Morreu Renzo Calegari (desenhou a aventura de Tex “A Balada de Zeke Colter”)

Renzo Calegari (5 de Setembro de 1933 – 5 de Novembro de 2017)

(5 Setembro 1933 – 5 Novembro 2017)

Por Mário João Marques

Esta é uma das notícias que nunca queremos dar, mas que a lei da vida a isso nos obriga. Renzo Calegari, grande desenhador do fumetto italiano, faleceu no passado domingo, dia 5, aos 84 anos, deixando a banda desenhada mais pobre. Artista com duas grandes paixões, o desenho e a história, Calegari deixou bem patente o seu talento em 54 anos de uma intensa carreira, onde dedicou particular atenção ao oeste americano, compondo páginas de verdadeira literatura desenhada.


Nascido em 1933, em Bolzaneto (Génova), Calegari começou a desenhar em 1955 para o estúdio de Rinaldo Dami, iniciando o seu percurso ao lado de autores como Gino D’Antonio em El Kid ou I Tre Bill, ou Gianluigi Bonelli em Big Davy. A partir de 1964 assina uma das suas obras primas, La Storia del West, em colaboração com grandes autores, entre eles Gino D’Antonio, Sergio Tarquino e Renato Polese, onde vai contar a longa saga da família MacDonald durante o período dos primeiros colonos no oeste americano. Deixa a banda desenhada em 1969 para integrar o movimento de 68, regressando à sua paixão na década de 70 com outra obra prima, a mini-série Welcome to Springville, escrita por Giancarlo Berardi. Para a Orient Express e Il Giornalino realiza a série Boone e Gente di Frontiera, até chegar a Tex, desenhando La Ballata di Zeke Colter (auxiliado por Stefano Biglia, hoje um dos autores de ponta de Tex e Luigi Copello), uma aventura escrita por Claudio Nizzi publicada no Almanacco del West 1994. Em 2004 desenhou uma aventura bélica para Mister No, Storia di um Soldato, escrita por Michele Masiero. Finalmente, em 2007 desenhou para a Sergio Bonelli Editore Bandidos!, um western escrito por Gino D’Antonio.

Com o seu talento e a sua paixão, Calegari exprimiu cultura nos seus trabalhos como poucos conseguem fazer, mas nos últimos anos da sua vida passou por momentos difíceis, sobretudo após o falecimento da sua mulher, vivendo carências a nível económico e humano, facto que, infelizmente, parece ser característico de alguns dos grandes artistas nas suas mais variadas atividades. Os apelos em seu auxílio fizeram-se sentir, nomeadamente para que este grande autor fosse incluído na Lei Bacchelli, como efetivamente veio a acontecer, um fundo a favor de cidadãos ilustres, importante não só do ponto de vista material, mas também como sinal de reconhecimento público e de solidariedade pelo seu empenho e carreira. Um artista que nunca renegou os seus ideais e que ao longo da sua vida sempre lutou por uma sociedade mais livre e justa, por isso, Renzo Calegari foi sempre alguém que viveu para além das suas belas pranchas.

Morreu no último domingo, aos 84 anos, poucos dias após a sua carreira ter sido reconhecida com o prémio Turio Copello, instituído pela sociedade económica de Chiavari e que se destina a premiar a criatividade dos artistas locais.

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

3 Comentários

  1. Uma triste notícia, na verdade, mas que já era esperada, dada a idade e os problemas de saúde (e outros) que Renzo Calegari enfrentou no declínio da sua carreira e da sua vida.
    Como artista, sempre o admirei, sobretudo pelo seu trabalho em “La Storia del West”, ao lado de outro grande mestre, Gino d’Antonio. Curiosamente, ambos tinham estilos muito semelhantes, que por vezes chegavam quase a confundir-se. Quanto a “Welcome to Springville”, ainda hoje é uma das minhas séries preferidas e uma das poucas que tenho completas em italiano.
    Numa das últimas etapas da sua carreira, Renzo Calegari realizou também séries notáveis para o Il Giornalino, que infelizmente hoje estão perdidas nas páginas dessa revista, como por exemplo “River Crossing” ou a adaptação da novela “As Quatro Penas Brancas”.
    Que descanse em paz, nas grandes pradarias eternas onde os mestres do western, que tantas obras-primas nos deram, viverão para sempre!
    Resta-me felicitar o Mário João Marques por este belo artigo de homenagem a Renzo Calegari, que irei obviamente reproduzir, com a devida vénia, no meu blogue.

  2. Mais um belíssimo texto de Mário João Marques. Ao serviço da memória, neste caso a memória de um artista inesquecível.

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