Entrevista conduzida por José Carlos Francisco.
Para começar, fale um pouco de si. Onde e quando nasceu? O que faz profissionalmente?
Marco Guerra: Sou o Marco Guerra e nasci na bonita cidade de Anadia, no coração da bela Bairrada, no ano de 1979 mais precisamente no dia 25 de Maio pelas 4 horas da manhã. Não fosse de manhã que se inicia o dia.
Apaixonado por ciclismo, sou praticante amador e coleccionador de tudo um pouco que envolva a modalidade. Além disto sou um apaixonado por fotografia, pesca desportiva e coleccionador de pacotes de açúcar. Insatisfeito por natureza, acabo por acolher mais um hobby: coleccionar Tex!
Actualmente encontro-me empregado numa secção de pintura de material metálico.
Quando nasceu o seu interesse pela banda desenhada?
Marco Guerra: Sinceramente nunca fui muito de ler. Recordo-me do meu Pai ser um amante de livros de cowboys conhecidos por livros de “bolso” e ter imensos. De vez em quando ia desfolhando alguns mas nada de especial, apenas por curiosidade mas nunca passou disso. Em criança fui tentando ler mas sinceramente nunca fui amante de leitura. A paixão surge mesmo no dia em que visitei a exposição e me deliciei com o que ali vi.
Quando descobriu Tex?
Marco Guerra: Já ouço falar de Tex há algum tempo. O meu irmão dizia que o Padrinho (José Carlos Francisco) coleccionava Tex e que tinha imensas coisas em casa, mas eu sinceramente nunca lá tinha ido ver. Não por falta de convites mas por não ser mesmo fascinado por leitura na altura. Foi através do meu irmão que acabei por conhecer este mundo.
Mas na realidade tudo começou no dia 17 de Agosto de 2014 quando entrei na sala da exposição no Museu do Vinho Bairrada. Senti algo inexplicável ao ver o que ali estava exposto. Não fazia ideia do que seria um clube dedicado em exclusivo a uma personagem, muito menos a uma personagem que não é muito falada no nosso dia-a-dia.
Ao percorrer cada estante/vitrina ia nascendo em mim uma paixão pelo Ranger que me era apresentado. Nada tinha a ver com o que Eu tinha pensado antes de ali entrar. Para mim, Tex era apenas uma personagem de BD mas ali vi que era mais que isso. Tex era um Deus!
Porquê esta paixão por Tex?
Marco Guerra: Tex é uma personagem ímpar. Alguém que muita gente na vida real deveria seguir o seu exemplo de lutador pela verdade e sempre pronto a ajudar as pessoas de bem. Tex é um aventureiro, e como gosto de aventura, ele conseguiu cativar o meu interesse.
Os desenhos a preto e branco dão um ar diferente às histórias e sendo eu apaixonado por fotos a P&B, acaba por me cativar ainda mais a atenção. Sem nunca deixar de parte o argumento das suas aventuras onde existe um final feliz, para alguns… não fosse Tex um verdadeiro herói!
O que tem Tex de diferente de tantos outros heróis dos quadradinhos?
Marco Guerra: A sua personalidade forte e vincada e o facto de ser alguém, simples, sem poderes como é habitual ver noutros heróis de BD faz com que seja único. Um herói tão incomparável que dificilmente virá a nascer outro com as mesmas características.
Qual o total de revistas de Tex que você tem na sua colecção? E qual a mais importante para si?
Marco Guerra: No momento a que respondo a esta entrevista conto apenas com 155 exemplares. Tive desde cedo a noção de que infelizmente não iria conseguir fazer crescer a colecção a bom ritmo, mas vou continuando à procura de números atrasados a bom preço e ir comprando alguns que vão saindo sempre que me seja possível.
Tenho pesquisado bastante na net em sites de leilões e por lá tenho encontrado alguns que acho serem raros pois são números muito antigos. Tenho alguns exemplares que nem me arrisco a ler, não por não ter vontade mas devido ao estado de conservação com que chegaram até mim. Infelizmente nem toda a gente parece ter grande brio na conservação dos seus exemplares e como tal nem sempre os recebo como gostaria. Sendo assim prefiro tê-los sem lhes mexer muito para tentar a sua conservação.
Para mim todas são importantes pois todas elas são necessárias ao objectivo: ter a colecção completa! Mas a primeira é e será eternamente a primeira. Foi a nº 290 de Tex Coleção “Mercadores da morte”. Mas como coleccionador orgulho-me de possuir alguns exemplares nº1, alguns não foram fáceis de encontrar devido à longevidade da sua edição.
Não menos importantes e cada vez mais valiosas, tenho todas as revistas que saíram até hoje do Clube Tex Portugal tendo o privilégio de algumas delas serem autografadas pelos autores dos desenhos contidos nas mesmas.
Colecciona apenas livros ou tudo o que diga respeita à personagem italiana?
Marco Guerra: Curiosamente, ou não, não comecei por coleccionar livros. A minha humilde colecção inicia-se com algo único e com um valor sentimental extremo: um desenho original de Tex feito por Pasquale Del Vecchio. Foi aqui que começou tudo!
Acho que qualquer coleccionador gostava de ter na sua colecção um desenho, ou mais, originais do seu Ranger de eleição. Vi-o nascer de uma simples folha de papel branco, não tenho palavras para descrever a sensação que é.
Além deste desenho sou possuidor de outros desenhos dos mestres Pasquale Frisenda, Stefano Biglia, Massimo Rotundo, Maurizio Dotti, Andrea Venturi e Leomacs. Bem como dois desenhos de dois fãs de Tex: João Amaral e António Lança Guerreiro.
Possuo também duas cópias de pranchas autografadas por os respectivos autores: Maurizio Dotti e Pasquale Frisenda
Além disto a minha humilde colecção conta também com diverso material referente às exposições realizadas em Anadia em que tive o privilégio desse material ser autografado por os autores presentes no certame bem como de todas as revistas do Clube Tex Portugal em que algumas tem desenhos autografados pelos seus autores.
Actualmente, além do referido anteriormente, vou coleccionando livros que é o que tenho conseguido cá em Portugal. Estou a abrir o leque das pesquisas com intuito de conseguir outro tipo de peças em sites de leilões estrangeiros, principalmente em sites italianos. Não tem sido fácil porque parte dos vendedores não enviam para Portugal e outras peças que gostava de ter têm um valor monetário elevado… O objectivo principal será dar seguimento à colecção com tudo que me seja possível adquirir ou seja oferecido. Por mim compraria tudo o que aparecesse mas infelizmente tal não é possível…
Qual o objecto Tex que mais gostaria de possuir?
Marco Guerra: Sem duvida a colecção completa. Qual o coleccionador que não gostaria? Uma estatueta, ou várias, do Ranger e seus pards ficariam bem na colecção. Sinceramente tudo o que tenha a ver com Tex gostava de possuir. Não excluo o sonho de um dia ter algo mais pessoal de Tex como uma prancha original. Difícil? Sim. Impossível? Tudo é impossível até ao dia que se torna possível. O sonho comanda a vida e um dia quem sabe este sonho seja real. Um dia…
Qual a sua história favorita? E qual o desenhador de Tex que mais aprecia? E o argumentista?
Marco Guerra: Não é fácil responder a estas perguntas. O que li até agora considero que não me dá bagagem suficiente para falar muito sobre a pergunta efectuada.
Do pouco que li até hoje tenho duas que considero as favoritas por duas razões bem distintas. Desporto e saúde.
Relativa a desporto é Patagónia. A obra nada tem haver com desporto é verdade mas sendo eu amante e praticante amador de BTT, tenho o sonho de visitar este local paradisíaco de seu nome Patagónia, por onde Tex já passou. Uma história cativante a cada folha lida em que é retratado, e muito bem, o genocídio das tribos índias.
A segunda obra e, esta relativa a um período da minha vida em que a saúde entra, é o “O segredo do juiz Bean”. Foi a obra eleita para ler enquanto aguardava por a minha vez de ir ao bloco operatório. Foi com esta obra que me abstraí do mundo e que me ajudou a relaxar momentos antes de um momento delicado e muito esperado por mim.
Se nas histórias consegui eleger duas que para mim são importantes não só pelo seu conteúdo mas que acaba por marcar a minha vida quanto a desenhadores e argumentistas não tenho nenhum em especial. Quanto a desenhadores gosto de belos desenhos a preto e branco, adoro mesmo… sem que preencha muito o desenho. Traço simples e sóbrio. Quanto aos argumentistas aqui é que é mais complicado pois do que li até hoje ainda não consegui ser conquistado por nenhum em particular.
O que lhe agrada mais em Tex? E o que lhe agrada menos?
Marco Guerra: Além de adorar Tex como “pessoa” o que me agrada mais é o facto de pegar numa revista, ou livro, e o tempo passar sem que se dê por ele. Porquê? Porque Tex é cativante a cada letra, palavra, frase ou desenho. A cada “quadradinho“ estou sempre à espera do que virá a seguir: quando é que os “bandidos” são apanhados e como poderá ser o fim. Tantas coisas passam pela cabeça que por vezes sinto que estou dentro do livro. Deixo-me percorrer pelas páginas que vou folheando com carinho. Não gosto de ler a correr apenas e só para devorar mais uma história, gosto sim de sentir cada palavra, cada desenho.
Quanto ao que me agrada menos, sinceramente neste momento não tenho nada a referenciar. Nunca tive grande sentido crítico talvez por ser novo neste mundo, ou por apreciar por gosto, não abona a meu favor para ter argumento de crítica, pelo menos do lado negativo.
Em sua opinião o que faz de Tex o ícone que é?
Marco Guerra: A forma como enfrenta os fora da lei com lealdade e valentia sem olhar a meios para atingir os seus fins. Lutador nato pela lei e por as pessoas de bem.
Não excluo que a sua longevidade acaba por ser um posto perante os seus fãs. Acaba por ser como o vinho do Porto: “quanto mais velho melhor”!
Costuma encontrar-se com outros coleccionadores?
Marco Guerra: Sim! Tenho o privilégio de morar em Anadia, cidade onde já foram efectuadas quatro exposições dedicadas ao Ranger. Na primeira era um mero visitante e acabei por não conhecer ninguém além do já conhecido José Carlos. Nas seguintes aproveitei ao máximo para estar o mais tempo possível na exposição e assim ter convivido com alguns coleccionadores e amantes de Tex.
Para concluir, como vê o futuro do Ranger?
Marco Guerra: Sempre ouvi dizer e utilizo a seguinte frase quando me falam em futuro: “O futuro a Deus pertence!” E basicamente é assim que vejo o futuro do nosso querido Ranger. Sinceramente gostava que daqui a muitos anos, quando andar de bengala e estiver sentado à lareira, pegar nos livros que tiver e contar aos meus netos, caso os tenha… belas histórias de Tex e com isso fazer que passe de geração em geração. Mas já dei por mim a pensar até quando Tex permanecerá vivo? A idade começa a pesar e ninguém é eterno… Claro que os leitores/coleccionadores serão fundamentais para que a sua longevidade seja, ou não, longa. Acredito que se continuar a existir muitos leitores/compradores Tex continue vivo entre nós durante muitos mais anos. Mas a crise afecta todos, uns mais que outros, infelizmente e isso acaba por interferir bastante com a sua longevidade.
Um futuro longínquo é o que lhe desejo para que todos possamos continuar a deliciarmos-nos com as suas aventuras.
Prezado pard Marco Guerra agradecemos muitíssimo pela entrevista que gentilmente nos concedeu.
Marco Guerra: Quero agradecer a oportunidade de me ter sido concedida esta entrevista. Um agradecimento especial ao José Carlos, presidente deste clube tão especial, por tudo que tem feito pelo Ranger no nosso país e não só e a todos que com ele têm trilhado o caminho para que todos os amantes de Tex se possam deliciar. Um bem-haja a todos vós!
(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)
Marco Guerra, que (como confessa abertamente logo no início desta entrevista) nunca sentiu o apelo da leitura antes do seu primeiro encontro com o fascinante mundo de Tex, revela-se, afinal, um Leitor com maiúscula, no sentido literal do termo, ao afirmar que: “A cada “quadradinho“ estou sempre à espera do que virá a seguir: quando é que os “bandidos” são apanhados e como poderá ser o fim. Tantas coisas passam pela minha cabeça que por vezes sinto que estou dentro do livro. Deixo-me percorrer pelas páginas que vou folheando com carinho. Não gosto de ler a correr apenas e só para devorar mais uma história, gosto sim de sentir cada palavra, cada desenho”.
Sem dúvida, um exemplo a seguir por muitos jovens que nos dias de hoje rejeitam os livros, habituados a outros passatempos mais condizentes, segundo pensam, com os tempos modernos. Mas os livros ainda não passaram de moda… e nunca é tarde para os descobrir e apreciar!
Os meus sinceros parabéns a Marco Guerra e que continue, na companhia de Tex e dos seus “pards”, a percorrer as sendas do mítico Faroeste, vivendo em espírito as mesmas empolgantes aventuras… porque fibra de Leitor e de Texiano não lhe falta!
Muito obrigado Sr. Jorge Magalhães!
Infelizmente a nossa juventude já não se vê agarrada ao papel mas sim às novas tecnologias. Nunca é tarde para descobrir a paixão por folhear um livro, sentir o cheiro do papel e em Tex, em especial, sentir o verdadeiro prazer da leitura.