SIMPLESMENTE TEX!

Por Jesus Nabor Ferreira


Eu havia prometido ao meu amigo José Carlos Francisco, o mítico Zeca, um texto para alguma das próximas edições da revista do Clube do Tex Portugal. Estava (estou) em meio a este trabalho, quando recebo a edição número 27 de Tex em Cores da Mythos e abandono tudo para me deleitar com esta preciosidade. Que capa, que apresentação impressionante. Todo o talento de Claudio Villa soberbamente estampado em uma imagem poderosa sem nenhuma poluição visual, o editor acertadamente deixa livre de qualquer texto a arte magnífica deste grande desenhador. Mas este foi apenas o primeiro detalhe que me fez perceber que esta edição diferenciar-se-ia das demais até então publicadas. A capa já impressionava, mas o conteúdo interior não fica atrás, pois neste volume pode-se dizer que estão presentes os elementos que fundamentaram a grande lenda do herói Tex Willer. E não apenas por conta do texto contagiante, vibrante, envolvente, inovador e que bebe directamente das grandes obras da literatura infanto-juvenil mundial (falaremos sobre isto mais adiante), mas também por contar com a mestria de um Aurellio Galleppini que se encontra no auge do seu talento artístico.  Vamos então descobrir os tesouros, os perigos e os horrores que magicamente G. L. Bonelli e Aurelio Galleppini apresentam neste volume tão especial.


A Fabulosa Cidade de Ouro – A aventura que havia se iniciado no número anterior da série continua aqui com os magistrais desenhos de um Galep com pleno domínio das técnicas narrativas e de um estilo clássico de desenhar, sejam pessoas, sejam objectos, sejam habitações, sua recriação de uma cidade e seus habitantes da Europa da idade média é perfeita. É nesta comunidade, esquecida do mundo, que Tex e Jack Tigre chegam e deparam-se com a clássica situação em que um tirano, o Príncipe Negro, domina a cidade com mão de ferro impondo a todos a sua vontade. Mas há um grupo de moradores que não aceita a situação e preparam uma revolta para derrubar o vilão e libertarem-se da tirania.  Não é segredo para nenhum leitor que G. L. Bonelli tinha entre seus autores preferidos de todo o sempre o grande Alexandre Dumas e entre suas obras, uma das mais queridas pelo “papa” de Tex, estava justamente Os Três Mosqueteiros. Portanto nada mais natural que, dado a grande habilidade que tinha Bonelli para criar os seus argumentos, que ele viesse a homenagear o seu autor preferido, inserindo as suas personagens em um cenário de “capa e espada” entre intrigas da corte e príncipes traiçoeiros, bufões e até mesmo um astrólogo famoso. Qual o destino da Fabulosa Cidade de Ouro e de seus seculares habitantes, de Tex e de Tigre, é o que se descobriremos ao final de mais de cem páginas de espectacular acção e aventura… (esta história foi publicada pela primeira vez no Brasil no número 36 da colecção mensal da editora Vecchi, em Fevereiro de 1974 – Curiosidade: a aventura foi publicada incompleta nas duas vezes que a Vecchi a editou)


Um Assalto Audacioso – Deixando de lado as cidades perdidas e os povos misteriosos, Bonelli e Galep apresentam-nos uma típica aventura do velho Oeste em que não faltam tiroteios, emboscadas, explosões e bandidos cruéis dispostos a tudo. A violência explode em uma cidade do Colorado, Yucca Flat, quando três perigosos criminosos assaltam o banco da cidade deixando atrás de si um rasto de destruição e sangue. O que os marginais não esperavam é que justamente naquele dia, para seu azar, Tex e seus amigos estavam de passagem pelo lugar. Ao reconhecer os sicários, Tex, Kit Carson e Kit Willer, juntam-se ao xerife e a um grupo de voluntários em perseguição aos assaltantes. Começa uma caçada humana que vai dividir os três amigos, cada um deles seguindo uma pista, pois os assaltantes inteligentemente separam-se para dificultar a caçada e também para emboscarem os seus perseguidores. Logo os problemas mostram-se muitos e o kit Willer acaba ficando sozinho em caça ao seu alvo. E é justamente o jovem filho de Águia da Noite quem vai enfrentar o mais perigoso dos três vilões. Mas os outros dois também dão muito trabalho a Tex e a Carson. E tudo irá terminar no clássico duelo na cidade fantasma, situação tão comum quanto impactante em qualquer história do velho Oeste. Esta aventura curta (75 páginas) nem por isto carece de qualidades, qualidades que a fizeram estar sempre entre as mais lembradas desta fase clássica do Ranger. Seja por conta da construção enxuta, mas electrizante, de um enredo conhecido – o assalto, a perseguição, o desfecho –  recheado com ingredientes explosivos ( literalmente), impactantes, dramáticos  e acção constante, tudo belamente ilustrado por Galep em pleno auge, tornam esta aventura muito apreciada pelos leitores. (esta história foi publicada pela primeira  vez no Brasil na edição número 12 da série mensal de Tex –  Fevereiro de 1972 – Como curiosidade esta edição trouxe pela primeira vez duas histórias curtas : A Ferro e a Fogo /  A Resposta é Dinamita)


Ladrões de Armas – Uma aventura curta, desta vez, não a cargo do valoroso Galep, mas sim de um auxiliar de luxo que aos poucos ganharia o seu lugar no panteão dos desenhadores texianos: Virgilio Muzzi. Mais uma aventura clássica envolvendo renegados contrabandistas de armas e índios revoltosos e o ganancioso traidor. Tex e os seus amigos aceitam a missão de descobrir e acabar com o tráfico de armas.  (esta história nunca foi publicada pela Vecchi, os leitores só a conheceram décadas após a sua publicação na Itália quando do surgimento da série Tex Coleção)


O Vale do Medo – Mais uma verdadeira obra-prima de Bonelli e Galep, esta aventura está na lista das melhores histórias de todos os tempos da saga do Ranger. Um dos temas mais caros ao grande escritor está presente nesta magnífica aventura que se inicia neste volume e irá se descortinar aos olhos maravilhados dos leitores na edição seguinte: o horror e o suspense. São apenas 15 páginas que apresentam Tex em uma aventura solitária onde ele irá encontrar um inimigo nunca antes enfrentado: o cortador de cabeças! O Vale do Terror como foi intitulado no Brasil este episódio, traz mais uma vez o trabalho primoroso de Galep em seu auge e tem na construção das personagens e da trama sui generis para o universo texiano todo o seu diferencial. Bonelli cozinha em seu caldeirão de ideias elementos dos géneros fantástico e suspense com magistral harmonia, sem esquecer-se da acção. Também fica claro nesta aventura, se ainda não havia ficado para os leitores, que Tex é verdadeiramente um homem sem medo! Diante das mais estranhas e assustadoras situações o valente Ranger permanece impassível, destemido e com controle total sobre as suas acções. Mesmo ao deparar-se com um “monstro” que apavorou e causou o fim de outros homens, Tex mantém o sangue frio e consegue salvar-se. Mas nem só de acção é feito um grande herói, Tex também age com inteligência e por fim acaba descobrindo os segredos e os mistérios do Vale do Medo… ( esta aventura foi publicada pela primeira vez no Brasil no número 6  da série mensal de Tex – Julho de 1971 –  e desde então vem sendo uma das mais lembradas pelos fãs)

Ao folhear novamente este volume tão especial desta também especial colecção a cores, não posso deixar de pensar em outra série, especialíssima, que sai na Itália chamada Albo Cartonato Mondadori. E que não foi por acaso que os editores desta prestigiosa série escolheram para estrelar em seu primeiro número, Il mio nome é Tex,  justamente o episódio O Vale do Terror. Foi por conta da sua qualidade, que esta soberba história, teve a honra de ser a primeira publicada em um formato luxuoso e inédito para a época que mereceu várias republicações ao longo dos anos. Mas O Vale do Terror, das aventuras que abrilhantam o número 27 da edição em cores da Mythos, não foi a única a entrar no rol das aventuras especialíssimas publicadas pela Mondadori, pois também “Um assalto audacioso” mereceu entrar em um dos primeiros números da colecção Cartonato: Tex e i fuorillegue. Um álbum primoroso que se encontra esgotado.


Por tudo isto é que sem sombra de dúvidas este número 27 da Tex Edição em Cores é verdadeiramente especial. Uma relíquia para se guardar para sempre, um verdadeiro baú repleto de tesouros bonellianos. E o mais importante, é que estamos redescobrindo, na magia das cores, as histórias que, como disse no início deste texto, sedimentaram para sempre a lenda de Tex no coração de todos os leitores. Foram estas aventuras, do fim dos anos 50, portanto com mais de sessenta anos, mas que permaneceram admiráveis graças à qualidade imortal do trabalho de seus autores, que legaram ao mundo a instituição chamada Tex!

Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

10 Comentários

  1. Oi Jesus!

    lendo o seu texto agora, me veio uma saudade boa de quando era guri e li estas histórias, editadas pela Vecchi em formatinho P&B. ‘Brigado pela partilha e por reavivar a minha memória!

    Abraços,

    Sílvio Introvabili

  2. Maravilhoso o texto do Jesus, parabéns! E com curiosidades que sempre, volta e meia contamos uns aous outros. Obrigado por compartilhar conosco teu vasto conhecimento no que diz respeito a TEX.

  3. Belo texto sobre Tex e suas aventuras. Gosto muito do enredo de FABULOSA CIDADE DE OURO (já li e reli umas 3 vezes).

  4. Caro Celso, sim, esta aventura já foi republicada pela Mythos.
    Amigo Silvio, realmente somos tomados por uma nostalgia boa quando pegamos novamente estas velhas edições em preto e branco da época da Vecchi. Agora com esta nova coleção em cores da Mythos, estou relendo aquelas velhas histórias. Abraço, meu amigo.
    Caro Marcelo, obrigado pelas palavras, e enquanto eu puder seguir divulgando nosso herói será sempre um prazer.
    Abraço.

  5. Magnífico trabalho do pard Jesus Nabor Ferreira (a quem envio um grande abraço), recordando grandes aventuras de outros tempos que eu só pude ler, pela primeira vez, no Tex Coleção. E já lá vão muitos anos! Quando o Tex em Cores nº 27 chegar a Portugal, não o deixarei certamente fugir…

  6. Zeca, o pard Jesus, como vosmicê, é aquele pard que tem condições suficientes para ‘livrar’ com os seus conhecimentos, que são muitos. Ambos escrevem muito bem e são donos de coleções fabulosas.
    N.A.=(livrar = escrever livro, ou lançar livro / dicionário novo de língua direita)

    • Pard GG,
      Eu tenho a ambição de um dia publicar um livro dedicado ao nosso Tex, mas será lá mais para diante, quando eu tiver mais tempo para me dedicar a esse projecto. Para já o tempo mal dá para o blogue do Tex e para a revista do Clube Tex Portugal, mas concordo consigo, o pard Jesus tem condições para “livrar”, aliás ele inclusive já foi convidado para colaborar com a revista do Clube Tex Portugal, colaboração esta que será já na nossa revista nº 3 e com um texto ao nível que o pard Jesus já nos habituou…

  7. Caro amigo Jorge Magalhães, retribuo o seu abraço e agradeço as palavras de incentivo, muito gentil da sua parte, meu bom amigo. Não perca esta edição que realmente vale a pena, as aventuras nos remetem aqueles tempos nostálgicos de nossa infância ou adolescência.
    G.G.Carsan, você é o nosso “livrador” oficial caro pard, mas quem sabe um dia, seguindo seu bom exemplo, eu não me aventure a “livrar” um trabalho mais longo sobre nosso herói.
    Amigo Zeca, eu fiquei muito honrado em colaborar com a revista do Clube Tex Portugal e espero que os amigos gostem do que escrevi. Um grande abraço a todos os amigos.

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