O casamento de Tex

Por José Rivaldo Ribeiro[1]

Poucas são as personagens que já estiveram no altar, trocaram beijos, alianças, juras de amor eterno ou cortaram os pulsos. Enfim, casar mesmo, com direito a lua-de-mel, ter filhos e tudo o mais.

Mas tal já aconteceu com um certo ranger que conquista leitores ao longo dos anos desde a longínqua década de 1940. A história Pacto de Sangue, da década de 1950, é uma das mais aclamadas BDs do mestre Aurelio Galleppini (Galep). E acabou ficando marcada na mente dos leitores como O Casamento de Tex, que de justiceiro solitário passou a respeitado ranger e pai de família.

Tex – O Casamento

Tex estava em mais uma de suas aventuras, dessa vez investigando o tráfico de armas que acabariam nas mãos dos índios. De repente, viu-se perseguido e encurralado pelos selvagens. E nem imaginava que naquele momento era traçado seu destino.

Em sua desesperada tentativa de fuga, Tex acaba perdendo a consciência. Ao acordar, encontra-se amarrado ao poste dos martírios, sendo preparado para sacrifício! Mas Lírio Branco, filha do chefe Flecha Vermelha, intervém e salva a vida do cara-pálida. Como? Com uma proposta de casamento! (Não deixando claro se por piedade ou por amor!) Sem opção melhor, pois já havia se entregado à morte, Tex aceita.

Ao interceder pela vida do prisioneiro, a índia invocara o pacto de sangue, cerimónia que representa o casamento segundo as leis do seu povo, os Navajos. Fenomenal e rápida, a cerimónia (ou pacto) inclui o ritual de cortar os pulsos e misturar os sangues, selando assim a união.

O pacto
A BD é marcante, pois Pacto de Sangue revela muito de Tex a seus leitores, sobretudo sua trajectória. A trama mostra como ele conquistou a confiança dos Navajos, que de inimigos passaram a fieis admiradores, dando-lhe inclusive o nome indígena de Águia da Noite. E logo depois, a honra de chefiar a tribo.

A bela indígena Lilyth — ou Lírio Branco — acabou encontrando acidentalmente o amor de sua vida. E este sentimento foi correspondido à altura. Tex, mesmo em suas grandes aventuras pelas vastas pradarias americanas e com belas mulheres a seus pés, manteve-se sempre fiel à sua amada — mesmo após sua morte (coisas do destino!).

A Publicação

No Brasil a publicação da história é marcada por algumas curiosidades. A capa da megafantástica edição de Tex #94 (Vecchi, Dezembro/78) foi desenhada pelo brasileiro Watson Portela. Abaixo, vemos nessa capa o subtítulo O Casamento de Tex chamando a atenção do leitor.

Tex #94 - Vecchi, Dez. de 78
Aqueles que por qualquer motivo não tiveram a oportunidade de comprar esse Tex #94 aguardavam, então, a republicação da história na 2ª Edição, o que ocorreria em 1983.

Mas… uma pena, uma decepção! O que acabou chegando às bancas foi um Tex 2ª Edição #94 com Pacto de Sangue interrompida pela metade, com a promessa de continuação da edição seguinte — o que nunca ocorreria, pois a Vecchi viria a fechar —, e se isso não bastasse, a revista viria com quase um centímetro menor que o tamanho normal, destoando do restante da colecção (provavelmente por economia de papel).

A Vecchi passava por profunda crise financeira. A editora, que era famosa por seus excessos de propaganda nas revistas, chegou a lançar um Tex com duas contracapas em branco.

Bem, quando a Rio Gráfica e Editora assumiu a continuidade das publicações da Bonelli, herdou também um probleminha: como seguir a numeração da 2ª Edição sem abandonar a ‘2ª Parte’ de Pacto de Sangue e ao mesmo tempo sem descaracterizar a revista? Solução encontrada: lançar um número 94A de Tex. E assim foi: no final de 1983, Tex 2ª Edição #94A foi às bancas com a conclusão da história e com uma exclusiva capa de Galep.

Fica fácil de se compreender, então, porque a edição #94 tornou-se o item mais raro dessa colecção, seguido pelo 94A. Eles simplesmente desapareceram!

Dentre as capas para o clássico, nenhuma supera a versão de Claudio Villa, que ‘esculpiu’ divinamente seu traço para a edição brasileira Tex Edição Histórica #5 (Globo, Abril/94)

Dentre as capas para o clássico, nenhuma supera a versão de Claudio Villa, que ‘esculpiu’ divinamente seu traço para a edição brasileira Tex Edição Histórica #5 (Globo, Abril/94)

Em Abril de 1994, a Globo reeditou Pacto de Sangue em Tex Coleção Histórica #5. E onze anos depois, a Mythos a republicaria com nova tradução, com comentários e, de brinde, uma gag inédita e hilária com Tex apanhando da esposa (Os Grandes Clássicos de Tex #1, Março/05).

Grandes Clássicos de Tex #1

Onde ler Pacto de Sangue
Tex #94
Tex 2ª Edição #94 e 94A
Tex Coleção #12, 13 e 14
Tex Edição Histórica #5
Os Grandes Clássicos de Tex #1

(Texto publicado originalmente no Planeta Gibi Blog, em 20 de Agosto de 2009)


[1] José Rivaldo Ribeiro é um grande coleccionador brasileiro de banda desenhada, tendo participado activamente de pesquisas para edições, blogues e sites referentes a BD de diversos géneros!

Considera-se um crítico de banda desenhada e é também leitor e coleccionador de Tex.

Um comentário

  1. Eu adoro as histórias do Tex. Meu tio colecionava, e os primeiros títulos são os melhores!!!

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