ENCRUZILHADA

Por Sérgio Madeira Sousa[1]

Almanaque Tex Nº32Almanaque Tex Nº32 não foi apenas mais um número desta excelente colecção. A história apresentada neste número, escrita por Guido Nolitta e desenhada por Erio Nicolò em 1979, que à semelhança de tantas outras, tinha sido ignorada pelas antecessoras da Mythos, foi agora publicada no Brasil.
Sasquatch” não é certamente uma das melhores histórias escritas pelo Nolitta, seria incompreensível que uma boa história escrita pelo inigualável Sergio Bonelli, tivesse passado despercebida durante 28 anos a todas as editoras que já publicaram Tex, no entanto, há que salientar a sua publicação uma vez que esta história, era a ultima atrasada, que ainda se mantinha inédita no Brasil.
A Mythos editora, que têm desenvolvido um trabalho notável desde que assumiu a publicação das revistas Bonelli no Brasil em 1999, com a publicação desta história, vê cumprido um dos objectivos a que se propôs: A publicação de todas as histórias atrasadas inéditas de Tex. Bravo!

Tex colecção iria cumprir este objectivo! Uma vez que publica todas as histórias por ordem cronológica e a manter-se, iria num futuro próximo, publicar todas as que foram deixadas para trás. Felizmente para todos os leitores do Ranger, a Mythos decidiu abreviar a publicação destas histórias ainda inéditas, noutras publicações: Tex Ouro, Mini Série e especialmente: Almanaque Tex.
Contudo, a inexistência de histórias atrasadas inéditas são agora um problema para a Mythos.
O que publicar em Almanaque Tex? E nas Mini Séries?
É verdade que ainda existe um desfasamento de cerca de doze números entre a edição brasileira e a italiana, que possibilitam a continuação da publicação de histórias inéditas no Almanaque e o lançamento de Mini Séries. Esta solução apenas serve para adiar o problema, uma vez que não é prudente que esse “fosso” seja inferior a 4 números, (qualquer atraso no envio dos originais italianos à Mythos poderá por em causa as datas de lançamento das revistas).

O signo da serpenteEsta colecção não publicou somente histórias inéditas; “El Muerto” e “O signo da serpente” foram as duas únicas excepções e apesar de serem duas histórias muito apreciadas no Brasil, (“O signo da serpente” foi inclusive a história seleccionada para dar conhecer Tex aos brasileiros em 1971), a introdução de “reedições”, fez com que muitos leitores mostrassem o seu descontentamento. Não vamos esquecer que existem cinco colecções que publicam as fases anteriores de Águia da Noite: Tex Colecção, Tex Edição Histórica, Tex Ouro, Tex Especial Férias e os Grandes Clássicos.

Por este motivo, parece-me claro que a manutenção destas colecções só é viável com histórias inéditas. Assim, o problema mantém-se, ou no imediato ou no muito curto prazo! O que fazer a estas duas publicações?
Policia apacheRelembro que, o “Almanacco del West” é de publicação anual e o número de 2007 já foi publicado em Almanaque Tex nº 33, com o título “Policia apache”.
Presumo que não reste outra opção à Mythos que não seja: Passar o Almanaque a anual e terminar a publicação das Mini Séries a curto prazo.
Esta opção coloca no entanto mais um problema à editora. Partindo do princípio que pretende manter o mesmo número de revistas anualmente nas bancas, a redução de cinco números do Almanaque e dois das Mini Séries em termos anuais, abre espaço para uma nova publicação bimestral. De referir ainda que o Tex gigante, que em vários anos viu publicado três números, actualmente apenas dois e assim que forem publicadas as histórias anteriormente publicadas pela Globo, tornar-se-á obrigatoriamente numa publicação anual, reduzindo ainda mais o numero de revistas Bonelli nas bancas e aumentando a necessidade da Mythos em lançar uma nova revista que preencha estas lacunas.

Coloca-se então a questão: Que publicação lançar para colmatar estas reduções? (A não ser que a Mythos opte por publicar Tex Ouro mensalmente como solução.)
Como já referi, existem cinco revistas que publicam reedições de Tex, algumas delas em exclusivo, será que os leitores estão receptivos a comprar uma nova colecção de Tex que publique apenas reedições? Apesar de ser coleccionador fanático do Ranger e comprar todas as suas publicações, não acredito no entanto, que esta opção seja viável.
Então, que outro herói da casa Bonelli poderá ganhar uma nova colecção?
Além de Tex, aquele que têm mais historial no Brasil é sem dúvida Zagor, onde é publicado desde 1978 apesar de algumas interrupções. Será que é chegada a altura de ver as suas histórias publicadas por ordem cronológica, à semelhança do que foi feito com sucesso com Tex, quer em Tex colecção quer na Edição Histórica? Eu, tal como todos os Zagorianos, espero ansiosamente pelo dia que isso aconteça, seja no Zagor colecção ou na Edição Histórica. É preferível no entanto, a Edição Histórica, como publicaria unicamente histórias completas, a periodicidade seria ajustada de acordo com a receptividade dos leitores.

ZagorÉ um facto que a Editora Record não teve sucesso com esta colecção, foi tentada em 1991 e viu prematuramente o seu cancelamento, logo após a publicação do sétimo número. No entanto, à que perceber as razões do insucesso:
– O Brasil vivia uma situação económica extremamente difícil, com uma inflação galopante em que todos os meses o preço das revistas subia drasticamente. Este cenário é muito diferente no Brasil actual, onde existe uma inflação controlada e uma moeda forte.
– As primeiras histórias, apesar de terem a assinatura do Nolitta, apresentam um Zagor diferente, quase um super herói e são dirigidas à gama de leitores infanto-juvenil. Os sete números publicados não foram suficientes para ultrapassar esta fase.

A questão do preço é outro dos factores a ter em conta. O preço seria elevado, mais elevado que o Tex Edição Histórica uma vez que a tiragem seria sem dúvida menor, tal como acontece nas edições mensais. E coleccionadores? Existem actualmente três colecções de Zagor, duas mensais e uma bimestral, (Zagor Especial), será que estes coleccionadores possuem disponibilidade financeira para adquirir mais um título?
Penso que todos concordam comigo quando refiro que a Mythos têm efectuado um trabalho memorável, mas para que esta colecção vá para a frente, devido às razões apresentadas, um trabalho fantástico poderá não ser suficiente. Então porque não inovar para ultrapassar estas questões?

Zagor e ChicoPublicar Zagor Edição Histórica em formato italiano, com capa plastificada, numa edição para coleccionadores, com uma tiragem limitada a vinte ou trinta por cento do usual nas publicações do Zagor.
A revista não seria distribuída nas bancas, seria vendida exclusivamente através do serviço de encomendas da Mythos, cortando assim com os custos de distribuição que seriam zero e anulariam o aumento de custo de uma tiragem tão limitada.
Esta forma de vender a revista, fora dos padrões tradicionais, provocaria um impacto muito positivo no serviço de números atrasados que a Mythos já possui, uma vez que grande parte dos compradores da revista, optaria por adquirir outras revistas para diluir o custo dos correios e tornar assim o custo unitário mais reduzido.

Penso que nestes moldes os riscos de insucesso seriam muito reduzidos e assim que a colecção adquirisse um número de vendas aceitável, que justificasse o aumento da tiragem, estudar-se-ia a possibilidade de venda pelos meios tradicionais.
Estou a correr o risco de ser novamente intitulado de ingénuo pelo editor, uma vez que a solução apresentada poderá não ser possível devido a contratos estabelecidos com o distribuidor ou outras razões que eu como leitor desconheço completamente.

Zagor e a tempestadeComo leitor e coleccionador apenas posso esboçar as minhas preferências, caberá ao editor em todo este leque de opções que se colocaram por ter publicado todas as histórias atrasadas de Tex ainda inéditas, escolher a opção mais acertada. Provavelmente e ao contrário do que eu penso, a publicação de Zagor Especial bimestralmente foi feita antecipando o menor numero de revistas nas bancas e não devido ao sucesso que a série estava a ter, resolvendo assim o problema por antecipação.
Zagor Edição Histórica será uma realidade, acredito sinceramente que está para breve, o personagem já merece uma colecção assim, tal como os seus leitores. Apenas espero que a Mythos pondere esta opção para a próxima colecção a lançar, eu e todos os Zagorianos agradecemos.


[1]Coleccionador de Tex desde 1980.

Fontes:
http://www.texbr.com/
https://texwillerblog.com
http://www.sergiobonellieditore.it/

3 Comentários

  1. Acho uma idéia válida, a sugestão de ZAGOR EDIÇÃO HISTÓRICA. Não sei se daria certo ser por encomenda; o frete poderia inviabilizar ao leitor que já paga um pouco caro pelas publicações da Mythos.

  2. Adorei a análise do Sérgio. Tomou como ponto de partida uma história de que gosto bastante e com o traço soberbo de Nicolò (terei sempre muitas saudades dele, do seu traço humanista e carregado de expressão), como foi muito mais longe e fez uma séria reflexão sobre o presente e futuro de Tex e da própria Mythos.

    Concordo globalmente com tudo o que diz e se é um facto que não sou um particular apreciador de Zagor, não deixa de ser verdade que uma possível solução para o imbróglio que se está a gerar com tantas publicações de Tex (das quais sou altamente crítico) pode passar exactamente pelo “Espírito da Machadinha”!

    Acredito e espero sinceramente que essa reflexão chegue aos ouvidos da Editora, para bem de todos!

  3. Muito bom o texto do amigo Sergio, acho que Zagor merece sim uma edição histórica ou coleção, desde que não sacrifique nenhuma das edições de Zagor já em bancas. A solução poderia ser o ZEH bimestral, em alternancia com o Especial.

    Abraços,
    Rod

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