Jornal de Anadia dedicou (no dia 27 de Abril) a capa e três páginas à 7ª Mostra do Clube Tex Portugal

Texto da secção Cultura de 27/04/2022

Anadia: a capital portuguesa do Tex apresenta nova Mostra

* O Tex está de regresso ao Museu do Vinho Bairrada no fim de semana de 30 de abril a 1 de maio, nesta que será a 7.ª edição da Mostra Clube Tex Portugal. Consta do programa da exposição, aulas de desenho ao vivo, workshops e sessões de autógrafos. O evento conta com a presença dos consagrados desenhadores italianos Laura Zuccheri e Roberto Diso que, à semelhança de edições anteriores, irão atrair centenas de fãs e colecionadores desta emblemática personagem da banda desenhada italiana.

Pedro Dias, diretor do Museu, diz-nos que entende ser importante dar seguimento “à parceria com o Clube Tex Portugal e assumir no museu a continuidade na aposta na linguagem artística ligada ao cartoon e à caricatura“.  O evento tem entrada gratuita e, além de visitarem a exposição, terão oportunidade de estar com os colecionadores e desenhadores.

Temos patente, até ao final do mês, a exposição Internacional do Cartoon que também segue esta linha. A aposta no desenho, no cartoon e na caricatura tem sido feita desde sempre no museu, nomeadamente nas parcerias com o Museu Nacional de Imprensa e agora, mais recentemente, com o Clube Tex“, explica-nos Pedro Dias. Esta ligação tem sido impulsionada por José Carlos Francisco, residente no concelho de Anadia, e um dos maiores colecionadores do mundo do Tex. Os artistas convidados fizeram e irão apresentar, desta vez, mais dois desenhos com a temática dos vinhos. Um com o centro das vinhas de São Lourenço do Bairro, desenhado por Laura Zuccheri. Já Roberto Diso inspirou-se na Curia, usando o símbolo da rolha do espumante, promovendo assim também a região de forma mais turística.

O Tex é uma banda desenhada com quase 100 anos de existência e todos os que adquirem números guardam para si como peças de coleção. “Não é uma simples revista com banda desenhada, há sempre cuidado com a encadernação e capa“, diz-nos Pedro Dias. Criado em 1948 na Itália, é uma das personagens de westerns com mais longevidade da história, sendo publicado em diversos países do mundo.

Descobri o Tex em 1980, quando os meus avós mudaram de residência. Durante as limpezas do sótão da habitação principal descobri uma caixa com muitas revistas de banda desenhada (desde que me conheço que gosto de banda desenhada, inclusive posso dizer que nasci praticamente no meio dela, pois das mais remotas lembranças que tenho é a de ter na livraria da minha mãe, ainda em Moçambique, revistas aos quadradinhos) e entre elas somente um exemplar de Tex, mas era uma edição especial que muito me cativou de imediato: ‘Pacto de Sangue’, a aventura que narra o casamento de Tex com Lilyth“, conta-nos José Carlos Francisco, Presidente do Clube Tex Portugal.

“Quando conheci o Tex, algo de extraordinário aconteceu, foi como se de uma paixão arrebatadora se tratasse, o exemplo vivo de amor à primeira vista e de imediato me vi envolvido no mito da personagem criada há mais de 73 anos por Gian Luigi Bonelli (texto) e Aurelio Galleppini (desenho). Fiquei de tal forma impressionado que, nesse mesmo dia, fui à procura de edições anteriores e passei a comprar todas as edições que iam sendo distribuídas. Passaram-se mais de 40 anos e hoje eis-me aqui, feliz proprietário da inteira coleção, a falar desse momento inolvidável e desta paixão, que aumenta a cada nova história“, diz-nos.

José Carlos Francisco diz-nos que quem lê Tex não lhe consegue ficar indiferente, por ser uma personagem com carácter humanitário que luta sempre para fazer triunfar a justiça. Diferente dos heróis da época, Tex é um homem duro, é uma personagem destinada a um público mais maduro, Tex é um justiceiro decidido, capaz de agir fora da lei, se a situação o exigir.

Tex representa para mim o irmão mais velho, o grande companheiro e amigo, já que com ele fui consolidando valores como a honra, a honestidade e a integridade, já que Tex coloca a justiça acima da lei. Vivemos num mundo onde a violência predomina, repleto de injustiças e isso faz-nos ansiar por uma divindade capaz de acertar o passo da humanidade. E Tex Willer é a personificação procurada e que continua atual“, explica-nos.

Este amante de banda desenhada tem, para além das duas principais coleções (completas) de Tex, a italiana (que vai no número 738) e a brasileira (atualmente no número 629), tem também revistas do Tex publicadas em outros 27 países, inclusive em Portugal. Acrescenta mais de duas mil revistas de várias outras coleções e novas séries de Tex que têm surgido nos últimos anos e ainda um festival de edições especiais e extras com destaque para as coloridas, de vários tipos, formatos e países, acrescentando ainda mais de uma centena e meia de livros temáticos dedicados ao Tex. Mas o seu maior tesouro são os mais de 150 desenhos originais de Tex que possui, sobretudo por serem peças únicas e realizadas propositadamente para si e não somente por muitos desenhadores de Tex, mas também por muitos dos grandes autores da editora Bonelli, que conhece pessoalmente, o que originou que hoje em dia a sua casa se tornasse uma verdadeira galeria texiana, com os desenhos expostos nas paredes.

Para além das revistas que adquiria religiosamente, primeiro em alfarrabistas e feiras de antiguidades e depois em quiosques e livrarias, no início deste século, após completar a coleção travei amizades com os editores de Tex no Brasil e em Itália e passei a receber diretamente em casa todas as revistas publicadas nesses dois países, o que acontece até hoje. Ao longo dos anos o que começou por ser apenas uma coleção de BD, passou a ser uma coleção de todo e qualquer objeto que tenha a ver com a personagem“, diz-nos.

Para além das revistas e livros, possui pranchas e argumentos originais, posters, camisolas, puzzles, o filme “Tex e o Senhor dos Abismos“, postais, selos marcadores de páginas, pins, porta-chaves, tapetes de rato, catálogos, cromos, pinturas, bonecos, estatuetas e mais alguns outros objetos inusitados, como por exemplo um cardápio de Tex e sobretudo uma caneta de nanquim autografada, com a qual Marcos Maldonado, legendou, durante décadas, muitas edições brasileiras de Tex.

A aposta da Câmara Municipal de Anadia no “fenómeno Tex na Bairrada” é cada vez maior, tanto que em 2017 adotou oficialmente o estatuto de Capital Portuguesa do Tex, ato este que reconhece a importância que o Município atribui à mais popular e carismática personagem dos fumetti (nome dado à banda desenhada italiana) e que continua a atravessar gerações.

Decorrente desse ato, e também como prova da consideração e apreço do Município, existe no Museu uma exposição permanente dedicada ao Tex, numa ala inaugurada em 2017, tratando-se da única exposição permanente que não está relacionada com o vinho neste museu, mas que exibe as artes com que os desenhadores de Tex agraciaram Anadia e a sua região ao longo dos anos.

O Clube Tex Portugal

O Clube Tex Portugal foi criado em 10 de agosto de 2013, por ocasião do 18º Salão Internacional de Banda Desenhada de Viseu, na presença do autor italiano Andrea Venturi, um dos convidados do certame na qualidade de desenhador de Tex. A ideia germinava desde 2011 e foi, digamos assim, oficializada com a devida autorização da editora italaina de Tex, a Sergio Bonelli Editore, na pessoa do seu diretor geral Davide Bonelli, que deu o seu apoio incondicional ao Clube, desde o anúncio da sua criação.

O Clube Tex Portugal tornou-se num caso único em Portugal, uma vez que se trata de um Clube dedicado exclusivamente a um herói da BD, sendo também pioneiro, já que foi o primeiro Clube oficial de Tex no mundo. É uma iniciativa que se desdobra em múltiplas facetas e atividades, dedicada a todos os amnates da banda desenhada em geral, particularmente aos fãs e colecionadores da personagem, que encontram no Clube e nas suas iniciativas uma forma de convívio entre si, mas também com os autores italianos que anualmente viajam a Portugal por ocasião das Mostras organizadas pelo Clube com o apoio da autarquia de Anadia que, desde 2014, incentivou o evento. Além disso, o Clube publica uma revista semestral, destinada em exclusivo aos sócios, e que conta com a colaboração de muitos autores do staff oficial do Tex.

Entrevista a José Carlos Francisco, Presidente do Clube Tex Portugal

Jornal de Anadia – Qual a novidade da exposição deste ano?
JCF – O programa deste ano contempla as exposições dedicadas aos dois autores convidados, sessões de desenho ao vivo, sessões de autógrafos, lançamento de livros, workshops e uma conferência com a participação dos autores. Em bom rigor, não há grandes alterações na programação, até porque num evento de dois dias é difícil inovar. Acreditamos que a dinâmica se manifesta mais pela presença de apaixonados que viajam do estrangeiro, o que mais uma vez este ano irá acontecer, já que vamos ter a presença de diversos sócios vindos do Brasil. Outro aspecto a realçar é a relação dinâmica que todos os autores, sem exceção, sempre conseguiram construir com o público presente, o que nos deixa muito satisfeitos. A abertura oficial do evento será no sábado ás 15h e contará com a presença de algumas das mais altas figuras da edilidade, ao que se seguirá uma visita (com os autores) guiada às exposições, uma sessão no auditório com o lançamento de um livro do Tex, seguindo-se uma sessão de desenho ao vivo e autógrafos até às 19 horas. Haverá um jantar com os autores num dos melhores restaurantes da nossa região, com leitão assado e que conta sempre com mais de 50 comensais. Domingo a exposição reabre às 11h, havendo novamente autógrafos e desenhos até às 12h30m. Depois da pausa para almoço, regressaremos ao Museu às 15h, para a realização de uma conferência com o tema “Tex em Itália, no Brasil e em Portugal”, seguido de um workshop onde haverá uma conversa entre os autores e o público, para podermos então proceder ao encerramento oficial das atividades às 18h45m. Um conjunto de atividades e que torna algo redutor chamar Mostra a este evento, que em nada fica a dever a alguns Salões de BD.

Jornal de Anadia – Quais serão os momentos mais marcantes do evento?
JCF – Indiscutivelmente a presença de dois dos mais consagrados desenhadores italianos e as respetivas exposições dedicadas a cada um deles, mas também o lançamento, por parte de editoras portuguesas, de livros relacionados com a personagem Tex, não esquecendo certamente a cerimónia de inauguração onde, para além dos autores, estão sempre presentes as mais altas personalidades do município de Anadia e a própria direção do Museu, assim como um elevado número de pessoas que anualmente enchem literalmente o auditório e que auguram, desde logo, podermos estar na presença de um novo evento grandioso.

Jornal de Anadia – Quem são os desenhadores convidados este ano?
JCF – Este ano o Clube Tex Portugal e a Câmara Municipal de Anadia conseguem um duplo feito extraordinário: ter no evento a primeira mulher que desenhou oficialmente Tex e um dos maiores nomes da banda desenhada italiana. Laura Zuccheri é uma autora natural de Budrio, província de Bolonha, onde nasceu em 04 de outubro de 1971. Desenhadora de traço realista e elegante, cujos primeiros trabalhos, Lampi di Paura, Metis, Caccia di Sangre, foram publicados em 1992 e, apesar de durante anos ter estado ao serviço de Julia e dos ambientes citadinos de Garden City, a verdadeira paixão de Laura são as extensas pradarias e os desertos da Fronteira americana, não sendo de estranhar a sua chegada a Tex, primeiro com a capa de um Color Tex e, em 2019, com “Doc!“, o que a tornou na primeira mulher a desenhar ums história completa do Tex.
Roberto Diso, com 90 anos completados este mês e uma vitalidade ainda incrível, é um dos maiores nomes da banda desenhada italiana, um verdadeiro veterano dos fumetti. Nasceu a 16 de abril de 1932 em Roma, e após abandonar a Faculdade de Arquitetura, inicia a sua carreira em 1954 na revista Il Vittorioso em colaboração com Santo D’Amico. Para o mercado estrangeiro produz histórias de guerra para a inglesa Fleetway Pubblication, Lancelot e Dan Panther para a francesa Éditions Aventures et Voyages, e em colaboração com o estúdio de Alberto Giolitti, algumas histórias de ambiente fantástico para o mercado alemão. Em 2003, estreia-se em Tex com a aventura Figlio del Vento, regressando às aventuras do ranger a partir de 2006, onde se mantém até hoje.

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