Por Pedro Cleto*
Cair na realidade
Na prática, sejamos sinceros, isto é apenas um reflexo do seu verdadeiro peso económico e cultural no nosso país, pese embora o muito bom momento editorial que se tem vivido nos últimos anos.
[Começo com uma ressalva: só estive na CCP no sábado dia 14, e dediquei-me especialmente à BD e aos seus diversos agentes. E, já agora, também com uma lembrança: ao contrário do que muitos têm dito, a Comic Con NÃO é um evento de BD; é um festival de Cultura Pop, de que a BD é apenas um dos componentes, certamente não o mais importante e, menos ainda, o mais relevante em termos económicos.]
Comecemos pelo cartaz (de BD, claro): dois nomes grandes nas respectivas áreas, Ed Brubaker e Fabio Civitelli, que primaram pela disponibilidade e simpatia – e pela partilha do conhecimento que têm dos respectivos meios. Depois, Ivan Reis e Joe Prado, nomes de peso intermédio nos comics de super-heróis, o menos mediático Greg Tocchini e… mais ninguém. Ah! Também Patrícia Martins e Raul Allen… Desapareceram os bons nomes espanhóis, desapareceram completamente os franco-belgas… Em termos contabilísticos – e como este aspecto parece cada vez mais importante na Comic Con…. – 5 autores (ou 7…), que comparados com os 10 de há um ano atrás…
Curiosamente – dando assim razão à organização – a verdade é que as suas sessões não foram especialmente concorridas – com excepção de Brubaker – tendo Reis, Prado e Tocchini estado ‘às moscas’ no sábado, supostamente o dia das grandes enchentes, altura em que facilmente consegui os seus autógrafos. Em termos de comparação posso referir que em 2018, em que também só estive na Comic Con no sábado, só consegui os autógrafos dos autores que entrevistei em particular e com hora marcada aqui para o blog… Seria de esperar que menos autores provocassem mais afluência aos que estavam presentes, mas isso não aconteceu. Possivelmente, menos autores de BD levou a que houvesse menos visitantes interessados nesta área… Até porque a subida dos preços das entradas, também não convidava à comparência.
[Do que pude constatar, a pouca afluência às sessões de autógrafos e painéis foi mais ou menos geral. Eu próprio testemunhei o painel de Joaquim de Almeida muito despido de público… Diz a imprensa que só escapou a esta regra a jovem actriz de Strange Things, Millie Bobby Brown, cuja presença no domingo provocou mesmo desacatos devido à falta de lugares para todos os interessados. O que, diga-se de passagem, é uma situação normal e passível de acontecer, numa Comic Con, como num concerto ou num jogo de futebol…].
Cada um sabe de si, a resposta possivelmente terá um pouco de tudo isto. Mas a redução do número de stands com BD é inegável.

Positiva – muito positiva – continua a ser a aposta da organização nos Galardões BD, que distinguem as melhores edições lançadas no nosso país no ano anterior e que são os únicos troféus para a banda desenhada com um prémio monetário.
Relativamente aos outros aspectos da Comic Con, repetiram-se situações que já não são aceitáveis num evento com seis anos: falta de informação, online e no local, sobre os eventos, os seus horários ou as alterações sofridas; confusões com as datas de presença dos convidados; falta de sinalização, em quantidade e com visibilidade e deficiente identificação dos diversos espaços… Pode parecer pouca coisa, mas são ‘muitas poucas coisas’ que, em conjunto, representam uma ‘coisa muito grande’. E que tem reflexos muito significativos na opinião com que o visitante sai do evento e expressa depois – ou durante… – nas redes sociais. E como é tão fácil criticar e tão difícil elogiar!

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*Pedro Cleto, Porto, Portugal, 1964; engenheiro químico de formação, leitor, crítico, divulgador (também no Jornal de Notícias), coleccionador (de figuras) de BD por vocação e também autor do blogue As Leituras do Pedro (http://asleiturasdopedro.blogspot.com/).