AS VÁRIAS FACES DE TEX WILLER

Por Thiago Gardinali*

Um tesouro secreto escondido em um templo sagrado que é descoberto e mostrado pela primeira vez. Isso poderia ser o argumento de uma história de Tex, mas trata-se de um acontecimento real, onde o tempo sagrado é uma fumetteria em Nápoles e o tesouro secreto é o resultado de um dedicado trabalho de pesquisa de um fã e colecionador.

Thiago Gardinali com Francesco Ruggieri em uma fumetteria de Nápoles

Em minha peregrinação pelo universo da banda desenhada na Itália, posso dizer que me surpreendi em muitas ocasiões. Fui a muitas lojas especializadas, eventos, festivais, lançamentos, conheci leitores, autores e editores e comprei centenas de edições. Mas resolvi reservar este espaço em especial para compartilhar com todos os fãs de Tex uma descoberta que fiz em território napolitano. Foi em uma das diversas fumetterie que visitei onde conheci Francesco Ruggieri, um simpático colecionador aficionado por Tex. Conversamos bastante sobre as histórias, os artistas, os recentes lançamentos, a expectativa quanto aos 70 anos do ranger… até que, em um dado momento, ele me disse que queria me mostrar algo e foi até uma sala nos fundos da loja. Imaginei que iria buscar alguma revista, pois estávamos folheando e analisando várias publicações. Eis que Francesco volta com um grande canudo de papel e começa a desenrolá-lo na minha frente. Era realmente um grande tesouro, uma iniciativa inédita que merecia ser divulgada. Uma comparação de vários rostos de Tex, cada um resultado do trabalho de um desenhista diferente. Em 2008, ocasião dos 60 anos de Tex, Francesco teve a dedicação, empenho e paciência em levantar todos os desenhistas que até aquele momento haviam produzido histórias do personagem e selecionar uma face desenhada por cada um. Para isso, teve que analisar toda a história editorial de Tex, página por página, para então escolher o melhor ângulo que possibilitaria a comparação dos traços. Digitalizou, tratou as imagens e montou um belíssimo quadro comparativo, onde é possível notar as semelhanças e diferenças entre os vários desenhistas.

Quarenta e nove homens, um rosto – Tex Willer

Uma tarefa que durou seis meses de pesquisa diária, mas que ficou por quase dez anos guardada, sem nunca ter sido divulgada. Mas por qual motivo? Passado o entusiasmo inicial de apreciar e ter em mãos aquele precioso cartaz, este foi o meu questionamento a Francesco. E a resposta foi mais simples do que eu poderia imaginar. O sonho dele era que seu belo trabalho chegasse às mãos de alguém na Sergio Bonelli Editore para, quem sabe, pudesse ser publicado em alguma revista. Mas a distância e a falta de contatos fez com que isso não se concretizasse, e o tesouro ficou lá guardado… até agora! Com a publicação deste artigo aqui na revista do Clube, o esforço de Francesco será conhecido por muitos e, quem sabe, o estimule a elaborar um novo cartaz, desta vez em comemoração aos 70 anos de Tex? A seguir, reproduzo a entrevista que gravei em vídeo como nosso amigo napolitano.

Galleppini 1948, Uggeri 1951, Raschitelli/Galep 1966, Ticci 1967, Fusco 1986 e Letteri 1987

Thiago Gardinali: Há quanto tempo você é leitor de Tex?
Francesco Ruggieri: Comecei a ler Tex em 1975 e nunca mais parei. Tenho todas as coleções completas e gosto muito do personagem.

TG: E como surgiu a ideia de fazer este grande quadro comparativo com os rostos de Tex?
FG: Isso foi no ano de 2008, ocasião em que Tex completava 60 anos. Como fã, sempre lendo e relendo as histórias, tive a curiosidade de comparar as diferenças de traços dos desenhistas que tinham feito Tex até então. Queria analisar qual Tex era o mais bonito, qual era o mais violento. Aí pensei que observar edição por edição poderia ser confuso e que o melhor seria fazer um apanhado geral e colocar todos juntos. Foi então que comecei a escolher detalhadamente os melhores rostos para escanear e montar o quadro.

TG: Mas você analisou todos os desenhistas?
FG: Sim, analisei todos os 49 desenhistas que, até aquele momento em 2008, haviam desenhado Tex. Fiquei durante seis meses, quatro horas por dia, revirando todas as minhas coleções até achar o melhor ângulo de cada um dos desenhistas para o rosto de Tex.

Jeva/Galep 1953, Galleppini 1953, Fusco 1974, Nicolò 1974, Buzzelli 1988 e Ticci 1988

TG: Depois de terminada a pesquisa, a qual conclusão você chegou sobre as diferenças de traços dos desenhistas de Tex?
FG: Tem muita coisa interessante a ser observada entre os desenhistas e também na evolução de cada um deles. Por exemplo, o Fusco quando mais jovem desenhava um Tex mais “limpo”, com traços mais simples. Depois de alguns anos, o Tex dele ficou mais “sujo”, mais western. A arte de Galep também é interessante de ser analisada, do início da carreira aos seus últimos anos. E quanto aos diversos desenhistas, o quadro fala por si próprio. É o mesmo Tex, mas interpretado por traços diferentes.

TG: É verdade que a sua paixão por Tex já foi motivo de briga com a sua sogra?
FG: Hahaha… essa história é engraçada. Quando eu conheci a minha esposa, já era fã e colecionador de Tex há algum tempo. E isso incomodava muito a minha sogra. Ela não se conformava que a filha namorasse com um homem que lia revistas em quadradinhos. Dizia que era uma perda de tempo e que minha coleção era uma porcaria… isso tudo em dialeto napolitano! Eu me casei e toda vez que ela ia em casa, não perdia a oportunidade de me criticar, era um inferno. Até que um certo dia, o meu sogro, de tanto ouvir os xingamentos sobre as minha coleção, ficou curioso e me pediu um Tex emprestado. Resultado: começou a ler um atrás do outro, virou fã e resolveu montar a sua própria coleção. Minha sogra mordeu a língua… além do genro, também o marido passou a ser leitor de Tex. Foi a minha vingança!

TG: Por que você gosta tanto de Tex?
FG: Não tem um porquê específico. Apenas gosto. Tex é fantástico, um personagem único e eu realmente gosto muito.

Calegari/Biglia/Copello 1994, Capitanio 1995, Kubert 2001, Venturi 2001, Ambrosini 2005 e Rossi 2005

* Texto de Thiago Gardinali publicado originalmente na Revista nº 7 do Clube Tex Portugal, de Dezembro de 2017.

(Para aproveitar a extensão completa das imagens acima clique nas mesmas)

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