Entrevista com o fã e coleccionador: Celso Maurício Civera

Entrevista conduzida por José Carlos Francisco.

Para começar, fale um pouco de si. Onde e quando nasceu? O que faz profissionalmente?
Celso Civera: Caro amigo Zeca, é sempre difícil falar sobre si mesmo quando se tenta estabelecer traços comportamentais, aptidões ou valores morais que nos definem como indivíduo, pois, invariavelmente, nos assombramos (rsrsrsrs) com a profusão de vícios com que nos deparamos nesse processo de auto-avaliação. Mas, numa reflexão rápida, posso dizer que sou uma pessoa que se preocupa intensamente em dar o seu melhor naquilo que faz, tenho uma satisfação enorme no acto de realizar trabalhos voluntários (faço parte de uma ONG que busca angariar recursos para garantir um suporte financeiro ao hospital da minha cidade) e o meu passatempo predilecto é a leitura de livros e, claro, Histórias em Quadrinhos.
Nasci no dia 1º de Outubro de 1967 na pequena cidade turística de Serra Negra, interior do Estado de São Paulo, distante cerca de 200 Km da capital.
Já trabalhei como técnico em electrónica, bancário, Serventuário da Justiça e, actualmente, exerço o cargo de Oficial de Promotoria de Justiça no Ministério Público do Estado de São Paulo que, numa explicação simples, tem como objectivo defender os direitos dos cidadãos e os interesses da sociedade, bem como promover a acção penal pública.


Quando nasceu o seu interesse pela banda desenhada?
Celso Civera: A minha infância transcorreu em meio às revistas em quadrinhos dos super-heróis e heróis clássicos, como Super-Homem, Aquaman, Lanterna Verde, Batman, Fantasma, Tarzan, Flash Gordon, Namor, Capitão América, Homem de Ferro, Hulk, Homem Aranha, Capitão Marvel e tantos outros. Meu irmão mais velho, que foi um consumidor voraz de “gibis”, inadvertidamente largava suas HQs em cima da cama ou do sofá da sala. Aí, então, eu me deleitava com todo aquele acervo de aventura e fantasia. Mesmo numa época em que eu ainda não sabia ler, permanecia longas horas extasiado com a beleza e a expressividade dos desenhos. Minha imaginação ia longe e eu fantasiava ser o protagonista das histórias, ou seja, o próprio super-herói. Era uma delícia!

Quando descobriu Tex?
Celso Civera: Na verdade, amigo Zeca, eu descobri TEX muito recentemente, há cerca de nove meses, por influência do nosso amigo Adriano Rainho.
Eu estava navegando pela Internet em busca de HQs antigas, do tempo de minha infância, e me deparei com vídeos publicados no Youtube do “Quarto dos Sonhos”. Achei o máximo! Um programa semanal no qual o pard Adriano Rainho exibe, página por página, uma HQ ou um álbum antigo.
Como você sabe, o pard Adriano Rainho idolatra TEX WILLER e fiquei muito curioso para saber o que aquele personagem do velho Oeste americano tinha de tão fascinante. Quando li a primeira história, não consegui mais parar de ler. Eu havia, enfim, descoberto e sido dominado pela magia que emana da criatura de Gianluigi Bonelli e Aurelio Galleppini.

Porquê esta paixão por Tex?
Celso Civera: O universo de TEX WILLER brinda os seus leitores com acção electrizante em todas as histórias, tiroteios frenéticos, brigas renhidas, romances arrebatadores, humor suave e espirituoso, situações que demonstram espantosa perspicácia do personagem principal, emprego de estratégias e planejamentos que emulamos mais capacitados dignitários militares e por aí vai. O que torna a leitura interessante é o enredo bem elaborado, histórias longas, porém fluídas, e desenhadores da melhor estirpe. Cada nova aventura parece um filme de faroeste com enredo impecável. Além do mais, você fica por dentro da cultura dos índios, da vida dos pioneiros, de episódios marcantes e reais na história dos Estados Unidos, dos hábitos, da geografia e da arquitectura da época. Outros factores decisivos para o sucesso editorial do herói TEX WILLER são os valores morais que ele coloca em evidência, entre eles a amizade, a honestidade, a lealdade, a rectidão e o senso de justiça. Tudo isso emoldurado por desenhos de uma qualidade técnica e de uma beleza ímpares.


O que tem Tex de diferente de tantos outros heróis dos quadradinhos?
Celso Civera: Além dos motivos elencados na resposta anterior, TEX, a despeito de ser um personagem do mundo da ficção, é um herói perfeitamente possível, haja vista que não possui super-poderes ou faculdades sobrenaturais. Esse factor facilita a sua identificação com o público leitor, pois, apesar de suas qualidades morais, intelectuais e até físicas chegarem às raias da quintessência, TEX não é um ícone inatingível. Essas características o tornam ainda mais fascinante e o diferenciam dos heróis inverossímeis.

Qual o total de revistas de Tex que você tem na sua colecção? E qual a mais importante para si?
Celso Civera: Minha paixão por TEX é recente, então minha colecção ainda é bastante modesta. Actualmente, possuo 56 edições. Dentre elas uma assinatura da editora Salvat, que irá publicar as consideradas melhores histórias de TEX em 60 edições de luxo. Quanto à revista mais importante, é realmente uma decisão muito difícil, pois, considerando que eu ainda não possuo edições raras, todas as peças da minha colecção têm semelhante valor e significado para mim.

Colecciona apenas livros do Tex ou também de outras personagens?
Celso Civera: Planejo formar aos poucos uma colecção de TEX digna de um verdadeiro pard texiano. Pretendo adquirir também aquelas belíssimas estatuetas de TEX e dos principais personagens a ele relacionados, a exemplo de nosso amigo Adriano Rainho, que possui uma colecção invejável dessas miniaturas.

Qual o objecto Tex que mais gostaria de possuir?
Celso Civera: A estatueta “Tex Ultra Limited Edition”.


Qual a sua história favorita? E qual o desenhador de Tex que mais aprecia? E o argumentista?
Celso Civera: Essa é uma questão de extrema dificuldade! O facto é que cada história de TEX que leio eu a reputo como sendo a melhor de todas, ou seja, é um círculo vicioso de agradáveis surpresas. Eu nunca experimentei uma situação como essa em relação a qualquer outro expoente das Histórias em Quadrinhos. É espantoso, mas TEX WILLER consegue mesmerizar seu leitor a ponto de confundi-lo de forma desconcertante diante da árdua tarefa de alçar uma história como sendo a melhor. Essa circunstância, se considerarmos o imenso manancial de argumentos que deu arcabouço à vida do personagem pelas mãos de uma plêiade de desenhadores e roteiristas de escola, nos dá como facto inconteste que TEX WILLER  é um condigno representante do mais alto grau da nona arte. No entanto, na questão desenhador favorito, posso divisar dois gigantes que me encantaram com a sua arte: Alberto Giolitti, que emprestou seu talento artístico na estupenda “Terra Sem Lei”, e Magnus, cujo traço é mais perfeito do que uma fotografia de alta resolução, na magnífica “O Vale do Terror”.

O que lhe agrada mais em Tex? E o que lhe agrada menos?
Celso Civera: A inteligência, a sagacidade, o senso apurado de justiça, a valorização da amizade, a lealdade, a coragem indómita, a disposição incondicional para o trabalho, a crença inabalável na vitória, os elevados valores morais, a solidariedade abnegada, o carácter monolítico, a habilidade inigualável no manejo das armas e do ginete. Até mesmo o uso do cigarro e da bebida lhe cai bem e serve ao propósito de outorgar-lhe ainda mais virilidade e humanidade. Sinceramente, nada me desagrada em TEX.

Em sua opinião o que faz de Tex o ícone que é?
Celso Civera: As histórias são um autêntico e envolvente roteiro de cinema. De um modo geral, os aficionados por histórias em quadrinhos se afeiçoam pelo personagem em si e não pelas aventuras que protagoniza. Foi assim comigo em relação ao Super-Homem, primeiro super-herói da minha infância, cujas histórias nunca foram estruturadas a primor, pois seu público pouco se preocupa com a qualidade da trama. Com relação a TEX, esse pecado nem de longe é cometido. A tessitura do enredo é tão magistralmente engendrada que as revistas de TEX capturam a atenção do leitor de tal modo que abandonar a leitura para retomá-la mais tarde torna-se um acto de difícil execução. O universo de TEX é de uma riqueza de detalhes e de uma densidade imaginativa jamais igualadas por outra criação do mundo encantado das Histórias em Quadrinhos. Quando li a minha primeira aventura de TEX, o clássico “Arizona em Chamas”, naquele momento eu já havia eleito TEX como meu personagem preferido da banda desenhada. Desalojei os super-heróis do alto do pódio e instalei definitivamente TEX WILLER. Além de tudo, TEX reúne, em sua idiossincrasia, todas as qualidades que edificam o carácter e a personalidade do Homem perfeito, um modelo a ser seguido e imitado.


Costuma encontrar-se com outros coleccionadores?
Celso Civera: Infelizmente, na cidade onde resido ainda não descobri outros coleccionadores de TEX, mas procuro prestigiar todo evento relacionado a Histórias em Quadrinhos. Nessas oportunidades, conheço e faço amizade com muita gente boa.

Para concluir, como vê o futuro do Ranger?
Celso Civera: Tenho plena convicção de que, como corolário do retumbante sucesso experimentado pelo nosso herói nos últimos 70 anos, TEX WILLER é um personagem eviterno: teve um início, mas jamais terá fim.

Prezado pard Celso Civera, agradecemos muitíssimo pela entrevista que gentilmente nos concedeu.

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima, clique nas mesmas)

Um comentário

  1. Que bela entrevista!… Seja bem-vindo, a esse mundo maravilhoso de Tex Willer, Celso Maurício!… E obrigado ao ZECA, por este blog existir!… Também já tive essa honra e um previlegio imenso de ser entrevistado por aqui!… Fiquei imensamente feliz quando fui convidado pelo nosso Zeca!!!

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