Entrevista com o fã e coleccionador: Jorge Carvalho

Entrevista conduzida por José Carlos Francisco.

Para começar, fale um pouco de si. Onde e quando nasceu? O que faz profissionalmente?
Jorge Carvalho: Nasci em Braga, Portugal, em 1 de Julho de 1970 e sou advogado.

Quando nasceu o seu interesse pela Banda Desenhada?
Jorge Carvalho: É uma data difícil de precisar, já via BD sem saber ler, talvez aos 4 anos.

Quando descobriu Tex?
Jorge Carvalho: Talvez aos 12, a primeira banda desenhada do Tex que li foi «Mistério na Mina», não gostei do argumento nem do desenho. A segunda história que li do Tex, não me recordo do título, era desenhada pelo Giovanni Ticci, para mim um dos melhores criadores gráficos do Tex, o argumento era sobre um navajo que queria retirar a liderança dos mesmos a Tex, a história acabou com o rebelde e seu exército vencidos por Tex, e o rebelde sem o seu escalpe, retirado por Tex, e abandonado aos lobos. Foi a partir daqui que comecei a gostar de Tex.

Porquê esta paixão por Tex?
Jorge Carvalho: Desde criança sempre gostei de BD, desde a clássica estado-unidense até à contemporânea norte-americana, desde a franco–belga  até os fumetti italianos. Gosto de todos os géneros de BD e todas as correntes, embora obviamente tenha preferências.
Gosto bastante de Western, seja na BD seja no cinema. Adoro Ken Parker, Tenente Blueberry, Comanche, gosto de Zagor, Mágico Vento também, embora no passado tenha sido infinitamente melhor, considero que a série está em decadência, passou de sublime para desinteressante, outros que gosto; Rick o´Shay, Latigo, Matt Marriot…
Tex cativou-me pelos argumentos e pelos desenhos. É um western cinematográfico, sendo não só muitas vezes inspirado pelo cinema western, como também chega a plagiar sequências e até argumentos inteiros de alguns westerns americanos e italianos.
Por exemplo: Rio Bravo de Howard Hawkes, com o mítico John Wayne e Dean Martin, numa história desenhada por Jesus Blasco, penso que o título será «A Cidade do Medo». «O Bando dos Irlandeses», cuja capa e parte final da aventura é claramente retirada de «The Wild Bunch» de Sam Peckimpah, talvez o melhor western de sempre. Isto apenas a nível exemplificativo, pois outras aventuras de Tex tinham referências a vários westerns (só num Almanaque de Tex, ilustrado por Civitelli, havia múltiplas vinhetas que eram assumidamente decalcadas de westerns notórios, como «My Darling Clementine» de John Ford, com Henry Fonda. De notar que estas três histórias referenciadas se encontram entre as minhas preferidas de Tex.
Tex apresenta uma qualidade desigual, consoante o argumento e o desenho, às vezes banal outras sublime. Gosto da determinação inabalável da personagem, embora o seu método muito sui generis de retirar informações aos criminosos seja reprovável perante todos os ordenamentos jurídicos vigentes, não podendo nunca a prova, por ele obtida mediante a sua forma peculiar, ser valorada para efeitos jurídicos. Neste âmbito gosto do modus operandi do Punisher, da Marvel, pelo que, não obstante a minha profissão, aprovo a forma de obtenção de informações do Tex, apesar de anti-jurídica.
Tex é eficiente no que faz e imbatível.

O que tem Tex de diferente de tantos outros heróis dos quadradinhos?
Jorge Carvalho: Parte de um modelo predefinido com algumas variações, mas apesar deste ponto de contacto com inúmeras outras personagens, conseguiu, pela sua longevidade e evolução atingir um estatuto de culto primus inter partes.

Qual o total de revistas de Tex que você tem na sua colecção? E qual a mais importante para si?
Jorge Carvalho: Talvez 400, nunca contei. O filme ou a história mais importante é sempre difícil de elencar. Algumas das mais importantes: O Caçador de Fósseis, Os Assassinos, A Cidade do Medo, entre outras.

Colecciona apenas livros ou tudo o que diga respeita à personagem italiana?
Jorge Carvalho: Apenas livros.

Qual o objecto Tex que mais gostava de possuir?
Jorge Carvalho: Miniatura do Tex, desde que bem concebida.

Qual o desenhador de Tex que mais aprecia? E o argumentista?
Jorge Carvalho: Fabio Civitelli, Alfonso Font, Giovanni Ticci, Fernando Fusco, Jesus Blasco, aprecio-os de igual maneira, quanto ao pior, Galep. Argumentista não tenho um preferido em particular, mas gosto de argumentos que não sigam o padrão, como Os Quatro Assassinos, de Joe Kubert, ou o Tex anual do Alfonso Font (Território Selvagem) e As Duas Faces da Vingança, outro Tex anual desenhado por Miguel Angel Repetto.

O que lhe agrada mais em Tex? E o que lhe agrada menos?
Jorge Carvalho: Mais, a acção, a emoção, alguns autores gráficos. Menos, certos segmentos das histórias como as longas e monótonas exposições de Tex e dos vilões quando discursam sobre conjecturas e planos. Cortam bastante o ritmo narrativo de um género que se requer rápido.

Em sua opinião o que faz de Tex o ícone que é?
Jorge Carvalho: André Bazin, célebre crítico cinematográfico disse «O western é o género nobre do cinema americano». Tex é a transposição das grandes obras-primas do western cinematográfico para a BD. O seu sucessor noutra mídia. Além de que é refrescante ler uma história bem escrita e bem desenhada de Tex.

Costuma encontrar-se com outros coleccionadores?
Jorge Carvalho: Sim, gostaria é que fosse mais vezes.

Para concluir, como vê o futuro do Ranger?
Jorge Carvalho: Ad eternum, se evoluir sempre, há certos elementos que ficam datados e têm de ser eliminados, outros terão de ser introduzidos. Tex não pode ficar sempre preso a uma fórmula imutável sob risco de desaparecer, por exemplo, há que desenvolver mais as personagens secundárias e não serem tão unidimensionais. Há que fazer uma abordagem psicologicamente mais densa das personagens principais.

Prezado pard Jorge Carvalho, agradecemos muitíssimo pela entrevista que gentilmente nos concedeu.

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

2 Comentários

  1. Saudações, Jorge!
    Gostei de sua entrevista, acho muito bonito quando se usa palavras difíceis, hehehehe.
    Não posso deixar de comentar que bem depressa busquei meu dicionário, rsrs.
    Parabéns pela coleção.
    Minha entrevista logo sairá também… em breve!

    Abraços!

  2. Também curti a entrevista.
    Ao que parece tem uma opinião bem complexa de cada roteirista e desenhista.
    Parabéns por ser tão atento aos detalhes.

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