Entrevista originalmente publicada a 16 de Junho de 2010, no sitio da SBE
TEX E OS REBELDES DE CUBA
* Às portas do Verão europeu, retorna o Tex Gigante, familiarmente conhecido (na Itália) como Texone. O 24° volume da série, nos quiosques, hoje, dia 19 de Junho e com uma história feita por Mauro Boselli e Orestes Suarez, leva o Ranger bonelliano a viver uma aventura exótica em território cubano, uma história rica de cenas e elementos narrativos fascinantes. Encontramos Boselli na redacção e aproveitamos para pedir que nos revelasse alguns detalhes da elaboração de Os Rebeldes de Cuba.
Fale um pouco da gestação do projecto que, pelo segundo ano consecutivo, vê Tex longe dos habituais territórios do Oeste.
Mauro Boselli: Eu fico particularmente contente em poder fazer Tex viver aventuras longe de casa, mas jamais me permitira deslocar o Ranger a um cenário tão incomum se, na origem, não houvesse o desejo de Sergio Bonelli de mandar o nosso herói fazer essa viagem exótica. É a ele que se deve a ideia inicial dessas duas viagens. Patagónia (o Tex Gigante do ano passado) nasceu das páginas de alguns volumes raros da biblioteca de Sergio, adquiridos no decorrer de suas numerosas viagens e talvez achados em alguns pequenos quiosques de mercado. Das sugestões transmitidas por aqueles livros eu elaborei um argumento que depois tornou-se a história ilustrada por Pasquale Frisenda. No caso de Os Rebeldes de Cuba, a documentação e os livros de Sergio novamente representaram uma óptima base de partida, mas a ideia de adoptar aquela ambientação para uma história especial também foi alimentada pela presença, entre os desenhadores da nossa Editora, de Orestes Suarez, nascido e residente em Cuba.
Já conhecido e apreciado pelos nossos leitores pelas numerosas aventuras de Mister No que ele desenhou no passado, Suarez é apaixonado pela história da sua terra, e pensamos que ele transmitiria com perfeição os cenários e vestuários do Século XIX cubano. Assim, eu apresentei ao editor um breve argumento, ele leu-o e disse-me: “Pode ser… mas eu tenho em mente um melhor!“. No dia seguinte ele entregou-me algumas páginas dactilografadas e disse-me: “Inseri Montales e mais umas coisas…“. Entre seus acréscimos pode-se notar, em particular, a personagem de Rafael Serrano, caracterizado em puro estilo Guido Nolitta!
Então temos dois ases na manga para este novo Tex Gigante: Suarez envolvido com a guerra de independência do seu País e o primeiro argumento de Tex assinado por Nolitta depois de vários anos.
Mauro Boselli: Exacto. Mas atenção: sobre a guerra de independência cubana nós escolhemos não contar aquela de 1898, que levou à definitiva liberação da ilha. A sua colocação temporal era muito adiantada em relação à época em que se desenvolvem as aventuras de Tex. Nós nos deslocamos a cerca de vinte anos antes, no curso da chamada Guerra dos Dez Anos que teve início em 1868, e colocamos em campo todas as forças em luta: dos Insurrectos (ou Mambises) aos soldados regulares (Rayadillos), até os temíveis Voluntários vindos da Espanha.
Ao folhear a edição, parece-nos ver também alguns elementos de magia de folclore. É isso mesmo?
Mauro Boselli: Claro! Nós tentamos agir como teria feito G. L. Bonelli e tomamos a liberdade de acrescentar um toque mágico/misterioso, ao mergulhar na tradição da Santeria (a religião popular cubana) e criar a personagem de um feroz mayombero. Como se pode perceber, são vários os componentes desta história. Temos revolução, magia, selva, aventura, batalhas, torturas, duelos, senso de honra, traição e Tex e Montales sempre em campo contra todos!
E depois desta longa aventura, veremos novamente o traço de Suarez nas páginas de Tex?
Mauro Boselli: Concluída Os Rebeldes de Cuba, Orestes começou imediatamente a trabalhar numa nova história a ser publicada futuramente (escrita por Tito Faraci), e entrou de forma definitiva na equipa dos desenhadores de Águia da Noite!
Copyright: © 2010; SBE
Tradução e adaptação a cargo de Júlio Schneider.
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Pelas páginas juntas, estamos perante outra emocionante aventura de Tex desenrolada em paragens exóticas, muito diferentes do ambiente tradicional do Oeste americano, mas onde ele e os seus companheiros parecem sentir-se também à vontade. E o trabalho de Orestes Suarez merece nota máxima. Sergio Bonelli fez uma excelente escolha ao dar a um artista cubano a possibilidade de associar um mito como Texas às suas próprias raízes e aos seus mitos ancestrais. Vê-se que Orestes caprichou na descrição dos ambientes e das personagens, com um bom domínio da composição e da continuidade narrativa, revelando um traço quase cinzelado, em que o contraste do preto e branco assume notáveis gradações, definindo volumes, contornos e profundidade de campo. Um autêntico “must“!
Tex e os seus editores estão, mais uma vez, de parabéns.