Entrevista com o fã e coleccionador: Eduardo Dias Gouvea

Entrevista conduzida por José Carlos Francisco.

Para começar, fale um pouco de si. Onde e quando nasceu?
O que faz profissionalmente?

Eduardo Dias Gouvea: Meu nome é Eduardo Gouvea, nasci em Maio de 1981, em Osasco, cidade que fica ao lado de São Paulo. Desde o final da década de 1990 trabalho com jornalismo desportivo e há 20 anos moro em Sorocaba, a 90 quilómetros de São Paulo. Atualmente tenho um canal sobre futebol no Youtube (Eduardo Gouvea) e edito os sites Gazeta do Futebol e SuperFutebol. Em Dezembro criei o canal “Resenha do Gibi” onde externo opiniões sobre histórias em quadrinhos, com bastante ênfase às histórias do Tex e da editora Bonelli.

Quando nasceu o seu interesse pela banda desenhada?
Eduardo Dias Gouvea: Antes mesmo de eu aprender a ler e escrever as revistas em quadrinhos já me chamavam a atenção e quando foi alfabetizado comecei a ler gibis da Turma da Mônica e derivados. Em 1994 um programa de televisão infantil chamado “TV Colosso” iniciou a exibição dos desenhos animados dos X-Men. A animação fez muito sucesso entre os brasileiros e motivou uma reportagem sobre o aumento das vendas de gibis por conta disso. Como eu gostava muito do desenho decidi ir nas bancas de jornais atrás das revistas para conhecer um pouco mais sobre os personagens. Foi aí que a paixão explodiu pra valer e lá se vão quase três décadas.

Quando descobriu Tex?
Eduardo Dias Gouvea: Descobri Tex por volta de 1994, quando um amigo de escola, Cleiton Martins, tinha várias revistas e me emprestou algumas para eu ler. Logo de cara as histórias, a narrativa e a intensidade das aventuras me prenderam a atenção. Passava horas lendo e pedia mais emprestadas.

Porquê esta paixão por Tex?
Eduardo Dias Gouvea: Eu gosto muito do estilo da narrativa das histórias, sempre envolventes e com desfechos inesperados. Elas nos retrataram também um pouco do que era a vida na América do Norte no século XIX.
Outro ponto positivo é que as sagas são independentes e raramente influenciam sagas futuras. Isso facilita para um novo leitor que pode começar a ler, sem maiores problemas, qualquer história do personagem sem que as mesmas estejam “amarradas” a acontecimentos de sagas anteriores. Dificilmente o que aconteceu na história anterior influenciará na próxima.
Diferente de personagens de outras editoras, o Tex sempre foi aquilo desde o começo e não precisou se moldar para agradar novas gerações. A gente pode ler com a segurança de que lá na frente não vamos ser surpreendidos pelo facto de que ele era um bandido se passando por mocinho o tempo todo como já vi acontecer em outros universos.

O que tem Tex de diferente de tantos outros heróis dos quadradinhos?
Eduardo Dias Gouvea: Uma das coisas que me incomodam em personagens de outras editoras é que de tempos em tempos os roteiristas querem reinventá-los. Como, por exemplo, chegam ao ponto de dizerem que tudo que você conhecia sobre determinado herói é falso ou ainda quando outra pessoa assume a identidade do herói, um vilão passa a ser do bem e um herói agora é do lado mau. Também há casos, como o do Professor Xavier, que já morreu umas dez vezes e sempre volta. Nunca gostei desse tipo de reviravolta.

Tex desde do início foi o Tex e continuará sendo. Suas características não mudam e ele também não passa por transformações radicais. Mesmo assim as histórias seguem fascinantes e surpreendentes.

Qual o total de revistas de Tex que você tem na sua colecção? E qual a mais importante para si?
Eduardo Dias Gouvea: Minha coleção não é ainda tão robusta se comparada a de outros colecionadores. No total, contando todos os personagens e editoras, tenho cerca de 150 revistas, mas venho comprando todo mês.

Do Tex, especificamente, tenho quase 50, porém algumas muito especiais, como a Tex Coleção nº 01 e a Tex Edição História também nº01, que trazem em ambas as primeiras aventuras do personagem. Agora com o canal no Youtube onde toda semana falo de uma edição, a tendência é esse acervo aumentar bastante nos próximos meses.

Colecciona apenas livros ou tudo o que diga respeita à personagem italiana?
Eduardo Dias Gouvea: 
Eu foco mais nas revistas e livros, até porque na cidade que moro não há muitas coisas de Tex para comprar.

Qual o objecto Tex que mais gostaria de possuir?
Eduardo Dias Gouvea: Sempre gostei daquele lenço que ele usa no pescoço. Bem que poderia entrar na moda em alguma época. (…risos…)

Qual a sua história favorita? E qual o desenhador de Tex que mais aprecia? E o argumentista?
Eduardo Dias Gouvea: Uma que eu já devo ter lido quatro vezes ou mais foi “A Cidade Corrompida” (no Brasil saiu em Almanaque Tex nº 34). É uma história que se passa em Nova Orleans e Tex e Carson têm que colocar fim ao Bando do Rio. “Oklahoma!”, que li na década de 90 também é fantástica. “O Braço Longo da Lei”, que saiu recentemente na Tex Platinum nº 13 é bem legal. Outra que destaco é “O Passado de Tex” quando o próprio conta suas origens e “A Quadrilha dos Dalton”.
Sobre os desenhistas, gosto muito do trabalho do Fabio Civitelli e do Galleppini.
Citar como roteirista favorito o Gian Luigi Bonelli é, como se diz no Brasil, “chover no molhado”. Não há como não se referir a ele quando questionado a respeito. Fora ele, gosto muito dos textos do Mauro Boselli e do Antonio Segura. Outro que também me agrada é o Gianfranco Manfredi.

O que lhe agrada mais em Tex? E o que lhe agrada menos?
Eduardo Dias Gouvea: Me agrada muito de quando ele é sarcástico em algumas situações, quando mesmo estando em perigo, o ranger não perde a oportunidade de dizer algo que no faz cair no riso. Isso traz equilíbrio em histórias que às vezes tendem a ser tensas. Com relação à arte, os desenhistas não precisam apelar para traços muito violentos ou chocantes para transmitir ao leitor toda a dramaticidade e tensão de um determinado momento. Mesmo em histórias coloridas, não há sangue jorrando do corpo dos personagens e isso é muito bom.
É difícil achar algo que não agrada, mas teve uma história que o Tex foi muito precipitado em uma situação na qual ele decidiu agir quando o melhor seria ficar escondido e isso causou a morte de pessoas inocentes. Teve outra história que no final ele matou um pistoleiro de aluguel que passou praticamente o tempo todo protegendo a ele e um amigo seu. Pelo menos isso mostra que Tex não é infalível e até mesmo o maior ranger das HQs pode tomar decisões erradas.
Com relação ao roteiro, há histórias que se alongam por demais e os desfechos, que poderiam ser mais explorados – como por exemplo o confronto final com o chefe de um bando –, tendem a ser resolvido em poucos quadros.

Em sua opinião o que faz de Tex o ícone que é?
Eduardo Dias Gouvea: Seus princípios morais, o facto de nunca se corromper e sempre passar grandes valores como honestidade, companheirismo, justiça. Há situações, em que se coloca em grande risco para não ter que quebrar esses valores. Tudo isso, como já mencionei, com uma pitada de humor sarcástico.

Costuma encontrar-se com outros coleccionadores?
Eduardo Dias Gouvea: Nunca tive a oportunidade de participar de um encontro com outros colecionadores. Mas espero que em breve isso possa ocorrer.

Para concluir, como vê o futuro do Ranger?
Eduardo Dias Gouvea: Em termos editoriais eu vejo as revistas do Tex como sendo uma das últimas referências das histórias em quadrinhos “raiz”, das histórias impressas em preto e branco onde o talento do artista se sobressai a recursos de computação gráfica. Em um mundo cada vez mais digitalizado, elas ainda nos darão o prazer de sentir o cheiro da tinta ainda fresca no papel jornal.
Sobre o personagem em si, eu vejo ele quebrando as barreiras do tempo e chegando aos 100 anos com a jovialidade de um garoto. Espero que ele sempre mantenha esse perfil.

Prezado pard Eduardo Dias Gouvea, agradecemos muitíssimo pela entrevista que gentilmente nos concedeu.

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

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