Tex na Argentina: Ascensão e queda do Ranger italiano

Colt, o JusticeiroEm 10 de Outubro de 1949, cerca de um ano após o seu nascimento na Itália, foi na Argentina, que pela primeira vez em toda a América, apareceu no número 1 da revista semanal “Rayo Rojo” (revista que apresentava uma tira por página) da editora Abril de Buenos Aires, o western italiano Tex Willer (rebaptizado de Colt Miller ou também de Colt, o Justiceiro) de Gianluigi Bonelli e Aurelio Galleppini, que obtém rapidamente um notável sucesso, apesar dos seus autores não serem conhecidos, dado que, os seus nomes não eram mencionados, facto que para dizer a verdade, na época não interessava muito ao leitor.
 
Revistas Rayo RojoRayo Rojo era uma revista de aspecto humilde e cuja medida não ultrapassava os 15 x 6,50 cm, enquanto as outras revistas semanais tinham todas um formato maior, mas o certo é que a revista tinha tiragens extraordinárias graças ao western italiano.
 
A revista da Abril hospedou com o tempo outras personagens originárias da Itália como “Bill contra la atomica”, “Gordon Jim”, “Ted el heroe del espacio”, “Kim de la nieve”, etc. Mas sem dúvida que Tex continuou a ser a série mais apreciada do público argentino de Rayo Rojo, que vendia milhares de cópias.
Em 1953, porém, acontece um facto que se revelou fundamental na mudança de gosto popular em desfavor da personagem italiana. Na revista também semanal, Misterix, irmã mais velha de Rayo Rojo, iniciou-se a publicação de El Sargento Kirk, um western escrito por Oesterheld e desenhado por um quase desconhecido Hugo Pratt. Era uma série que poderemos classificar “para um público adulto”, que agradava imenso aos fãs do western. O Sargento Kirk torna-se quase imediatamente um sucesso irresistível, originando tiragens espectaculares para a revista Misterix. Era produzido na Argentina e poderemos considerá-lo responsável pelo nascimento da banda desenhada do género western para adultos.
 
Colt, el justicieroTex não se ressente de modo drástico desta “concorrência”, mas Rayo Rojo começou todavia a sofrer diminuições importantes das suas tiragens, enquanto Misterix as aumentava graças ao Sargento Kirk. Os responsáveis de Rayo Rojo, ou seja, a editora Abril, verificando que as vendas da revista diminuíam e não confiando suficientemente em Colt Miller , decidiram modificar o aspecto da revista e juntaram novas personagens realizadas por outros profissionais, além de modificarem o formato inicial, aumentando-o para um tamanho ligeiramente superior, 18 x 9 cm, passando deste modo a revista a ter duas tiras por página, em vez de uma, como até então.
 
Rayo RojoAssim, com uma nova capa matizada desenhada por um magnífico ilustrador chamado Csecs, começaram a ser publicadas no número 297, datado de 13 de Junho de 1955, novas séries como “Uma-Uma”, de Sotano Lopez – Oesterheld, “Mart Cabot” de Carlos Vogt – Ongaro e “El Indio Suarez” de Carlos Freixas – Oesterheld, sem entretanto ser interrompida a publicação do mítico Tex, seguido por muitos fãs do western italiano que jamais o abandonaram.
 
Foi o próprio “Indio Suarez”, uma série que narrava a história de um pugilista argentino em Nova York , a derrotar definitivamente a preferência dos leitores por Tex. As grandes tiragens da pequena revista semanal da Abril voltavam assim ao sucesso dos velhos tempos, enquanto Misterix continuou com o sucesso reconquistado por Sargento Kirk, até 1975, ano em que a personagem terminou a sua aparição na revista, sendo substituída por um outro western de qualidade, “Joe Gatillo”, do duo Ray Collins no argumento e Carlos Vogts nos desenhos, que sucede no posto de Kirk com igual grado perante os leitores. Oesterheld continuou a produzir westerns de qualidade, como por exemplo “El Mezcalero”, com desenhos de Ivo Pavone, “Leonero Brent”, desenhado por Jorge Moliterni, “Randall the Killer”, com desenhos de Arturo Del Castillo, e “Verdugo Ranc”, desenhado também por Pavone, enquanto Tex continuou a perder admiradores porque era considerado pelos novos leitores como uma literatura de evasão, de rápido consumo, para passar o tempo, ou seja, uma aventura, pela aventura. Precisamente o contrário do que produzia o escritor argentino, que propunha histórias com conteúdos muito mais profundos.
Assim se prefigurava o fim de Tex na Argentina, fim que chegou em 1963, pouco antes que Rayo Rojo se interrompesse em 1964.
 
De seguida, uma curiosidade ainda relativa a Tex. Vemos um exemplo da remontagem das tiras de Tex para o formato de Rayo Rojo, que impunha por vezes o acrescento de legendas não existentes na versão italiana.
 
Página argentina de Tex 
Anos mais tarde, Tex retornou à Argentina, se bem que através das edições espanholas da editora Zinco e ao que apuramos obteve pouquíssima procura nas bancas argentinas. O mesmo aconteceu mais recentemente, quando em 2002, a editora espanhola Planeta deAgostini lançou a colecção Biblioteca Grandes del Cómic: Tex, uma edição primorosa em formato italiano, com 160 páginas e novamente o público argentino não correspondeu à iniciativa. Tanto na Argentina, como na Espanha…
 
Produção própria
 
Como já se disse, Colt Miller, aliás Tex Willer, foi por anos a personagem de ponta de Rayo Rojo, ao ponto da sua ausência na revista ser considerada inaceitável pelos leitores. Por essa razão, para os números extra (Super Rayo) onde eram necessárias histórias mais breves para poderem ser publicadas completas, os editores foram constrangidos a recorrer a histórias apócrifas da personagem, realizadas por profissionais que não tinham nada a ver com a produção italiana. Tratavam-se de Julio Almada (pseudónimo de Julio Portas), nos argumentos e Carlos Cruz, espanhol, nascido a 1 de Julho de 1930, nos desenhos.
 
Foram realizados na Argentina, sem conhecimento da matriz italiana, um total de oito episódios de Colt Miller (cinco para Super Rayo Rojo e três para Super Misterix), todos eles creditados aos seus autores argentinos, ao contrário do acontecido com as histórias oriundas da Itália.
 
Primeira pagina de edição argentina de Tex 
Para finalizar o texto, uma curiosidade sobre o desenhador das histórias do Tex feitas na Argentina. Carlos Cruz foi escolhido propositadamente por ser um “copiador” perfeito, ou seja, o estilo do desenhador era imitar o traço do desenhador que editor precisava. Neste caso, ele imitou Galep…
 
Texto de Jesus Nabor Ferreira e José Carlos Francisco
Fonte: Fumo di China #149, de Abril de 2007
 

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