Tex em 2017: o futuro passa pelo passado

Por Mário João Marques*

O ano parece ter ficado marcado pelos regressos. Regresso de personagens, não só saídas do imaginário do criador da série Gianluigi Bonelli, como Yama, Lupe Velasco, Sam Willer ou Damned Dick, mas também do atual editor Mauro Boselli, como Jethro Stevens e Glenn Corbett. Uma tendência que se vem acentuando nos últimos anos e que  parece vir a cimentar-se com Boselli ao leme de Tex, se também tivermos em conta o que se encontra em preparação para os próximos meses. Pelas mãos de Enrique Breccia, Tex regressará, ao lado de Lilyth, nas vestes do Homem da Morte, assim como se preparam os regressos de alguns dos seus inimigos, como John Coffin e o xerife Mallory (responsáveis pela morte de Sam Willer), numa aventura desenhada por Giovanni Ticci, comemorativa do septuagésimo aniversário da série, Proteus, o Mestre e a índia Tesah, protagonista da primeira aventura de Tex, sem esquecer Mefisto e novamente o filho Yama, pela mão dos irmãos Cestaro, ou do Capitão Barba Negra com Stefano Andreucci. Releve-se ainda que está a ser avaliada a passagem do Tex Magazine a semestral, isto porque Boselli gostaria de fazer uma história tendo como protagonista Lilyth e uma outra tendo como principal protagonista o cavalo de Tex, Dinamite. No entanto, os regressos ocorridos em 2017 não se ficaram apenas por algumas personagens, uma vez que, no que a autores se refere, saúdam-se sobretudo os regressos dos desenhadores Stefano Andreucci, Lucio Fillippucci e Pasquale Frisenda, uma vez que os seus últimos trabalhos na série datavam de 2013, mas também de Claudio Nizzi que voltou a escrever para Tex, depois do seu último trabalho, L’Oro dei monti San Juan também ter sido publicado em 2013. Finalmente, foi também um ano marcado por várias aventuras onde o leitor viajou pelo passado de Tex, uma vez que foram vários os episódios ocorridos numa época anterior à sua primeira aventura, Il totem misterioso, e que nos trouxeram factos importantes para a série, nomeadamente conhecermos os seus pais Ken e Mae.

Il segno di Yama – Capa e desenhos de Fabio Civitelli

O ano começou com um dos grandes regressos, com o ranger a defrontar um dos seus grandes inimigos, Yama, o senhor da morte, filho do arqui-rival Mefisto. Apesar de iniciada a sua publicação em Itália no final de 2016, Il Segno di Yama vai estender-se pelos primeiros meses de 2017, marcando um acontecimento na série, porque traz de volta uma das personagens mais marcantes com origem no imaginário do seu criador Gianluigi Bonelli. A última aparição de Yama tinha ocorrido em 2002, quando Tex enfrentou o seu pai Mefisto pela última vez, numa aventura assinada por Nizzi e Villa. Nessa altura, Yama parecia ter perdido os seus poderes, condenado a percorrer os caminhos do oeste ao lado da mãe Myriam e é nesta fase, mais concretamente em Dunlap no Nebrasca, que se inicia esta nova aventura, desta vez com Mauro Boselli a escrever mais de trezentas páginas, magistralmente desenhadas por Fabio Civitelli. Curiosamente, será a primeira vez que Boselli pegará numa personagem tão marcante na história da série, centrando a trama no constante conflito com os seus dois alter-egos, o humano, mas fraco e débil Blacky Dickart, e o senhor da morte Yama. Ao centrar a história na construção interior da personagem atormentada que é Yama, senhor de enormes poderes, mas de uma forte instabilidade mental, na sua incapacidade em controlar as forças obscuras por ele evocadas, expondo assim as suas debilidades e a constante comparação com o pai Mefisto, Boselli explora como nunca um inimigo de Tex, conduzindo a aventura a uma espessura psicológica que Gianluigi Bonelli nunca fez, através de referências à mitologia indiana, desde as esculturas aos monstros lovercraftianos, revelando um autor de uma imensa cultura, característica que podemos testemunhar em Dampyr, outra série onde Boselli é também curador. Inicialmente receoso de enfrentar o desafio de desenhar uma história, destinada fatalmente a tornar-se num clássico, por via de um dos seus protagonistas, Civitelli tem aqui mais um desempenho fantástico. Apesar do seu estilo limpo e claro, para alguns (que ainda teimam em considerá-lo) pouco adaptado a estes ambientes tenebrosos e obscuros, a verdade é que o autor consegue jogar com luzes e sombras como poucos, muito por força da sua paixão pela fotografia, que tanta influência traz ao seu desenho, mas também porque este seu trabalho caracteriza-se por uma nova procura de tons que possam substituir os clássicos brancos e negros, procura que não advêm apenas do seu tradicional e tão apreciado pontilhado, mas também pela utilização de tons mais sombrios que interpretam graficamente de forma sublime toda a atmosfera fantástica do argumento de Boselli. Será esta a sua obra-prima? Difícil deixar aqui semelhante afirmação em razão dos seus trabalhos anteriores, sempre em crescendo. Aquilo que ressalta deste trabalho é que supera em pleno todas as possibilidades que uma história do género oferece, onde se inclui uma representação sublime e convincente de Yama.

Tex #678 – Jethro!

Ainda na série mensal, terminada a aventura com Yama, Mauro Boselli e Corrado Mastantuono apresentam Jethro, história que marcou o regresso de mais duas personagens, o negro Jethro Stevens e o antigo guerrilheiro nortista Glenn Corbett, ambas surgidas da veia criadora de Boselli, numa inesquecível e épica aventura desenhada por Carlo Rafaelle Marcello, La Grande Invasione, e que narrou a resistência de um grupo de prisioneiros e de colonos guiados por um jovem Tex Willer que, em Forte Quitman, salvaram o Texas da invasão dos Comanches de Tonkawa, Buffalo Chief e Quanah Parker. Desta vez, enquanto prepara a defesa do seu pequeno rancho face à investida de quem pretende apoderar-se das suas terras, Jethro vai narrando ao seu filho Alex um episódio vivido ao lado de Tex e Glenn, quando estes o acompanharam, finda a Guerra Civil, de regresso ao Mississipi para encontrar os assassinos da sua mulher e filho e onde foram obrigados a enfrentar os encapuçados racistas do Ku Klux Klan. Tal como a já citada La Grande Invasione, esta aventura deixa-nos o mesmo sabor épico, o mesmo paladar das grandes aventuras texianas, um hino à amizade e um sublinhar dos grandes valores morais. Uma vez mais, Boselli é superior na caracterização psicológica das personagens, que nesta história parecem ser construídas de modo bonelliano, já que, ao não fazerem qualquer concessão ao seu modo de ser, não deixam qualquer dúvida sobre o seu real caráter, uma vez que, mesmo terminada a Guerra Civil, o racismo continua bem presente no velho Sul, uma terra sempre habituada a ver o negro como escravo e onde se mantêm bem presentes e enraizadas convicções profundamente erradas. Uma atmosfera de ódio, medo, violência e injustiça, extraordinariamente desenhada por Corrado Mastantuono que, de aventura em aventura, vai assinando trabalhos de qualidade superior. Um desenhador que se suplanta em ambientes noturnos, com condições agrestes, sobretudo com chuva e temporais, na caracterização das personagens e, cada vez mais, na construção do próprio herói, um Tex granítico como poucas vezes o vimos.

Página de Il Ritorno di Lupe – Arte de Alessandro Piccinelli

Em agosto, na série mensal, surge Il Ritorno di Lupe, de Mauro Boselli e Alessandro Picccinelli, aventura que, tal como o seu título assim o indica, marcou o regresso de Lupe Velasco, uma das primeiras personagens da história da série, cuja primeira aparição deu-se em 1950 na aventura Lupe, la Messicana, de Gianluigi Bonelli e Aurelio Galleppini. Apesar de apenas ter surgido nessa já longínqua aventura, a verdade é que Lupe tornou-se numa das personagens femininas mais conhecidas e fascinantes. Foi a primeira mulher a apaixonar-se verdadeiramente por Tex, a primeira que lhe deu a conhecer os seus sentimentos e o pediu em casamento, sendo também a única que, até hoje, deixou o herói embaraçado, acabando o jovem cowboy por abandonar Lupe depois desta lhe ter salvo a vida. Esta é mais uma aventura de regresso ao passado de Tex, uma vez que o jovem Kit Willer, ao salvar uma jovem mexicana, Luz de seu nome e afinal filha de Lupe, acaba por criar as condições para que o seu pai possa reviver mais um episódio do seu passado, quando, ainda Kit era uma criança, Tex viveu uma aventura no México, julgando que, desde essa altura, Lupe estivesse morta. Mais um excelente trabalho de Alessandro Piccinelli, com um desenho de grande realismo, uma superior construção das personagens e uma Lupe plena de sensualidade.

Nueces Valley – Maxi Tex 31

Depois do regresso destas personagens, o ano ficou também marcado com um regresso ao passado do herói, sublinhado nomeadamente através de três aventuras. Em termos de cronologia dos acontecimentos, a primeira é Nueces Valley, publicada no Maxi Tex, um longo e fascinante retorno ao passado do nosso herói, que se inicia alguns meses antes do seu nascimento, quando os seus pais Ken e Mae Willer acompanhavam uma caravana de pioneiros com destino a Nueces Valley no Texas. A aventura continua nos anos da sua infância, ao lado do irmão Sam e do velho Gunny Bill, até chegar aos seus tempos de juventude, quando Tex conduz uma manada de gado até Corpus Christi.

Os pais de Tex na arte de Pasquale Del Vecchio em Nueces Valley

Um Tex como ainda não tínhamos visto, um relato épico que mergulha nas origens de alguém que se veio a tornar numa verdadeira lenda, através de alguns episódios vividos na companhia de Jim Bridger, um explorador que realmente existiu e contribuiu para a História do Oeste. Nueces Valley junta-se assim a Il magnifico fuorilegge e a Il vendicatore (aventuras de que falaremos em seguida), para constituir uma trilogia sobre o passado de Tex. Del Vecchio desenha cada vez melhor! Um valor sólido na equipa de Tex, com um desenho clássico, de grande visibilidade e um respeito máximo pela tradição. Os seus estudos de personagens que nos são apresentados neste Maxi Tex são absolutamente uma beleza, sobretudo a composição de Mae Willer, comprovando estarmos em presença de um autor que nunca nos engana e que apresenta sempre o melhor de si.

Il Vendicatore – Capa de Stefano Andreucci

Outro episódio do passado de Tex encontra-se em Il vendicatore, o sexto álbum cartonado de Tex editado pela SBE, aventura assinada por Mauro Boselli e Stefano Andreucci, uma equipa já habituada a trabalhar em conjunto noutras séries como Dampyr e, nos anos 90, Zagor. É de referir que os poucos (infelizmente) trabalhos que Andreucci já desenhou para Tex foram sempre escritos por Boselli. Voltando a este cartonado, depois de Serpieri, Alberti, Stano, De Vita e um tributo a Galep com a aventura Gli sterminatori, Il Vendicatore volta a contar um episódio da juventude de Tex, com os respectivos eventos a ocorrerem pouco tempo após o assassinato de Ken Willer, o pai de Tex. Esta aventura inicia-se quando o velho Gunny Bill é morto, depois de ter acompanhado Tex ao México em busca dos assassinos do seu pai. Existe, assim, um arco de ligação com o relato que, décadas atrás, Gianluigi Bonelli apresentou em Il passato di Tex. Uma trama plena de ação e um ritmo trepidante, desenhada por um Andreucci de altíssimo nível, aqui fazendo uso de enquadramentos e uma planificação muito moderna, onde consegue condensar com qualidade várias cenas na mesma página, como é característico nesta publicação.

Il Vendicatore – Arte de Stefano Andreucci

Um desenhador que sente o mesmo à vontade com o preto e branco e a cor (de um excelente Matteo Vattani), assim como com uma planificação mais conservadora ou moderna. Com estas aventuras publicadas nos cartonados, Boselli prova que uma série como Tex pode experimentar outras fórmulas e outras vias, destacando-se da série mensal, com as histórias a abandonarem os extensos diálogos, o que, em conjunto com outra planificação, acelera a narração. Certamente que, nestas aventuras, na maior parte das vezes Tex tem agido sem a companhia dos seus habituais pards, nomeadamente sente-se a falta dos saborosos diálogos mantidos com o resmungão Carson. Mas para isso, felizmente, temos a série mensal sempre à nossa espera.

Il magnifico fuorilegge – Capa de Stefano Andreucci

Finalmente, com Il magnifico fuorilegge, aventura publicada no Speciale, fecha-se a trilogia de regressos ao passado do herói. A aventura centra-se num novo capítulo ligado ao seu passado de rebelde pistoleiro, desta vez injustamente acusado do assassinato de três exploradores de ouro. É o próprio Tex que vai narrando os acontecimentos, a Carson e ao filho Kit, de uma época de cavaleiro solitário inseparável do seu fiel cavalo dinamite, o extraordinário animal de inteligência quase humana e que assim também regressa à série. Il magnifico fuorilegge é uma história de ação, amizade e traições, onde Tex conhece Will Kramer, um jovem dotado no disparo e decidido a fazer nome no velho oeste, uma personagem que, tudo aparenta, Boselli poderá fazer regressar mais tarde, mas onde o nosso herói também trava conhecimento com Cochise pela primeira vez. Boselli joga muito bem com a figura de Tex, uma vez que é a evolução da personagem ao longo da aventura que aqui merece ser sublinhada, de jovem irrequieto até a um gradual amadurecimento, começando a dar sinais de algumas das características que o marcarão em adulto, a honestidade, o senso da honra e a integridade.

Il magnifico fuorilegge – Esboços na arte de Stefano Andreucci

A servir esta aventura fascinante, encontramos as páginas maravilhosas (desta vez a preto e branco) de Stefano Andreucci, que consegue manter uma grande coerência gráfica ao longo de toda a aventura, construindo personagens altamente expressivas, que actuam em cenários dinâmicos, enquadrados cinematograficamente. Um estilo marcadamente moderno, sem contudo renegar a composição fundamentalmente clássica dos cânones editoriais da SBE. Il magnifico fuorilegge é, deste modo, um dos vários exemplos de reconstrução do passado de Tex que Boselli tem vindo a imprimir na série. Uma reconstrução através de vários episódios que se podem desenvolver em pontos e épocas onde as aventuras, até agora contadas, não chegaram, no fundo a presentear os leitores com uma espécie de legado biográfico que uma personagem, com quase setenta anos de vida, amplamente merece.

Il ragazzo rapito – Tex 676

Num ano recheado de regressos, houve, no entanto, espaço para outras aventuras. Na série mensal, por exemplo, encontramos duas aventuras no mais puro estilo clássico. A primeira foi Il Ragazzo Rapito, escrita por Tito Faraci e desenhada por Gianluca Acciarino, a aventura conta-nos a historia de Kenneth Bowen, um pistoleiro contratado para abater um rancheiro e que acaba por salvar o seu filho, nascendo entre ambos um relacionamento de carinho e afeto. A presença da criança acabará por reviver no pistoleiro o sentimento de humanidade que havia perdido quando assassinaram a sua família, levando-o a optar por uma existência errante de pistoleiro contratado. Página após página, Bowen começa gradualmente a demonstrar o seu verdadeiro caráter e personalidade, revelando pela criança o mesmo amor que nutria pelo seu próprio filho. Se partirmos do princípio que nesta aventura não contámos com o regresso de personagens de outras aventuras, houve, no entanto, outro regresso, o de apresentar uma história com um bandido humano e simpático para o leitor, deixando a Tex a decisão de optar pelo seu destino.

Il ragazzo rapito – Tex 676 – Arte de Gianluca Acciarino

Com isto, Faraci apresenta um Tex capaz de compreender a essência humana, capaz de ver para além das leis, capaz de saber que os homens podem por vezes mudar, algo que autores como Gianluigi Bonelli em Il cacciatore di taglie ou Claudio Nizzi em Puerta del Diablo, já tinham apresentado, e que se encontra também patente nas últimas palavras proferidas por Tex na curta história de Mauro Boselli e Enrique Bertozzi, Abilene, Kansas, publicada no Color Tex 12: “… para ser justo, nem sempre se deve seguir à risca e escrupulosamente a lei“. Depois do próprio leitor ter perdoado Bowen e de se ter afeiçoado à personagem, entra aqui o modo muito próprio de Tex compreender os homens e o mundo que o rodeia, tornando Il Ragazzo Rapito numa das melhores histórias de Faraci, juntamente com L’Uomo di Baltimora, apesar de, mais uma vez, o autor não inserir os quatro pards em conjunto. Bowen é por assim dizer o verdadeiro protagonista da aventura, o que, ao mesmo tempo, representa o ponto fraco da mesma, porque remete Tex para um papel, não diremos secundário, mas menos interveniente e quase sempre atrás dos acontecimentos. Por seu lado, Gianluca Acciarino tem aqui o seu segundo trabalho na série, depois de Tombstone Epitaph, revelando ser um desenhador com muito talento. Relativamente ao seu trabalho anterior, registam-se notórios progressos, quer na fisionomia de Tex e Carson, como sobretudo nas restantes personagens, todas construídas de modo expressivo e diversificado. Referência ainda para a magnífica capa do primeiro álbum desta aventura, com Claudio Villa a optar por criar um desenho de justaposição, uma técnica já desenvolvida em 233 (Collezione Storica a Colori) e em 642 da série mensal.

La pista dei Forrester – Tex 680

Ainda na série mensal, La Pista dei Forrester, de Pasquale Ruju e Lucio Filippucci foi outra aventura que nos permitiu respirar um pouco fora da órbita dos regressos. Uma aventura clássica com início no Texas Meridional, quando os três irmãos Forrester chegam à cidade de Kyle Creek, depois de mais um assalto efetuado em terras mexicanas. Depois de ter sido identificado, o jovem Timothy Forrester abate a sangue frio o xerife Desmond, um amigo de Tex, levando a que o ranger e o seu filho Kit sigam na pista do bando, mas vão ter que contar com a presença do general mexicano Ramirez que, acompanhado pelos seus pistoleiros, atravessou a fronteira disposto a vingar a morte do seu irmão, abatido pelos Forrester. Trata-se de uma história de famílias, a dos Forrester, onde surge Timothy, mais uma das várias personagens atormentadas que Pasquale Ruju tanto gosta de apresentar, acompanhado pelos irmãos Jerome, o mais velho e racional, o cérebro do bando, e Noah, forte como um touro e imbatível com a espingarda, juntos vivendo sob a proteção de uma mãe autoritária e da doce e compreensiva Lizzy, a única que consegue acalmar os cada vez mais frequentes ataques de pânico do irmão Timothy.

La pista dei Forrester – Tex 680 – Arte de Lucio Filippucci

Uma história de famílias também pelo facto de Ruju ter escolhido o seu filho Kit para o acompanhar, ao invés do seu habitual parceiro Kit Carson ou de Jack Tigre e, já agora, também porque o que move o general Ramirez é vingar a morte do seu irmão. Partindo de uma trama clássica, Ruju consegue cativar o leitor através de um dramatismo em crescendo, pautado aqui e ali por momentos mais contidos, onde sobressaem os diálogos de Tex com Jerome e a atração que Lizzy vai sentindo por Kit Willer. Afastado da série desde 2013, quando desenhou a última aventura de Nizzi, L’Oro dei Monti San Juan, referida acima, Filippucci surge em grande forma nesta aventura, com um desenho muito clássico e limpo que permite cada quadrado respirar e onde apresenta excelentes grandes planos de Tex.

Tex Magazine 2017

O segundo número do Tex Magazine volta a apresentar duas aventuras completas, Freedom Ranch, de 78 páginas, que assinala a estreia na série de Antonio Zamberletti (de Zagor e Dampyr), e ainda Terrore tra I Boschi, com 32 páginas, que também traz um novo nome, o de Chuck Dixon, ambos como argumentistas. No desenho das aventuras surgem dois nomes que se tinham estreado no Color Tex 10, Walter Venturi e Michele Rubini. A capa, mais uma vez de Claudio Villa, apresenta Tex ao lado da vedeta da segunda aventura, o seu filho Kit, tal como o número de 2016 tinha colocado o ranger ao lado de Carson, a estrela também da segunda aventura desse número, Maria Pilar. O conteúdo deste Tex Magazine é ainda ocupado com uma variedade de artigos dedicados ao western, nomeadamente as novidades cinematográficas, televisivas, literárias, assim como dois extensos dossiers, um sobre a figura de Buffalo Bill e outro dedicado aos jovens, filhos de grandes heróis, focando sobretudo Kit Willer.

Freedom Ranch, de 78 páginas, que assinalou a estreia na série Tex do argumentista Antonio Zamberletti (de Zagor e Dampyr)

Relativamente às duas aventuras propostas, Freedom Ranch é uma história de contornos humanistas, que toca no tema do racismo no velho oeste, que nesta aventura se estende aos índios e aos negros. Abraham Lawrence é um ex-Buffalo Soldier que, após a guerra civil que assolou o país, encontrou o seu espaço num rancho que ele próprio herdou e desenvolveu. Freedom Ranch faz justiça ao seu nome, porque ali os homens de todas as raças, assim como ex-prisioneiros, encontram o seu lugar e uma nova oportunidade de vida. Um espaço que assume um significado amplo e idealista num oeste violento, de ódio e onde a escravatura tinha sido abolida muito recentemente. No final, Zamberletti deixa um toque de esperança, porque derrotado o inimigo, quem sabe se um dia não haverá espaço para que um negro possa vir a ser governador ou mesmo Presidente?… Walter Venturi assume-se como um ótimo intérprete desta aventura, mercê de um traço metódico e detalhado, com excelentes sequências nas cenas de ação.

Terrore tra I Boschi, com 32 páginas, que também traz um novo nome, o de Chuck Dixon no argumento

Terrore tra I Boschi traz novamente um autor norte-americano para Tex. Depois de Gary Frank, que assinou a capa do Color Tex 10, estreia-se agora Chuck Dixon, autor conceituado e conhecido sobretudo por alguns ciclos de aventuras de Batman e Punisher. É uma aventura quase toda protagonizada por Kit Willer e onde o jovem, uma vez mais, prova estar perfeitamente à altura dos acontecimentos, demonstrando as suas inúmeras e inegáveis qualidades, mesmo sem a ajuda do pai ou dos outros pards. Uma aventura onde Michele Rubini, desenhador de Zagor e oriundo da escola de Stefano Andreucci, prova a sua grande capacidade e virtuosismo, com um estilo potente, elegante e sempre muito expressivo. O Tex Magazine assume-se assim como um banco de ensaio para argumentistas e desenhadores que devem ganhar confiança com as personagens e os ambientes da série, podendo posteriormente entrar ou não no staff dos autores.

Cowboys – Color Tex 11

O primeiro Color Tex do ano, habitualmente publicado no início do Verão, publica uma história completa de 160 páginas da autoria de autores do staff texiano, ao contrário da edição de novembro, onde o leitor pode encontrar histórias completas mais curtas, não obrigatoriamente assinadas por autores de Tex. Neste número, Pasquale Ruju e Giacomo Danúbio encontram-se ao leme de Cowboys, uma aventura cujo tema faz parte da tradição do velho oeste americano, o trabalho duro e árduo dos vaqueiros e das suas manadas, verdadeiros protagonistas de tantas e tantas epopeias. Desta vez, Carson, acompanhado de Tex, encontra um velho amigo, Alan Bannon, que se dirige com os seus homens e a sua manada até à cidade de Caldwell, onde pretende vender o gado e partir para o leste. Mas o perigo espreita, porque um velho inimigo de Bannon pretende vingar-se de um episódio ocorrido no passado, obrigando os rangers a juntarem-se ao grupo.

Cowboys – Color Tex 11 – Arte de Giacomo Danubio

Enquadrada por uma magnífica capa de Claudio Villa, com Tex em primeiro plano empunhando a sua Winchester, Ruju escreve uma aventura simples e linear, mas quase sempre em clímax narrativo, onde sublinha a dura atividade dos vaqueiros, frequentemente alvo de perigos e dificuldades, imprevistos ditados pela mãe natureza ou  vítimas de ataques de bandidos e índios. Giacomo Danúbio regressa a Tex, assinando com Cowboys a sua primeira grande aventura na série, uma vez que os seus anteriores trabalhos foram sempre aventuras mais curtas. O autor revela-se sempre muito mais à vontade nas cenas de ação, sobretudo quando vaqueiros e gado têm que lutar contra as condições agrestes do tempo, assim como na caracterização gráfica das personagens, principalmente as secundárias, apesar de alternar pouco na expressividade das mesmas.

Color Tex 12 – Capa de Maurizio Dotti

No segundo Color Tex do ano, dedicado às aventuras curtas, realce para os regressos de Pasquale Frisenda, que desenha Sparate Sul pianista, escrita por Pasquale Ruju, e de Claudio Nizzi, que escreve Dal Tramonto all’alba. Um regresso que promete não ficar por este trabalho, já que o autor, entretanto, já está a escrever uma aventura para Lucio Filippucci. Nesta publicação estreiam-se os argumentistas Andrea Cavaletto e um homem da própria editora, Giorgio Giusfredi, assim como os desenhadores Enrico Bertozzi, Alessandro Poli (cuja qualidade de trabalho parece “condená-lo” a ficar na série), Marco Soldi e Roberto Zaghi. Um número com uma magnífica capa de Maurizio Dotti, o primeiro autor do staff texiano a desenhar uma capa para o Color Tex dedicado as histórias curtas. Sublinhe-se ainda que a SBE publicou uma capa variante, esta assinada por Simone Bianchi, um desenhador de ponta da Marvel.

Io Ucciderò Tex Willer – Arte de Marco Soldi

Em jeito de conclusão, nada melhor que aproveitar as acertadas palavras de Graziano Frediani escritas no texto de abertura do Speciale, a propósito da aventura Il magnifico fuorilegge: “Não sei se, quando o criaram em 1948, (…) Gianluigi Bonelli e o desenhador Aurelio Galleppini tinham consciência das enormes potencialidades do jovem magrela com a camisa franjada...”. A verdade é que a estratégia de Mauro Boselli e da SBE apresenta potencialidades sem fim, destinada a explorar a arrojada juventude do herói que, de foragido a ranger, nunca deixou sobretudo de ser um justiceiro. Por isso, certamente que muito do passado do herói será conhecido no futuro.

* Texto de Mário João Marques publicado originalmente na Revista nº 7 do Clube Tex Portugal, de Dezembro de 2017.

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima clique nas mesmas)

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