Tex Gigante: O Pueblo Perdido

Tex Gigante - O Pueblo PerdidoArgumento de Claudio Nizzi, desenhos e capa de Giovanni Ticci. Com o título original Il Pueblo Perduto, a história foi publicada em Itália no Tex Albo Speciale nº 7 em 1994 e no Brasil pela Mythos Editora em 2000.

O Pueblo Perdido é um western grandioso e contido. Grandioso na sublime apresentação dos espaços e dos cenários, contido no ritmo imprimido pelo argumento de Nizzi.
A BD atrai-nos, ora por um excelente desenho, ora por um argumento credível e bem construído, ou ainda pela conjunção de ambos os factores. Com Ticci, seguramente que uma aventura já está servida por um grande desenho e este Pueblo Perdido só poderia levantar-nos eventuais dúvidas na questão do argumento. No entanto, mais uma vez o referimos, Nizzi sabe construir bem os seus argumentos e, melhor ainda, sabe como os temperar com doses quante baste  de acção e de bons diálogos.

Carson e Tex por TicciO Pueblo Perdido é um western grandioso, pleno de suspense, onde tudo gira em torno de um mapa que poderá levar a um eventual tesouro arqueológico. Nizzi confere um tempo próprio ao desenrolar da acção, tudo é contido, tudo tem o seu tempo e tudo  nos é apresentado no tempo e ritmo certos. O enredo surge-nos sempre ao mesmo ritmo que aquele que a personagem do Prof. Montoya quer chegar ao tesouro. O seu guia (Shepard) insiste com ele, pretendendo saber sempre mais dos planos para chegar ao tesouro, mas é sempre refreado nos seus intentos pelo Professor: cada coisa no seu tempo.

Também Carson surge neste argumento como que a pretender querer ir mais além do que o ritmo que Nizzi entregou ao texto: em apenas dois exemplos, quando pretende perseguir quem baleou o acampamento (pág. 98), ou ainda quando quer chegar mais rapidamente ao grupo de Jackson que se dirigia ao ao Pueblo Perdido. Tex surge sempre a contrabalançar esses ímpetos e a conferir à trama o ritmo certo, o ritmo que o autor pretende.

Carson e Tex por Ticci

Este ritmo contido e pensado é bem patente, de igual forma, nas inúmeras cenas de acampamentos nocturnos, onde as personagens aproveitam para descansar, meditar, mas também para assumirem e concretizarem acções futuras. Não nos lembramos de uma aventura de Tex com tantas cenas semelhantes.

Tex por TicciPara além desta sensação de western ritmado, Nizzi faz gala de toda uma panóplia de cenários grandiosos e reveladores do nosso imaginário do velho oeste: a reserva índia, o rancho de Jackson, a cidade fronteiriça de Tupac, as grandes planícies, o perturbante deserto e, em clímax final, o pueblo perdido.
Fechando com chave de ouro, com mão de mestre, Nizzi finaliza o enredo de modo previsível, mas conferindo um desenvolvimento e uma linha de acção coerente.

Em relação a Ticci, voltamos ao início destas linhas, apresento-me como um suspeito, porquanto leio Tex desde há mais de vinte anos e habituei-me a ver no Tex de Ticci o seu expoente máximo. Não raras vezes, posteriores autores vieram desenhar a personagem, tendo por base o Tex ticciano, portentoso, duro, imponente, dinâmico e enérgico.
Ticci é um dotado, o seu desenho não cabe num mero e redutor quadrado, recorrendo o autor, vezes sem conta, aos planos de grandes e extensos cenários, apenas traduzíveis em vinhetas rectangulares. O quadrado surge para Ticci como que uma asfixia e, neste álbum, lembramo-nos de três, quatro, no máximo cinco páginas, onde o desenhador não tenha recorrido ao rectângulo, revelador de toda a sua habilidade.

Arte de Giovanni TicciExiste em Ticci uma profunda e latente necessidade de expansão e liberdade, uma apetência natural pelos grandes espaços e por planos de conjunto, traduzíveis mesmo em variadas cenas de interior. As cenas de uma panorâmica geral transcritas nas páginas 110/111 são de grande intensidade, parecendo o próprio leitor ficar esmagado (é este literalmente o termo) pela força conferida no desenho de Ticci. A própria expressão de Tex (na pág. 110) é fantástica, rigorosíssima e perfeitamente identificável com o que o herói está a passar.

E que dizer das personagens Ticcianas?… São todas elegantemente elaboradas, altivas, soberbas, transmitindo uma força natural em face da personalidade de cada uma, todas estão perfeitamente adaptadas à dinâmica do enredo.

Arte de Giovanni TicciPor isso e, em resumo, quando nos é dado ler um álbum como este Pueblo Perdido, com um argumento pausado e credível, servido por um superior desenho, só poderemos sentirmo-nos felizes por gostarmos tanto de BD e de Tex em particular.

Texto de Mário João Marques

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