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As Leituras do Pedro: Dylan Dog & Martin Mystère + Tex Willer e Zagor (Encontros de heróis)
As Leituras do Pedro*
Dylan Dog & Martin Mystère: O abismo do mal
Originalmente publicada em Maxi Martin Mystère #10 (Itália, 2018)
Carlos Recagno e Alfredo Castelli (argumento)
Giovanni Freghieri, Giuseppe Matteoni, Luca Enoch, Giancarlo Alessandrini, Lucio Filippucci, Giuseppe Palumbo, Nicola Genzianella (desenho)
Mythos Editora
Brasil, 2024
160 x 210 mm, 192 p., pb, capa mole com badanas
Tex Willer Especial #3 – Tex Willer encontra Zagor
Originalmente publicada em Tex Willer Speciale #3 (Itália, 2021)
Mauro Boselli (argumento)
Alessandro Piccinelli (desenho)
Mythos Editora
Brasil, 2022
160 x 210 mm, 128 p., pb, capa mole
Encontros de heróis
Penso que todos aqueles que leram na idade certa banda desenhada de aventuras, com heróis fixos – franco-belga, Bonelli, super-heróis… – sonharam um dia com um encontro entre (alguns d)eles.
Clarifico: falo de algo que, acredito, em determinadas alturas passa pela cabeça dos leitores de (séries de) BD: o encontro (improvável) entre heróis distintos, embora pertencentes ao mesmo universo – ou nem tanto, quando considerámos os casos – concretizados – de super-heróis da Marvel e da DC Comics.
O acaso, que faz bem as coisas, fez-me chegar às mãos, de proveniência similar mas diferente, na mesma altura – e eu fiz coincidir nas minhas leituras, porque o acaso por vezes precisa de uma ajudinha… – duas edições que tornam esses devaneios em realidade: Dylan Dog & Martin Mystère: O abismo do mal e Tex Willer encontra Zagor.
DD e MM já se tinham encontrado anteriormente, por duas vezes, a última das quais há quase 30 anos. Agora, juntam-se de novo para enfrentarem algo que parece saído directamente do inferno e que combina os maiores pesadelos com tudo o que parece impossível. Para complicar, pelo meio há o rapto de uma mulher que diz algo a ambos e em cuja salvação ambos apostam.
O tom épico do relato, em especial na segunda metade do livro, torna a leitura quase arrebatadora, e mesmo o antagonismo entre Dylan e Martin, que se repete ao longo de boa parte da narrativa, torna mais desafiadora a proposta de Carlos Recagno e de Alfredo Castelli.
Para mais, quando os dois investigadores, um do pesadelo, outro do impossível, vão enfrentar um vilão improvável – que até pertence a um terceiro universo Bonelli! – o que permite a aparição fundamental do herói que geralmente o enfrenta.
O tom épico é realçado tanto por este factor, como pelas belas páginas finais, quando o combate decisivo se faz sentir em todas as dimensões dos universos da Sergio Bonelli Editore.
A outra parceria, intimamente desejável mas improvável, surge no Especial Tex Willer #3, em que o jovem Tex encontra um envelhecido Zagor, para respeitar a cronologia de uma e outra série.
As diferenças que levaram cada um a aceitar a missão de justiceiros e o modo como levam a cabo essas missões, acabam por provocar – mais uma vez, como no caso anterior – um certo choque se não antagonismo, que o bem maior – o sucesso da missão que empreenderam – acaba por atenuar e fazer desaparecer, num western de contornos clássicos.
Mesmo tendo em conta o bom nível gráfico de uma e outra, mais relevante no caso do encontro dos dois detectives, dado o grande número de ‘mãos’ envolvidas – bom nível que, aliás é apanágio da Bonelli – estas podem não ser histórias para figurar nas listagens das mais conseguidas de cada uma das personagens – mais a segunda do que a primeira – mas a verdade é que, o simples facto de terem cumprido sonhos de adolescência de muitos leitores, já será suficiente para terem um lugar especial nas suas – nas minhas… – listagens.
* Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro
(imagens disponibilizadas pela Mythos e pela Sergio Bonelli Editore; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)
York da Silva Corrêa, sócio do Clube Tex Portugal, segundo o RankBrasil é o novo MAIOR colecionador brasileiro de Tex Willer
Com mais de 6.700 itens, incluindo quase 6.000 revistas, York da Silva Corrêa conquista o título de maior colecionador brasileiro da revista Tex.

York da Silva Corrêa, sócio do Clube Tex Portugal, é o novo MAIOR colecionador brasileiro de Tex Willer
O RankBrasil reconhece oficialmente York da Silva Corrêa, de Campo Grande (MS), como o maior colecionador brasileiro da revista Tex. Com um impressionante acervo de 6.709 itens, sua coleção inclui revistas, pósteres, action figures e materiais diversos relacionados ao famoso personagem dos quadradinhos italianos. Desse total, quase 6.000 são exemplares de banda desenhada, configurando um marco histórico no universo dos colecionadores brasileiros.
A paixão de York começou ainda na infância, no ano de 1982, e foi intensificada com o tempo, especialmente após conhecer outros grandes colecionadores como Adriano Rainho e João Marin. “Ver a coleção do Adriano me motivou a querer alcançar esse nível. Quando o João o ultrapassou, isso reacendeu ainda mais meu sonho“, comenta o recordista.
Entre as preciosidades de seu acervo, destacam-se a raríssima edição História do Faroeste nº 22, considerada o formatinho mais raro e valioso do Brasil, e um conjunto de revistas Tex adquiridas na Turquia. “Essas revistas turcas são especiais. Fui buscá-las em Istambul ao lado da minha falecida esposa. Elas têm um valor emocional imensurável para mim”, compartilha York com emoção.
A coleção é internacional: ele já visitou quase 40 países, sempre com o objetivo de encontrar novas edições de Tex. Entre os países representados em sua coleção estão Holanda, França, EUA, Índia, Turquia, Espanha e até China, tornando seu acervo não só numeroso, mas também culturalmente diversificado.
York é ativo na comunidade de colecionadores e compartilha sua paixão por meio do Instagram @super.gibis, onde expõe grande parte de seu acervo. Ele já participou de diversos encontros de quadradinhos e expressa o desejo de se envolver ainda mais com eventos desse universo.
Com dedicação, história e um acervo de tirar o fôlego, York da Silva Corrêa conquista o título de maior colecionador de Tex do Brasil, eternizando seu nome nos registos do RankBrasil.
Recorde Superado:
Recordista | Cidade / Estado | Numero de itens | Ano |
York da Silva Corrêa | Campo Grande (MS) | 6.709 | 2025 |
João Batista Marin | Londrina (PR) | 5.321 | 2018 |
Adriano Rainho | Santo André (SP) | 3.039 | 2013 |
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Tex na belíssima Arte de Sandro Scascitelli; 2025
As Leituras do Pedro: Cheyenne
As Leituras do Pedro*
Cheyenne
História originalmente publicada em Romanzi a Fumetti #34 (SBE, Itália, 2017)
Michelle Masiero (argumento)
Fabio Valdambrini (desenho)
Editora 85 e Lorobuono Fumetti
Brasil, Julho de 2023
160 x 210 mm, 288 p., pb, capa cartão com badanas
49,90 R$
Só um western
Descobri Michel Masiero em Mister No: Revolution e, desde então tenho de alguma forma tentado acompanhar a sua escrita pelo modo como conseguiu, naquele caso concreto, reinventar numa outra época os momentos determinantes da vida da personagem Mister No.
Até agora não me tenho dado mal e este Cheyenne confirmou a boa opinião que tenho do argumentista.
Argumentista este que, fundamentalmente, tem sabido reinventar os temas que aborda. No caso presente estamos perante um western tradicional. O ponto de partida vai ser (reparem no tempo do verbo) o ataque de um bando de índios cheyenne a uma carroça de brancos, matando os dois ocupantes adultos e raptando um pequenito ainda bebé.
O miúdo crescerá no seio da tribo, até ao dia em que um ataque de soldados – deveria ter escrito massacre – termina com o cumprimento de objetivo inicial: recuperar a criança branca.
As consequência iniciais do rapto no seu avô e a (re)adaptação posterior do miúdo ao modo de viver ‘civilizado’ dos brancos, na prática uma nova realidade que já não é – que na verdade nunca foi – sua, serão os pontos fortes de uma narrativa que parece banal e já várias vezes ouvida, mas que se destaca de outras similares pela forma como Masiero a montou, com sucessivos saltos ao passado e ao futuro, em lugar de utilizar uma linha condutora cronologicamente estável. Dessa forma, vamos recebendo fragmentos do relato que temos de montar mentalmente para conseguir ficar com todo o retrato ponto visível.
Esta opção, torna a leitura mais exigente e, por isso, mais satisfatória. Para além disso, é uma história sobre inadaptação, sobre recusa da realidade e sobre auto-compaixão, sobre recusa da diferença e não-aceitação dos outros, que torna mais humano um conto original com a base histórica que se lhe reconhece, da progressiva expulsão dos índios dos territórios que lhes pertenciam e do avanço civilizacional – se é que é este o adjetivo mais adequado para os brancos e a sua forma de agir.
* Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro
(capa brasileira disponibilizada pela Editora 85; restantes imagens disponibilizadas pela Sergio Bonelli Editore; clicar nas imagens para as apreciar em toda a sua extensão)