As Resenhas de Rafael*
Maxi Tex nº 6: A grande conspiração
Roteiro: Claudio Nizzi
Arte: Giancarlo Alessandrini
276 páginas
Editora: Mythos
Tramas políticas são uma das marcas da longa saga texiana. Exemplos não faltam: “Complô em Washington“, escrita por Gianluigi Bonelli e com lápis de Letteri, de 1979; “Os Homens que Mataram Lincoln“, da dupla Nizzi e Ortiz, publicada em 1998; e “Testemunha de Acusação“, com roteiro de Claudio Nizzi e arte de Victor De La Fuente, editada originalmente em 2000.
A história “A Grande Conspiração“, publicada em Maxi Tex nº 6 da Mythos Editora, segue essa tradição, inclusive explorando um pano de fundo recorrente nessa espécie de subgênero nas aventuras do ranger: a corrupção forjada pelo conluio entre políticos e empresários que, partindo da capital americana, alcança as áridas paisagens do Oeste americano. Geralmente, os planos envolvem imputar aos indígenas alguma prática dolosa, de forma a justificar sua expulsão dos territórios que são alvo de cobiça, ou forçar um embate com forças militares, para que, assim, possam explorar as reservas em nome do lucro e do progresso.
Tex Willer, como sabemos, é a ponte entre os dois mundos, qual sejam, o do branco colonizador e o nativo americano. E costuma agir como mediador, acomodando as forças em conflito, embora assuma, antes de tudo, seu papel de guardião dos navajos – e, por conseguinte, dos povos nativos em geral. Todos esses elementos são habilmente manipulados por Claudio Nizzi nessa trama, que talvez seja o seu melhor trabalho desde o celebrado retorno ao universo de Tex.
Aqui reencontramos Ely Parker, figura histórica recorrente nas histórias do ranger. Descobre-se, de início, sobre sua vinda para o Arizona, de modo a vistoriar algumas reservas. Mas a viagem é cercada de mistérios, como Tex e seus pards percebem pelo telegrama que recebem daquele que desempenha a função de comissário para assuntos indígenas. Nele avisa de sua presença e os convida para acompanhá-lo, uma vez que Parker suspeita de ameaças contra sua própria vida. Como Kit Carson observa após ler a mensagem, “o mundo político de Washington é uma selva mais perigosa do que aquela dos animais de quatro patas”.
E não está enganado, pois na sequência já somos apresentados ao numeroso grupo que promove antagonismo à atuação do comissário. Liderados pelo senador Wallace, que cobiça o cargo ocupado por Ely Parker, eles arquitetam não apenas o seu fim, como também manipulam os fatos para que os navajos sejam imputados pela morte dele, de modo a se livrarem de qualquer responsabilidade pelas ações em curso. De seu gabinete na capital americana, Wallace movimenta as peças no tabuleiro, que vão desde um rico empresário do setor ferroviário, passando pelos comparsas do plano em Flagstaff, local do ataque planejado contra Ely, e chegando até Corvo Vermelho, renegado navajo que, corrompido pelos fartos dólares do senador, aceita participar do atentado.
À frente do seu bando, Corvo Vermelho perpetra um violento ataque ao trem no qual Ely Parker viaja, na companhia de seu secretário e dois seguranças da agência Pinkerton, o sequestrando e levando para o cativeiro, num rancho próximo. Ao descobrir tal patifaria, Tex, na companhia de Carson, Jack Tigre e seu filho Kit Willer, partem no encalço do indígena, começando uma verdadeira caçada aos responsáveis antes que o pior aconteça. E o tempo, nesse caso, é extremamente valioso, uma vez que seus adversários ocultos agem sem perder um minuto sequer.
Wallace, ao confirmar o sucesso do atentado, mobiliza de imediato seus associados em Flagstaff, como o banqueiro Griffith, para que iniciem pela imprensa a campanha contra os navajos, manipulando a opinião pública em prol da intervenção do exército. Não tarda e o coronel Grossman entra em cena, buscando a glória ao vislumbrar o extermínio dos índios. Apenas duas coisas podem impedir o senador de alcançar êxito em seu plano sujo: o resgate de Ely Parker por Tex e a divulgação de um documento comprometedor, elaborado pelo comissário, elencando os negócios espúrios de seu adversário. A procura por esse papéis corre em paralelo, tendo Washington como palco, e gerando inesperadas reviravoltas na trama.
Ainda que o roteiro tenha um mote já conhecido pelos leitores, ele é desenvolvido de forma coesa e instigante. A trama se movimenta em várias frentes, trazendo a tensão necessária para nos prender até a última página. Embora partam juntos no rastro de Corvo Vermelho e seu bando, os pards logo se dividem, conforme o caso se complica. Enquanto Jack Tigre e Kit Willer farejam o paradeiro de Ely Parker pela região, Carson volta para Flagstaff em busca de pistas e suspeitos, cabendo a Tex acompanhar os passos do exército na reserva navajo, de modo a evitar que um eventual conflito ecloda.
Nesse ponto, é interessante observar que nosso herói passa quase toda a ação com sua indumentária de Águia da Noite. Uma declaração de liderança, mostrando que o chefe branco dos navajos está disposto a tudo para protegê-los.
O enredo de Nizzi é trabalhado na arte por Giancarlo Alessandrini, que tem sua carreira marcada pelo trabalho na série “Martin Mystère”. Seu traço característico talvez não agrade aos texianos mais tradicionalistas, mas a dinâmica imposta no seguimento dos quadros revela um mestre seguro em seus domínios. Esse sexto volume de “Maxi Tex” sacramenta a mudança para o formato italiano da série, que até o número 5 tinha sido publicado no famigerado formatinho, em papel jornal.
* Rafael Machado é professor, escritor e jornalista. Publica suas resenhas no perfil do instagram “Leituras do Exílio“, além de colaborar com o sítio “Quinta Capa”.
(Imagens disponibilizadas pela Mythos Editora; clicar nelas para as apreciar em toda a sua extensão)
Review instigante e muito bem embasada, fez-me lembrar direitinho da aventura lida. Aliás, tal e qual o Rafa falou, uma grandíssima história; eu que não sou um do séquito do Nizzi, me surpreendi positivamente, apesar de só ter comprado o álbum por conta da arte do Alessandrini, de quem sou fã desde Ken Parker.
Parabéns, Rafão!
Lembrando que a Mythos está republicando todas as edições de Maxi Tex no formato italiano esse mês.
Não gostei dessa edição, a história não me agradou e a arte, apesar de não ser feia, parece que não se encaixou no universo Tex, uma pena.