido no Vinheta 2020 noutras alturas, é uma coleção que nos traz histórias de Tex auto-contidas, criadas para o formato franco-belga e a cores. Um Tex de cara lavada, portanto, em contraste com o Tex mais clássico que marcou a história dos fumetti italianos, publicados originalmente pela editora Bonelli.
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Neste segundo Tex desta coleção, que dá pelo nome de O Homem das Pistolas de Ouro, temos novamente Pasquale Ruju aos comandos do argumento. Mas, desta vez, as ilustrações são feitas por r.m. Guéra.
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A história desenrola-se poucos anos depois da guerra civil, quando o guerrilheiro Juan Gonzales – que se julgava morto – regressa para se vingar dos Texas Rangers que o perseguiram, nomeadamente Kit Carson que, há 20 anos, era um dos mais jovens rangers do Texas. Assim, um a um, todos os antigos companheiros de Carson começam a jazer, fruto dos tiros certeiros das pistolas de ouro que Gonzales carrega com vista a vingar os seus irmãos. Agora que Kit Carson é o próximo nome a abater na lista de Gonzales, é o momento certo para que o primeiro, acompanhado de Tex Willer, possa parar Gonzales e as suas malditas pistolas de ouro.
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Tal como já acontecera em A Chicotada, a personagem que assume um papel mais importante e marcante nesta aventura é, especificamente, o vilão, ou seja Juan Gonzales. Ruju é exímio em desenvolver uma personagem maléfica com carisma, que não nos deixa indiferentes e sobre a qual, gravita todo o enredo. E é assim mesmo este vilão que carrega as pistolas de ouro. Temos até um flashback na história que nos faz retroceder 20 anos no tempo, para melhor compreendermos quais os acontecimentos que alimentaram, desde então, tamanha sede de violência por parte de Gonzales. Tex Willer acaba por representar um papel bastante discreto sendo apenas necessário para os momentos de maior ação em que há o embate final.
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Isto dá à narrativa uma clareza e uma simplicidade que acabam por funcionar muito bem. Sendo a história bastante linear, parece-me que a mesma está pontuada pela existência de um vilão muito bem construído pelo autor, que acaba por nos prender ao natural desenvolvimento da história.
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E depois, temos a arte de r.m. Guéra que faz aqui um ótimo trabalho! Quer na caracterização das expressões das personagens, quer na linguagem corporal dos cavalos e das personagens humanas, Guéra brilha com o seu talento. Nem sempre as suas ilustrações são muito detalhadas mas, quando o são, cada vinheta torna-se espetacular, fazendo-nos querer observar com atenção cada uma das ilustrações. Guéra também brilha na forma como desenha as cenas de ação, conseguindo imprimir aos seus desenhos uma noção de movimento e de urgência nas ações que muito me convenceu.
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Destaque ainda para a planificação bastante dinâmica que altera entre vinhetas de vários tamanhos e que permite incrementar, ainda mais, a tal noção de movimento e dinâmica narrativa que referi atrás. Sem dúvida um excelente trabalho visual e que ainda é sedimentado por uma boa aplicação de cores. A paleta de cores altera para tons mais sépia no flashback temporal que, mais uma vez, oferece à obra dinâmica e beleza.
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Se há alguma coisa onde, para muitos leitores, eu inclusive, este livro pode pecar, será no facto de ser uma história curta. É o “calcanhar de Aquiles” desta obra como também já o havia sido em A Chicotada. Porque, de facto, as histórias são apelativas e a arte visual – incluindo ilustrações e cores – também o é. Simplesmente, estas aventuras sabem a pouco e acabam por ser histórias algo superficiais que não vão ao âmago de si mesmas.
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Sei, todavia, que o público-alvo desta coleção será, por ventura, um público que procura uma experiência de bd de western mais suave. E, apontando para esse pressuposto, a verdade é que este O Homem das Pistolas de Ouro funciona muito bem. Acho apenas que, desculpem a minha insistência, com mais páginas para melhor desenvolver as personagens e a trama, o resultado seria ainda mais gratificante. Seja como for, estou bastante agradado com esta incursão de Tex no formato franco-belga e a cores.
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A edição d’A Seita mantêm-se excelente tal como em A Chicotada. Capa dura (e diferente em relação à edição original italiana), bom papel, boa qualidade na encadernação e impressão e, para além disso, os extras do livro têm uma ilustração inédita e exclusiva, um texto de Pasquale Ruju e um conjunto de esboços de Guéra. Tudo muito apelativo.
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Em suma, este Tex eleva ainda mais a qualidade do anterior A Chicotada! Muito por culpa de um argumento mais bem conseguido e uma arte de Guéra que, em determinados momentos, sobressai pela sua qualidade e talento. Altamente recomendado para todos os fãs do género western. Bem, e quanto aos fãs de Tex, passa de recomendado a obrigatório!
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