* Por Edgar Indalecio Smaniotto
O Oeste segundo CIVITELLI
Falar de histórias aos quadradinhos de faroeste no Brasil é quase sinónimo de falar de Tex, a omnipresente personagem bonelliana, que é em si uma constante nas bancas brasileiras. Este resenhista, por exemplo, é um coleccionador e fã assumido desta personagem, e apesar de não poder ter comparecido no 17º Fest Comix em São Paulo, realizada entre nos dias 15, 16 e 17 de Outubro, como muitos texianos ficou entusiasmado com a presença de Fabio Civitelli no evento.
A fim de homenagear um dos melhores desenhadores de Tex, em sua primeira vinda ao Brasil, foi lançado no evento o livro ilustrado O Oeste segundo CIVITELLI: nas páginas de Tex Willer (Editora Mythos, 2010, formato 20,5 x 27,5 cm, 152 páginas), editado por Giuseppe Pollicelli e Sergio Pignatone. Neste livro temos a reunião de farto material de, e, sobre Civitelli.
Já na capa contamos com belas ilustrações de Civitelli, e na segunda e terceira capas uma introdução da obra por Giuseppe Pollicelli, que justifica a presente homenagem a Civitelli por considerá-lo de “uma estirpe de autores de quadradinhos” que realmente sabem “narrar por meio do desenho”.
Temos uma segunda introdução, agora da edição brasileira, assinada por Dorival Vitor Lopes e Júlio Schneider, que explicam que o presente livro foi inicialmente publicado em 2005. Esta introdução é importante, pois em cinco anos de hiato entre a publicação original e a brasileira algumas informações precisam ser actualizadas, e é isto que Lopes e Schneider fazem aqui. Segue-se então uma apresentação por Sergio Bonelli e o texto Bodas de prata com Fabio Civitelli, por Claudio Nizzi, argumentista que teve algumas das suas histórias desenhadas por Civitelli, tendo ambos começado as suas carreiras na casa editorial Bonelli quase ao mesmo tempo, a partir da revista de Mister No. Segue-se uma história de Tex de uma página, raridade, escrita por Nizzi e desenhada por Civitelli: Sinais de Fumaça, com tons humorísticos.
Entre as páginas 14 e 37 temos uma interessante conversa entre Giuseppe Pollicelli e Fabio Civitelli, em que o entrevistador consegue esmiuçar toda a carreira do desenhador texiano, desde seus primeiros contactos com as histórias aos quadradinhos, até à sua consagração como desenhador de Tex.
A entrevista é uma rica fonte de informações sobre a história dos quadradinhos italianos e as técnicas utilizadas por Civitelli em seus desenhos. A entrevista é ricamente ilustrada, sendo em si um portfólio de ‘encher os olhos’.
Como amostra dos desenhos de Civitelli o livro traz diversas páginas, agrupadas de forma coerente, da história: Intriga em Santa Fé: uma bala para o presidente (p. 39-75), no original italiano, mas com comentários do próprio Civitelli (em português) da elaboração artística da história. É muito interessante fazer uma leitura gráfica desta história, sem recorrer à tradução da escrita, pois ao realizar esta leitura é que temos uma dimensão adequada de como o desenhador conta a história apenas pelas imagens.
A partir da página 76, e até à 109, temos um apanhado das Histórias de Fabio Civitelli para Tex Willer, em que diversos articulistas italianos comentam dezoito histórias desenhadas por Civitelli para a personagem Tex. Um panorama crítico interessantíssimo da obra de Civitelli.
Como estamos falando de uma obra dedicada a um desenhador não podia faltar um portfólio (p. 110 a 127) em que diversos desenhos de Civitelli referentes a passagens clássicas do mito texiano são apresentados. São ilustrações belíssimas, em que a arte do preto e branco, nos traços seguros, amplos e vigorosos deste incrível artista consegue dar vida às minúcias do ambiente que cercam as suas personagens.
Já entre as paginas 128 e 135 temos uma Quadrinhografia Completa de Fabio Civitelli, devidamente actualizada, e com as respectivas referências de publicação no Brasil por Júlio Schneider. Para dar um fechamento adequado a esta rica obra de referência e análise é publicada também a história em quadradinhos de Tex, O Duelo, com argumento e desenhos de Civitelli. Inteiramente colorida pelo próprio Civitelli no estilo, segundo ele mesmo, de Alex Ross, afinal para Civitelli mais o que preencher espaços vazios, aqui a cor “toma forma e estrutura”. Além das cores e desenhos, esta BD tem um roteiro de primeira, em que todo o lado heróico da personalidade de Tex, capaz de transformar as vidas de quem com ele tem contato, é levado até às últimas consequências.
Para o leitor de Tex é uma obra indispensável, afinal apresenta o melhor da produção de um dos artistas mais conceituados da personagem italiana. Para qualquer um que desenha, ou quer vir a desenhar quadradinhos, é um portfólio riquíssimo de referência e análise crítica de um desenhador consagrado internacionalmente. Vale a pena!
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