Por Moreno Burattini*
Se existe um inimigo de Tex por excelência esse é Mefisto. O seu regresso à ribalta, em carne e osso ou por interposta pessoa do filho, e a contínua ameaça que ele representa como incarnação do Ódio (mais do que do Mal), marcou o desenrolar da saga de Águia da Noite e tem sido sempre aguardado com crescente interesse por várias gerações de leitores. Indubitavelmente, Mefisto contribuiu para o sucesso de Tex, uma vez que os heróis forjam-se perante as dificuldades e só se afirmam como tal quando enfrentam grandes adversários.
Na realidade, Mefisto é um inimigo muito atípico no seio de uma série de western, dado que não usa pistola, nem anda a cavalo. O seu perigo deriva do facto de ser dotado de poderes mágicos: precisamente por isso, revela-se um osso duro de roer para Tex e os seus pards, deslocados perante um inimigo que não se pode enfrentar simplesmente desembainhando a pistola ou erguendo a espingarda. Na verdade, no início, o futuro Inimigo Número Um era um adversário mais em linha com os cânones do westen, conforme veremos adiante. Quando, num álbum de tiras de 1949, o bruxo fez a sua primeira aparição, ainda era conhecido pelo nome de Steve Dickart, era um simples vilão, e usava o nome de Mefisto apenas quando subia ao palco como ilusionista, deambulando com uma carroça pelo Oeste, assistido pela sua irmã Lily.
Efetivamente, na complexa disputa que envolveu o destino do Texas, e onde Mefisto desempenhou o papel de espião a soldo dos mexicanos, Steve Dickart parece ser uma personagem secundária. Poderá mesmo parecer ridículo ao apresentar-se numa vestimenta teatral, utilizada para dar um aspeto luciferiano. Mas, dez anos mais tarde, quando o voltamos a encontrar, os seus trajes alteram-se, o seu nome artístico passa a ser um nome próprio e os truques de ilusionista são agora reais, poderes diabólicos.
É o próprio Mefisto que o confirma a Tex, quando subitamente surge diante dele, afirmando: “Todos estes anos, não me limitei a preparar e a aperfeiçoar planos de vingança, mas também aprofundei os meus conhecimentos no campo da magia… o meu poder sobre os homens e sobre as coisas é muito maior do que aquele que tu possas imaginar!”. Nesta iniciação de Steve Dickart ao conhecimento das artes mágicas, como os leitores descobrirão numa aventura posterior, esteve um monge tibetano chamado Padma. Este homem, depois de ter recolhido Mefisto moribundo no deserto, e tê-lo salvado, imprudentemente fez dele seu aluno, descobrindo tarde de mais que o seu discípulo iria utilizar os conhecimentos adquiridos para concretizar a sua vingança, consumido pelo fogo do ódio. Um ódio tão grande que o levou a aliar-se com os cruéis índios Hualpai e com adeptos do voodoo, e que não se vai extinguir mesmo com a morte: na verdade, em primeiro lugar, do além (ou melhor, de um mundo intermédio onde os espíritos vagueiam a aguardar pelo seu destino eterno) Mefisto manobra o seu filho Blacky, conseguindo transformá-lo em Yama, um bruxo que detém quase os mesmos poderes do pai (mas não a mesma diabólica inteligência); em seguida, graças a um ritual mágico sugerido à sua irmã e posto em prática por ela, regressa novamente, em carne e osso, a este mundo. Ainda hoje, decorridos setenta anos desde a sua primeira aparição, Mefisto continua a conspirar contra Tex, e os leitores anseiam por ver como e quando os dois se voltarão a enfrentar.
A primeira aparição
Que o principal atributo do diabo seja o de saber mentir, já o sabemos desde os tempos de Eva. Alguém disse que a sua maior mentira foi convencer-nos que não existe. Mas nesta história de Tex há de facto um diabo: vestido de vermelho e ostentando cornos, chamado Mefisto justamente para abreviar um nome tão extenso como o de Mefistófeles (o mesmo que foi dado por Goethe ao demónio do seu Fausto). Como excelente enganador que é, Mefisto convence-nos que de facto não existe: não é um diabo verdadeiro, apenas alguém que se veste como tal para entrar em cena. Veste uma indumentária própria para divertir o público durante os seus espetáculos de ilusionismo, nada mais do que isso. Quando não usa a máscara, entre uma exibição e outra, não passa de um espertalhão chamado Steve Dickart (e Dick, na gíria americana, também é um dos apelidos do Diabo), alguém com uma aparência um pouco luciferiana, mas nada de realmente preocupante. O engano é perfeito, porque na realidade (como descobriremos) Mefisto é um demónio a sério. Ou melhor, está em vias de se transformar como tal. Quando mais tarde o voltarmos a ver, a sua indumentária estará entranhada na pele. Em nome da arte, terá um nome próprio: Dickart passará a ser “the art of Dick“, a magia do Demónio. Os truques de ilusionista transformar-se-ão em poderes diabólicos. O prestigiador desaparecerá numa nuvem de fumo com odor de enxofre, e revelar-se-á uma criatura demoníaca de sorriso glaciar e com capacidades transcendentais. Aqui, ainda dissimula. Efetivamente, na complexa disputa que envolveu o destino do Texas e do México, parece uma figura de segundo plano, e até é ridículo como se apresenta na sua vestimenta teatral. Mas ele engana-nos, nós enganamo-nos. Engana-se menos Tex, que perante Dickart sente o cheiro a esturro. Nem mesmo ele imagina ainda que aquele prestigiador de meia tigela tornar-se-á no seu mais temível adversário, o inimigo por excelência. No entanto, com o intuito de capturar um espião a soldo dos mexicanos, que informa os inimigos, instalado na Mesa del Diablo (com as suas lendas de monges fantasmas crucificados), as suas suspeitas recaem rapidamente no mágico ambulante. As primeiras investigações não permitem chegar a qualquer conclusão, mas em breve o círculo aperta-se em redor do comediante e da sua irmã Lily, uma conturbante tão pérfida e perigosa como o irmão. Capturados pela primeira vez, Steve e Lily Dickart conseguem evadir-se e organizam um plano que visa acusar Tex da morte do jovem tenente Roller. Engano, traição: as armas do demónio, as armas de Mefisto. Tornado fora da lei, o nosso herói vai no encalço dos dois irmãos. Este início, com origem na infatigável fábrica de ideias dos criadores da série, Gianluigi Bonelli e Galep, foi apenas o início da disputa.
Sabedoria oriental
“Om mani padme um“: o velho monge tibetano ajoelha-se diante de um altar, recitando a sua misteriosa fórmula iniciática. O seu nome é Padma, a “mão direita do Dragão“, cuja tarefa institucional é garantir proteção aos trabalhadores chineses que adiram à organização. Em resumo, uma espécie de associação mafiosa. Mas o Dragão também tem uma “mão esquerda“, encarregue por sua vez de matar todos os que se oponham aos seus planos ou causem danos aos seus seguidores. E o nome da mão esquerda é capaz de aterrorizar todos aqueles que já puderam testemunhar o seu poder: Mefisto. Na verdade, se não fosse por Mefisto, talvez Padma não fosse tão malvado como parece. “Embora as forças do mal não tenham segredos para ele – escreveu Tiziano Sclavi no seu artigo dedicado à personagem em TuttoTex – o nosso lama não pareceria assim tão maldoso, se não fosse mal aconselhado por alguém que ele escolheu para seu aluno”. Sim, porque com o decorrer dos acontecimentos iremos descobrir que foi o próprio Padma a recolher no deserto o moribundo Mefisto, a curá-lo e a acolhê-lo depois na sua organização, iniciando-o também ao conhecimento das mais terríveis artes mágicas, que agora Mefisto pretende empregar na sua vingança contra Tex e os seus pards, apesar dos sábios conselhos de Padma. “Abandona a caça, Mefisto! Deixa o caminho negro que estás seguindo – diz-lhe o velho monge budista – e eu farei de ti um homem verdadeiramente grande! Apaga o fogo da vingança. Mata ou prende os cães do ódio, e eu acenderei centenas de luzes resplandecentes que iluminarão o teu caminho”. Belas palavras, plenas de sabedoria ancestral, mas que não são suficientes para convencer o malvado Mefisto, que num acesso de raiva acaba por matar o velho mestre. O qual, no entanto – dominando todos os segredos da reencarnação – regressa do além para deter o seu aluno degenerado: abrindo-se diante dos seus olhos os horrores dos abismos infernais, conduz o seu ex-discípulo até aos confins da loucura. Quando Tex e Carson o encontram, Mefisto está reduzido a um pobre mentecapto. Qual terá sido o destino final de Padma, ignoramos. Mas iremos reencontrá-lo numa história que Boselli se encontra a escrever e que será publicada em breve.
O senhor dos cemitérios
Jean de Lafayette (aliás Black Baron, aliás Baron Samedi) é a clássica personagem que geralmente definimos como doida varrida. Não foi por acaso que escapou, na companhia do diabólico Mefisto, do manicómio criminal onde ambos se encontravam retidos. De Lafayette, de acordo com a descrição feita pelo seu psicoterapeuta a Tex, era “um dos mais ricos fazendeiros do Haiti, hospitalizado pela sua família devido aos seus preocupantes delírios religiosos. Imagine um homem agradável, inteligente e rico, mas com uma incrível fixação: a de estar predestinado a ser uma espécie de justiceiro sobrenatural. Acrescente a tudo isto o encontro do barão com uma espécie de sacerdotisa do ritual voodoo e terá um quadro suficientemente claro da situação”. Evadidos do manicómio, os dois loucos fundaram o seu “reino da serpente” nas pantanosas florestas da Florida. Jean de Lafayette, acredita ser a encarnação do deus voodoo dos cemitérios, Baron Samedi: ele e Mefisto acreditam desenvolver entre os indígenas os misteriosos cultos africanos importados do Haiti, contando também com a ajuda da sacerdotisa Loa, jovem de cor, com uma beleza capaz de acordar os mortos (literalmente). História intrigante, atmosferas inquietantes, personagens únicas: Bonelli e Galleppini fecham a extinta série de álbuns em tiras (no total 973) com um argumento memorável, de qualquer modo, pronto a prosseguir, transferindo-se para a série gigante. A amizade entre Mefisto e o Barão Samedi parece bem sólida, mas na realidade, a Mefisto importa apenas que Jean de Lafayette lhe forneça os meios para a sua vingança contra Águia da Noite. Vingança, terrível vingança que o diabólico Dickart tenta conseguir, tornando todas as suas artimanhas num grande espetáculo. Que, como é costume, não são suficientes para parar Tex, que não só não morre, como passa ao contra-ataque, deixando o velho Mefisto refém de uma delirante crise de nervos, da qual só o seu louco parceiro o consegue retirar. “Acalma-te! – diz Lafayette a Mefisto, na tentativa de acalmá-lo – e não penses mais naquele ranger! Vem! Não queres ouvir a tua música preferida?”. E pouco depois, as notas tristes de uma lúgubre melodia ecoam no sinistro castelo medieval que o rico “barão” construiu nos pântanos. Quando Tex chega ao castelo, encabeçando uma expedição formada pelo exército e índios Seminoles, os dois loucos entram imediatamente em pânico, começando a discutir entre si pelas razões mais triviais. A última imagem onde Mefisto aparece ainda vivo, mostra-o enquanto sucumbe à ira do seu ex-amigo, que lhe aperta o pescoço com mão férrea. É uma questão de tempo: um tiro de canhão atinge em cheio o depósito de pólvora da fortaleza de Lafayette, que salta pelos ares como um castelo de cartas.
O filho de Mefisto
“Apesar das muitas ajudas recebidas do meu mundo e o precioso ensinamento obtido do pai, Yama está ainda muito longe de representar a centésima parte do poder do grande Mefisto!”. Esta é a opinião do diabólico Aryman, um grande e repelente morcego que tem sensações, personificação de um demónio infernal. É ele o ajudante que Mefisto – obrigado a vaguear numa espécie de limbo, à espera de atravessar as portas do inferno – escolheu para auxiliar o filho Yama, após os seus sucessivos insucessos, para ajudá-lo a vingar-se de Tex. A ajuda de Aryman parece fazer todo o sentido, uma vez que, por duas vezes, Águia da Noite conseguiu derrotar Blacky Dickart. E pensar que, no início, Mefisto depositava grandes esperanças no seu herdeiro: “As tuas mãos deverão empunhar a espada de prata do poder, os teus olhos serão capazes de ver mesmo nos mundos obscuros onde vivem as sombras, as tuas orelhas sentirão as vozes que se elevam do mais profundo dos abismos – diz o maldito bruxo ao filho, falando-lhe através de uma esfera mágica, no subterrâneo onde ficou preso – não haverá desejo que tu não possas satisfazer! Terás tudo aquilo que um homem pode desejar, mas para isso terás que, em primeiro lugar, empunhar a chama vermelha da vingança!”.
Depois de ter assistido à morte do pai, devorado vivo por ratazanas, Blacky deixa a mãe Miriam e, chegado à Florida, recupera os livros secretos escondidos no subterrâneo do castelo onde Steve Dickart foi morto. Depois, ao lado da bela Loa, a sacerdotisa voodoo que tinha sido cúmplice do Barão Samedi, inicia um período de aprendizagem nas artes mágicas, assumindo o nome de Yama, o antigo deus da morte. Também Loa tem uma vingança a cumprir: “Se tu tens um homem para vingar – diz ela a Yama – eu tenho muitos! Homens fortes e valentes, homens que estavam a fundar um grande reino, e cujos corpos restam agora sepultados na selva por culpa de Tex Willer e dos seus malditos amigos!”. Entre os quais está Yampas, chefe dos Seminoles, de quem Loa foi feita escrava depois da morte do seu pai, o feiticeiro Otami. Graças aos sortilégios do jovem Dickart, Loa consegue vingar-se, matando o líder pele-vermelha. Agora chegou a vez do ranger. Yama pré-anuncia os seus propósitos, surgindo em forma monstruosa diante de Águia da Noite, já a caminho da Florida: “Willer! Consegues ouvir-me?… A mão de Mefisto reergueu-se! Yampas está morto e em breve será a tua vez!”. Mas Tex encontra-se protegido, tal como os seus pards, por um amuleto de prata preparado pelo feiticeiro dos Navajos, ornamentado de turquesas, gravado com sinais mágicos que permitem afastar os espíritos malvados: desta forma, Blacky Dickart não pode atacar à distância. De qualquer modo, para Tex o melhor dos amuletos é feito de chumbo e tem a forma de uma bala: apesar de ajudado pelas potências demoníacas, e se bem que recorra a zombies e a locais adeptos do voodoo, também Yama não consegue levar a melhor sobre os quatro pards. Encostado à parede, é obrigado a fugir num veleiro que acaba por naufragar num mar revolto. Blacky consegue ser salvo pelos poderes do além aliados do pai e, chegado à costa do Yucatan, junta-se aos descendentes dos antigos Mayas, que consegue iludir graças aos seus incríveis poderes. Mas as coisas também não se alteram aqui, na floresta tropical da América Central, onde o filho de Mefisto, aconselhado pelo pai, atrai Tex e os seus pards. Yama sofre um novo revés e precipita-se numa impetuosa corrente subterrânea que o arrasta consigo. Um conjunto de morcegos, enviado pelos poderes infernais, captura-o e coloca-o a salvo numa gruta. Mefisto, sempre capaz de comunicar com os vivos, coloca Aryman junto do filho e propõe-lhe novos planos de luta que preveem uma aliança com os Aztecas da Sierra Hermosa, também eles velhos inimigos de Águia da Noite. Uma vez mais, tudo se revela inútil: perante qualquer ameaça sobrenatural, Tex e os seus pards reagem como sempre souberam fazer, tiros de winchester, lançamento de dinamite e muito chumbo ardente. “Tenho mais receio de uma bala disparada pelas costas, do que qualquer um dos habituais truques de Yama – diz a certa altura Tex – é um tipo que destila ódio por todos os poros, no entanto não consegue enfrentar-nos diretamente”. O último round termina com o abandono do ring por parte do filho de Mefisto, que obriga o filho a deitar a toalha ao chão. “Os erros cometidos pagam-se, Yama! – diz Mefisto ao filho no final do último encontro com Tex – tu poderás encontrar aliados no meu mundo somente quando muitas e muitas cinzas passarem na grande ampulheta do tempo. Não se sabe como é que Blacky conseguiu deixar a gruta subterrânea no templo Maya onde estava preso, mas sabemos qual foi o seu destino. É o próprio pai, Steve Dickart, que o revela, quando regressa ao mundo terreno na própria pessoa: “O meu filho desiludiu-me! Willer e os seus cães conseguiram sempre derrotá-lo e depois do último encontro os nervos de Yama cederam. Agora, encontra-se atingido por uma terrível depressão que o fez regredir nos seus conhecimentos até esquecer tudo aquilo que eu lhe havia ensinado, voltou a viver com a mãe, e juntos regressaram à melancólica vida de vagueantes”.
Aryman
“Eu sou Aryman, mensageiro da noite e irmão de todos aqueles que correm, rastejam ou voam nos reinos das sombras eternas”. Como apresentação não é bastante assustador, devemos admitir. E mesmo o aspeto deste ser não é certamente dos mais agradáveis: trata-se, na verdade, de um grande e repelente morcego, personificação de um demónio infernal. “Aryman não é apenas o senhor do terceiro círculo, aquele que lhe confere poderes absolutos sobre reinos obscuros, mas também faz parte da grande fraternidade dos sete círculos e, como tal, pode obter ajuda e colaboração dos outros senhores de círculos superiores”. É este simpático (por assim dizer) ajudante que a alma danada de Mefisto – obrigada a vaguear numa espécie de limbo antes de poder atravessar as portas do inferno – decidiu colocar junto do filho Yama para o auxiliar na sua vingança contra Tex e os seus pards. “Bastará tocares com a mão esquerda o selo que verás no arco negro – explica o mesmo Aryman a Yama, referindo-se a uma espécie de capacete metálico dado por Mefisto ao filho – e pronunciar a minha fórmula, oh filho do grande Mefisto: ‘Hari, Hari, Aryman’ e eu rapidamente estarei junto de ti”. Como de costume, a luta contra os poderes infernais será dura e cheia de riscos, físicos e paranormais. Perante todas as ameaças, como sempre Tex e os seus pards reagirão como sempre souberam fazer, muita bala e muito chumbo. Apesar do seu ódio e de todos os seus truques, Yama nunca conseguirá enfrentar Tex diretamente, e será mesmo esta sua fraqueza a conduzi-lo e às forças do mal à derrota. E será tarde de mais que o diabólico Aryman perceberá que escolheu o aliado errado. Bonelli e Galleppini, aqui na sua última história com Steve Dickart e o seu indigno herdeiro, desencadeiam uma série de aventuras, onde acionam todos os apetrechos próprios de atmosferas sombrias, sortilégios inquietantes, aparições horrendas, velhas megeras, serpentes e seitas secretas, desde os fanáticos do voodoo aos descendentes dos antigos Aztecas. Como cenários, há de tudo: a selva mexicana e a da Florida, o mar revolto e os veleiros que lutam contra a fúria da natureza, as tabernas no porto e os becos em seu redor, as aldeias índias, o deserto, as cavernas sombrias, portas do inferno. E para terminar, verdadeira cereja no topo do bolo, há mesmo um boneco voodoo com a imagem de Tex, no qual uma feiticeira espeta a tradicional agulha, provocando dores terríveis a Águia da Noite. Mas tudo se revela inútil. Porque, como a certa altura afirma o nosso herói, “Tex Willer é mais forte que o voodoo!”.
O regresso de Mefisto
A última história (para já) onde surge Mefisto foi escrita por Claudio Nizzi e, por sua vez, desenhada por Claudio Villa. Haverá ainda um regresso de Yama que antecederá o definitivo encontro de Tex com Steve Dickart, mas destes dois episódios (apenas o primeiro foi entretanto recentemente publicado) não nos vamos ocupar por agora. É melhor referir, antes de mais, aquilo que Nizzi afirmou, numa extensa entrevista publicada num livro de Roberto Guarino, relativamente à sua longa aventura: “Queria que Tex ficasse o mais tempo possível sem saber que Mefisto tinha regressado. Não queria que ele aparecesse de repente numa nuvem, como fazia habitualmente. E queria manter uma baixa percentagem de magia, para depois a aumentar nas (eventuais) histórias seguintes. Além disso, os velhos truques utilizados por Bonelli e Galleppini (a cabeça de onde sai uma serpente, o braço do macaco que entra na escotilha do barco, as visões que Mefisto provocava nos outros) eram rosas e violetas em comparação com o nível de “monstruosidade” entretanto adquirido pelos quadradinhos da Bonelli e em geral, pelo cinema e pelos livros, pelo que, se tivesse utilizado desde logo a magia, por exemplo com base em “efeitos especiais”, onde é que iríamos acabar? Queria que pela primeira vez Mefisto quase nunca recorresse à magia, como nos seus tempos de Steve Dickart, quando trabalhava com a irmã. Queria que, graças à ajuda dela, a captura de Tex e dos pards fosse fruto da astúcia, sem quase nenhum recurso à magia. E se no inicio, no sonho do feiticeiro Navajo, vemos Tex e os três pards deitados como mortos em quatro lápides, queria que, no final da história, esta situação efetivamente acontecesse. Na verdade, no final, todos, com exceção de Tex, acabam por ser presos e deitados em lápides nos subterrâneos de Mefisto. Queria que os pards fossem capturados um de cada vez, de modo suficientemente lógico, com armadilhas realmente credíveis. No final tinha que haver uma cena onde a cabeça de Tex fosse cortada? Mefisto atingia Tex com a lâmina do seu bastão, cortando de um só golpe a sua cabeça, que devia cair e rolar no chão. Obviamente, era apenas uma “visão”: era aquilo que Mefisto queria fazer crer a Tex. Villa não conseguia tecnicamente compor esta cena. Eu queria que a cabeça saltasse para o chão como uma bola, mas Villa não conseguia visualizá-la, não lhe agradava. Então, na redação pensaram em inserir a sequência do hipnotismo: Mefisto tenta hipnotizar Tex, que se finge louco para salvar-se. Tinha previsto que, no final, quando Tex e os pards deixam a cidade, interrogando-se sobre o destino de Mefisto, deveriam encontrar uma velha cigana sentada junto a uma carroça enquanto cozinhava algo numa pequena fogueira. Durante a sua passagem, a cigana (que era Mefisto mascarado, apenas com os olhos à vista para esconder bigode e barba) perguntava aos nossos heróis: “Querem que vos leia a mão?” Mas eles prosseguem o seu caminho, interrogando-se sobre o que terá acontecido a Mefisto, sem se aperceberem que estiveram mesmo ao seu lado. Na versão final, por seu lado, o bruxo aparece como um velho padre leproso. Quem sabe se a ideia inicial não teria sido a melhor?
* Texto de Moreno Buattini publicado originalmente na Revista nº 6 do Clube Tex Portugal, de Junho de 2017.
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Pard José Carlos, embora eu não goste deste tipo de história em Tex (prefiro histórias mais reais), respeito quem gosta, e claro, mesmo não apreciando este tipo de história, vou comprar.
Aproveito para perguntar se tu sabes quando o Nizzi ou o Boselli vai fazer uma nova história com o general Davis?
O bom de Tex é que tem histórias e tramas que acabam agradando a todos e assim de um modo ou de outro todos acabamos por gostar de Tex, uns mais numas áreas, outros noutras. Eu particularmente gosto das histórias de Mefisto, talvez porque demoram vários anos a aparecer uma nova e não causa tédio… e esta que está saindo na Itália, já li os primeiros 3 números (desenhos dos irmãos Cestaro) e estou gostando muito…
Quanto ao General Davis, para já ainda não ouvi nada que indiciasse que uma história com ele estivesse sendo desenhada, mas eu também não sei tudo, mas é certo que um personagem tão importante, voltará um dia às páginas de Tex…