OS DURÕES TAMBÉM RIEM

Por Júlio Schneider*

Bonelli Kids é uma divertida série de tiras que retrata algumas personagens da Sergio Bonelli Editore (SBE) como crianças que se envolvem nas mais variadas confusões. As primeiras tiras apareceram no sítio internet da editora no início de 2017 e, no ano seguinte, foram todas compiladas num volume impresso de pequeno formato. Escrita por Tino Adamo, Sergio Masperi e Alfredo Castelli, e desenhada por Luca Bertelè, a primeira série bonelliana humorística, criada para leitores pequeninos, conquistou logo os fãs tradicionais que divertem-se a ver, entre outros, o jovem sabichão tagarela Martin, o pequeno Mister No que pensa ser um sedutor, o menino Zagor que sempre cai do cipó, e até o traquinas Alf, “o menino mais velho do mundo“, que lembra muito – no nome, na fisionomia e nas atitudes – Alfredo Castelli!

Mas entre as várias personagens retratadas na série não está Tex Willer, o principal nome da Casa Bonelli. Segundo os editores, por respeito, pelo facto de Tex ser uma instituição nacional e, praticamente, sinónimo da BD italiana, decidiu-se não o envolver num projeto que, ainda que de forma divertida, mexe com a visão tradicional das personagens retratadas. Também há nobreza da parte dos editores em não pretender fazer algo que eles não sabem se seria aprovado por quem criou e deu consistência à personagem que é o sustentáculo da editora, e por não saberem se estariam à altura das brincadeiras feitas com Tex pelos próprios criadores Gianluigi Bonelli e Aurelio Galleppini e pelo então editor Sergio Bonelli, que em certas épocas decidiram fazer graça com o grande Águia da Noite, obtendo resultados que conseguiram fazer o leitor sorrir, sem que fosse preciso desmitificar a personagem. Em 1985, por exemplo, o sóbrio herói viveu uma cena irónica, desenhada pelo mestre Galep: Tex e Jack Tigre param para acampar à noite, num local escuro, e, quando acordam, veem-se numa praia cercados de veraneantes. Outro bom exemplo, também com desenhos de Galep, viu-se na última página do n° 1 de Os Grandes Clássicos de Tex (Ed. Mythos, 2006), em que Tex leva uma sonora pancada na cabeça aplicada por Lilyth com um rolo de macarrão, numa cena digna de comédia de costumes.

Tex leva uma sonora pancada na cabeça aplicada por Lilyth com um rolo de macarrão, numa cena digna de comédia de costumes.

Em 2004, por licença da SBE, a editora italiana Hazard publicou um livro com vários momentos dos heróis bonellianos em situações, digamos, não muito ortodoxas, entre as quais a que reproduzimos ao lado, com diálogos de Guido Nolitta e desenhos de Claudio Villa: uma noite, num acampamento, Tex diz a Jack Tigre que os índios são pessoas de poucas palavras, que passam horas quietos e, quando alguém conversa com eles, respondem apenas ugh!; quando estão no meio de um tiroteio, o único comentário é ugh!; se cai um raio a dois metros de distância, exclamam ugh!; se encontram uma jazida de ouro, manifestam surpresa dizendo ugh!; e tenta arrancar do calado parceiro o significado da interjeição, recebendo uma resposta quilométrica, sem sentido e divertida.

Como disse o saudoso editor Sergio Bonelli (autor da cena em que Tex leva o rolo de macarrão na cabeça), “a vida de todo dia é muito dura e séria, faz bem rir um pouco“. Mesmo que o objeto do riso seja – mas não com muita frequência – o nosso Ranger preferido, granítico e setentão.

* Texto de Júlio Schneider publicado originalmente na Revista nº 9 do Clube Tex Portugal, de Dezembro de 2018.

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima clique nas mesmas)

3 Comentários

  1. Pard Zeca, já foi divulgado ou há estimativas de quantas cópias Tex já vendeu desde 1948? Eu chutaria que deva ter passado dos 300 milhões, mas é apenas um chute.

    • Que eu saiba nunca houve essa estimativa, mas assim por alto acho que seus números são de considerar… são um bom chute 😉

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