Fanzine “A Conquista do Oeste” – Maio/Novembro 2001 – Páginas 17 a 21 – As Histórias aos Quadradinhos de “Western” em Inglaterra

As Histórias aos Quadradinhos de “Western” em Inglaterra

Fanzine “A Conquista do Oeste” - Página 17O tema dos “cow-boys” na Europa, seria explorado até à exaustão, em dois países. Um deles seria a Inglaterra, que teria o seu apogeu e a sua decadência e a Itália, o único país que ainda consegue manter de uma forma activa o tema, publicando mensalmente pelo menos, duas revistas do género, com as personagens “Tex” e “Zagor“. Sobre a Itália já temos publicado algumas informações enquanto, no que respeita à Inglaterra, nem por isso, devido às dificuldades que sempre houve, de se conseguirem fontes fidedignas do que ali se passou, no campo da 9°. arte. Hoje já tal não acontece, pois embora de uma forma particular, já temos tido acesso à recolha de dados e informações, não só das revistas inglesas mais famosas, como do nome das personagens, seus autores, datas de publicação e outras informações de interesse. Assim, não seria justo deixar de publicar aqui, embora de uma forma sucinta, o que na verdade foi criado e editado sobre o tema do “western” nesse país.

História de Kit Carson por Derek EylesOs anos cinquenta marcam o verdadeiro início da Banda Desenhada inglesa, no campo do “western“. Seria uma década difícil de ser igualada por outros países no mesma tema, não só no que respeita à quantidade, como à qualidade. Grandes desenhadores ingleses e estrangeiros (a trabalhar para Inglaterra), conseguiram atingir metas que os próprios norte-americanos encararam com respeito. Quer em pranchas inicialmente e posteriormente em pequeno formato (2 vinhetas por página), foram publicadas excelentes obras, abordando o Oeste de todas as formas possíveis, englobando nessa extensa lista, um vasto número de “heróis” ingleses, como muitos norte-americanos, criados a partir de figuras conhecidas da História da Colonização do Oeste. Das revistas onde os mesmos foram publicados, só iremos falar de três, para não tornarmos cada vez mais extenso em páginas, este Fanzine.

Kansas Kid por R. Charles RoylanceEm 1946 J. B. Allen converteu o seu jornal “Comet” numa revista de Banda Desenhada, que embora impressa em papel fraco e com uma impressão a preto e vermelho, viria a conseguir manter-se alguns anos, devido aos trabalhos que incluía nas sua páginas. Em paralelo publicava igualmente outra edição chamada “Sun“.
Em 1949 a Amalgamated Press comprou os dois títulos e transformá-los-ia em duas das melhores publicações do género, em poucas semanas. Analisando umas e outras, mal impressas, mau papel e fracos desenhos e, posteriormente, com nova apresentação e novos trabalhos, fácil foi deduzir o resultado.

O suporte principal das duas revistas, no que respeitava às suas histórias, eram principalmente o campo histórico e o “western“. Os principais “heróis” do “Comet” eram “Kit Carson” e “Buck Jones“. Para este último, o editor do “Comet” serviu-se do talento de Reg Bunn, que soube desenhar admiráveis cenas de galope, de carruagens à desfilada e de tiroteios. Em pouco tempo “Buck Jones” tornou-se a principal personagem do “Comet“. Posteriormente passava para as capas do “Sun“, que apareceria quase um ano depois, enquanto era substituído por “Kit Carson“, outra personagem do “western“, desenhada por Geoff Campion, outro grande desenhador inglês. Devido ao sucesso que as duas personagens tiveram, foi decidido editar uma nova colecção chamada “Cowboy Comics Library“, que passaria a incluir histórias criadas em formato de bolso.

Fanzine “A Conquista do Oeste” - Página 18Será ali que aparecerão algumas das melhores e mais bem desenhadas histórias de sempre, com traços de Derek Eyles, Ron Embleton, Steve Chapman, Adam Horne e Ron Smith. A partir de 2/6/51 surge um novo artista a desenhar “Kit Carson“. Chamava-se Robert Forrest e, a partir dessa data, seria o desenhador que maior número de histórias criaria para esta colecção. A partir de 10/2/51 outro novo e excepcional artista aparecerá a criar novas aventuras. Era C. E. Drury. Iria tornar-se igualmente uma das maiores estrelas a desenhar. Evidentemente que nas páginas da revista “Sun“, apareceriam outras personagens, tais como “Dick Turpin” (1951) de Mc Neill, uma das mais famosas séries inglesas.

Muitas das histórias eram também criadas através dos filmes, que iam aparecendo no Cinema. Algumas vezes as séries despertavam mais emoção nos leitores, do que os próprios filmes nos espectadores, tal era a qualidade das imagens que os artistas captavam com as suas penas no papel. Alan Ladd e James Stewart acabariam retratados nas séries, com os seus filmes “Branded” e “Winchester 73“, através dos traços de Geoff Campion. Aliás, este será um dos melhores artistas para a figura de “Buck Jones“.

Diferenças entre edições de países diferentesEntretanto começam a surgir trabalhos de Eric Parker, com a personagem “Sexton Blake“, entre outras. Não gostamos dos desenhos deste artista, embora ele seja reconhecido em Inglaterra. A vantagem do seu trabalho é que este melhora através da redução das vinhetas, que elimina assim muitas das suas imperfeições. No entanto, deixou-nos dezenas de trabalhos publicados, mesmo em revistas portuguesas, abordando todos os temas, inclusive os de “cow-boys“.

Mais um artista de nomeada, acaba por surgir nas páginas do “Sun“. Era Eric Bradbury. Outros dos novos e igualmente famoso, dos artistas ingleses, será Patrick Nicolle, versátil e fabuloso desenhador, nos seus traços barrocos.
Em Março de 1952 “Sun” e “Comet” surgem com novas histórias e uma delas é “Sitting Bull“, de Patrick Nicolle, outras séries de Stephen Chapman e várias histórias de Michael Butterworth, um novo argumentista que viria a alcançar também sucesso, com os seus textos adaptados para as Histórias aos Quadradinhos. “Ivanhoe” de Patrick Nicolle, seguida de “Robin Hood” do mesmo autor, conseguem conquistar novos leitores para estes excelentes trabalhos, que seriam publicados em Portugal na revista “Oásis“.
Entretanto e para que seja atingido o maior êxito de sempre, no campo do “western“, surge um novo “herói“, chamado “Billy The Kid“, que tinha uma identidade secreta como o rancheiro “Will Bonney“, um cavalo negro chamado “Satan” e uma caverna num rochedo, onde se mascarava de vingador negro (vestia todo de negro). O autor dos trabalhos era Geoff Campion.

“COWBOY COMICS LIBRARY”

Kit Carson por Graham CotonQuando o primeiro número da revista “Cowboy Comics Library” seria publicado, em Abril de 1950, a um preço barato e de pequeno formato, não se esperava uma grande aceitação do público. Os N°s. l e 2 publicaram, respectivamente, as aventuras de “BuckJones” e de “Kit Carson” e contra todas as expectativas, na continuidade da publicação de outras personagens de outros autores, a aceitação veio a verificar-se, cada vez mais. Ao mesmo tempo os artistas iam mudando, bem como as personagens, de numero para número, para satisfazer todo o tipo de leitores.
As capas de cada número eram muito sugestivas e Geoff Campion, bem como outros desenhadores, faziam o seu melhor para chamar a atenção dos leitores. Ao mesmo tempo, artistas estrangeiros faziam a sua aparição nas páginas da revista, tais como José Luis Salinas, com “Cisco Kid“.

Entretanto surge um novo “herói” da autoria de Ron Embleton e Peter Sutherland. Chamava-se “Lucky Lannagan“, personagem baseada nas novelas de John Hunter, que obteria rapidamente assinalável êxito. No entanto, só seriam publicados seis números da revista com as suas aventuras. Desconhecemos porquê, mas a última história daquele “herói” não publicada, acabaria por ser redesenhada pelo próprio Ron Embleton, numa adaptação para a figura de “Kit Carson“, no N°. 137 da revista.

Fanzine “A Conquista do Oeste” - Página 19Peter Sutherland desenhou duas aventuras desta personagem e Selby Donnison uma terceira. Aquele desenhador seria o que maior número de histórias de “Kit Carson” criou. Mas nunca desenhou “Buck Jones“. Outro dos grandes artistas de “Western” seria Adam Horne, embora o acusassem das suas histórias terem pouco movimento.
Com o tempo, a qualidade do trabalho publicado vai diminuindo, já que ficam Sutherland, Milburn e Gale, a ocuparem-se de todo o trabalho, além de Charles Roylance, que é fraco. Algumas das histórias acabam por ser adaptadas e desenhadas por mais de um artista. Por exemplo, no N°. 107, na história de “Buffalo Bill” as páginas N°s. 1/4, 28/43 e 64, são desenhadas por Ron Embleton. As restantes, foram adaptadas de uma história da autoria do desenhador norte-americano Fred Meagher. A partir de uma certa altura, surgem duas novas personagens, “Davy Crockett” e “Kansas Kid“. Aparecem também novos autores e novas ideias são postas em prática, para ajudar a manter a qualidade dos trabalhos que até aí a revista tinha oferecido. Edward Drury, Derek Eyles, Reg Bunn, e, acima de tudo, Stephen Chapman e Gerry Embleton, ocupam-se dessas tarefas.

Davy Crockett por Gerry Embleton

Chapman executa bons trabalhos na figura de “Davy”, bem como Gerry (o irmão mais novo de Embleton), que ao desenhar desde muito novo, conseguiria criar excelentes personagens nas suas histórias: os caçadores, os soldados e os índios, são apresentados com ricos detalhes, além de desenhar belas paisagens, florestas e rios. No início, as histórias de “Kit Carson” e de “Buck Jones” eram escritas por Jimmy Higgins e ‘Chick’ Henderson. A imaginação que ambos deram às sua aventuras, não se repetiram. No entanto, Angus Allan e Allan Fennell, escreveram os textos para o “Davy Crockett” e para “Kansas Kid” de uma forma aceitável. Mais tarde, Dick Wise, Joan Whitford (com o pseudónimo de Barry Ford) e Andy Vicent, seriam os argumentistas dos outros trabalhos, a seguir.

Autores de respeito
Alfred Wallace será também um dos argumentistas a considerar e como editor da revista “Cowboy Comics Library“, resolve fazer uma coisa que, quanto a nós, não abonou muito a seu favor. Resolveria cortar, adaptar e modificar nomes e personagens, de histórias que já tinham sido publicadas anteriormente nas revistas. De tal modo se tomou tão confusa esta situação, que ainda hoje, muitas personagens se assemelham umas com as outras e acabariam publicadas com um nome, que muitas vezes não era o seu originalmente.

Fanzine “A Conquista do Oeste” - Página 20Mais tarde, Eric Parker volta a desenhar “cow-boys” e Jesus Blasco, junta-se aos desenhadores estrangeiros a colaborar na revista. Jackie Forret foi um dos novos artistas, a criar mais alguns trabalhos. Um dos desenhadores mais interessantes a ocupar-se de novas histórias, seria Robert Forrest Desenharia uma série de aventuras de “Kit Carson“. Seria mesmo considerado um dos melhores, para não dizer o melhor, desenhador de histórias inglesas de “western“. “Cowboy Comics Library” acabaria em 1962, com 468 revistas publicadas. No final da sua publicação, as histórias tornar-se-iam já um pouco mais complexas na sua narrativa, não defraudando, no entanto, o leitor na qualidade dos textos e dos desenhos, que seriam sempre mantidos como até aí.

OS “COMICS” INGLESES SOBRE CINEMA DE “WESTERN”

Hopalong Cassidy por J. H. ValdaO editor de “Puck“, uma celebre revista semanal inglesa de Banda Desenhada, no dia 29 de Novembro de 1913, anuncia aos seus jovens leitores de que passará a incluir nas páginas da revista, uma nova série intitulada “Tales From The Cinema“, que será afinal a adaptação à 9ª. arte, de alguns filmes da época, normalmente de “cow-boys“.
O primeiro trabalho chama-se “Blood Will Tell” e é ilustrado por G. M. Dodshon. A personagem principal é “Buffalo Bill“. A partir daqui o êxito está garantido e as adaptações sucedem-se, inclusive de “Tom Mix” e outras figuras do Cinema mudo da época.
O interesse passa a ser tanto, que a partir de 13 de Dezembro de 1919 sai o Nº. 1 do “Boy’s Cinema“, uma revista semanal de 28 páginas, que duraria 21 anos e que apresentaria, do mesmo modo, outras adaptações de filmes dedicados ao tema do “western“, tão em voga na altura. “Film Fun” será outra das revistas a ser publicada, surgindo o seu Nº. 1 em 17 Janeiro de 1920. Aqui os temas serão ligeiramente diferentes, já que irão incidir, essencialmente, na figura dos próprios artistas e não nos filmes. No entanto, as estrelas serão igualmente artistas de filmes de “westem“, tais como “Buck Jones“, mas cujos argumentos serão de autores ligados à revista e desenhados por J. H. Valda, um veterano autor de outras histórias do género. Na época e no tradicional uso das revistas de Banda Desenhada inglesas, as Histórias aos Quadradinhos eram concebidas em tiras, com o texto em rodapé.

Fanzine “A Conquista do Oeste” - Página 21Uma nova revista irá aparecer mais tarde, a partir de 16 de Julho de 1934, com o título de “Film Picture Stories” e, desta vez e de novo, com adaptações de filmes de “western” e outros. A personagem principal será, mais uma vez, “Buck Jones” e os desenhos pertencem a Joseph Walker. No entanto, a revista não será um sucesso, pelo que acabará 30 semanas mais tarde. Outros artistas de filmes de “western” que surgiram nesta publicação foram: Randolph Scott, Bob Steele, Rex Bell, Tom Tyler e Ken Maynard. Os desenhadores seriam igualmente diversos: Valda, Walker, Harry Lane, George W. Wakenfield e Serge Drigin.
Outras das revistas que em 1936 aparecerão com artistas ligados aos temas de “western” serão “Funny Wonder” com Tim McCoy, “The Jester” com Gary Cooper e “Tip Top” com Ken Maynard, mas claro, a nível esporádico.

Filme de Frec MacMurrayEm 1938, na revista “Radio Fun“, aparecerá Tom Keene e em 1939, será a vez de William Boyd na figura de “Hopalong Cassidy” com desenhos de C. E. Montford. Esta personagem já tinha sido publicada na revista “Modern Boy” (1937), em três aventuras suas, baseadas em filmes e desenhadas por J. H. Valda. Além destas aventuras, a revista iria incluir igualmente outras, também baseadas em filmes de “western“, mas com outros artistas. Esta publicação, apesar de profusamente ilustrada e com belas capas, embora a duas cores, só incluía em cada número uma ou duas pranchas de Banda Desenhada, apesar das suas 28 a 36 páginas. Apresentava-se, principalmente, com contos, novelas e vários romances. Será a veterana revista “Film Fun“, no seu número 1532 de 28/5/49, que publicará nas suas páginas, novas aventuras adaptadas de filmes de “western“. Desta vez os artistas presentes serão Johnny Mack Brow, Gregory Peck, Wayne Morris, John Wayne e Ronald Reagan, alguns já pertencentes à nova vaga de actores que estavam a dar os seus primeiros passos na 7ª. Arte. A recessão atinge este género de Banda Desenhada, que dará então os seus últimos passos para findr nos inícios dos anos 50.

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